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O que é o verdadeiro cristianismo?

por T. Austin-Sparks

Capítulo 2 - O Que é o Verdadeiro Cristianismo?

Já avançamos bastante na abordagem de nosso assunto e não podemos retomar tudo de novo. Gostaria apenas de relembrar o asslaeunto com o qual temos nos ocupado nesta oportunidade. Já afirmamos que este assunto tem sido a mais vital das questões na história do cristianismo. Trata-se de fazer a seguinte pergunta: o que é o verdadeiro cristianismo? Em que consiste aquilo que invadiu o mundo na vinda de Jesus Cristo?

Uma imensa batalha foi travada em relação a esta questão na época dos apóstolos. Hoje em dia, no que tange à natureza desta questão, a batalha continua. Ela assumiu uma forma peculiar no tempo dos apóstolos. Naquele momento, a questão era: judaísmo ou cristianismo? Depois daquela época, a questão deixou de ser entre judaísmo e cristianismo, mas ao longo da história e até hoje, tudo permanece igual em termos de princípio. A questão é a seguinte: o cristianismo é um sistema legal ou um movimento espiritual que veio do céu?

Já vimos que a batalha e a questão que a suscitou foram concentradas pelo apóstolo Paulo em sua breve carta aos Gálatas. Por sua vez, esta carta está concentrada em uma única expressão que o apóstolo emprega no início: “O evangelho que vos temos pregado” (Gl 1:8). Também vimos que a palavra “evangelho” não se refere a algo destinado apenas aos não-salvos. Esta palavra compreende tudo que está no Novo Testamento. Este é o primeiro aspecto básico que precisamos entender: o significado abrangente do evangelho. Ele não trata apenas de boas-novas para o mundo e para os não-salvos, mas também de boas-novas de Deus com relação a Seu Filho para o povo de Deus. Portanto, nós dedicamos algum tempo tratando da natureza do evangelho.

Também havíamos mencionado que havia um segundo aspecto básico que precisamos observar antes de estudar o conteúdo da epístola aos Gálatas. Esta carta está profundamente enraizada neste aspecto particular, que diz respeito ao próprio Paulo e a base de seu apostolado.

A Pessoa de Paulo e a Base do Seu Apostolado

Eu ficaria muito satisfeito de saber que esta carta está bem viva em suas mentes. Eu também ficaria muito satisfeito de saber que, após termos passado pela primeira sessão, vocês tenham sido encorajados a ler toda a carta novamente. Quero sugerir que vocês leiam esta carta diariamente, enquanto estivermos tratando desse assunto. Creio que isso vai ajudar-nos bastante.

Se você está bem familiarizado com a epístola aos Gálatas, certamente já notou o papel de destaque que o apóstolo Paulo assume nela. Ele fala muito sobre si mesmo e sobre seu apostolado. Existe um sentimento de que há um homem por trás da carta. Isso significa que há um homem por trás do evangelho. A expressão pessoal do apóstolo adquire uma dimensão muito grande. Contudo, há um propósito para isso, que certamente não é Paulo buscando glória para si mesmo. O propósito não é magnificar a Paulo, mas magnificar a Jesus Cristo. Isso é comprovado pelo fato de que, numa carta tão breve, o nome “Cristo” ocorre 43 vezes. Voltaremos a esse ponto mais tarde, pois agora o mencionamos com a única intenção de colocar Paulo em segundo plano e deixar Jesus Cristo à frente.

A razão para o destaque dado ao apóstolo nesta epístola é justamente a questão da grande mudança que estava sendo operada em seu tempo. Essa tremenda mudança no plano histórico e espiritual em todas as eras estava concentrando-se sobre esse homem, Paulo. Não era seu desejo que fosse assim. Ele certamente preferiria que isso ocorresse de outro modo. Paulo não queria ser a figura de destaque nesta controvérsia. Contudo, seus oponentes acabaram por fazê-lo a figura central da discussão. Eles diziam que Paulo não tinha o direito de pregar aquilo que estava pregando. Eles colocavam Paulo em oposição a Moisés e Moisés em oposição à Paulo.

Eles estavam dizendo que Deus sempre se referira a Moisés como “meu servo”. Isso implicava que, segundo as Escrituras, Moisés era o servo aprovado do Senhor. Nessa condição, Moisés trouxe todo o sistema do Antigo Testamento. Ele foi o autor do sistema da lei. Além disso, ele registrou as Escrituras enquanto Deus lhe ditava, ou seja, Deus disse verbalmente a Moisés o que escrever. Portanto, o Antigo Testamento foi inspirado verbalmente por Deus. Isso significa que o sistema judeu foi inspirado por Deus. Por meio de Moisés, Deus nos deu o grande sistema de adoração que temos no livro de Levítico.

Todos estes pontos nos permitem ver que os oponentes de Paulo pareciam ter argumentos muito fortes contra ele. Eles diziam que Paulo negava tudo isso. E Paulo de fato disse que tudo isso estava acabado. Tomemos como exemplo a questão da circuncisão, a qual eles enfatizavam. Segundo os oponentes de Paulo, a circuncisão é muito importante, tendo sido estabelecida por Deus e fundamentada no relato inspirado do Antigo Testamento. Segundo eles, a Bíblia dizia que a circuncisão tinha grande valor. Mas este homem chamado Paulo deliberadamente diz: “a circuncisão não tem valor algum”. Então eles concluíam que Paulo estava contradizendo as Escrituras e provando que não acreditava na sua inspiração. Os oponentes de Paulo não pararam neste ponto, mas foram mais longe. Eles não apenas atacaram seu ensino, mas também o atacaram pessoalmente.

Você sabe que numa causa maldosa sempre há uma arma maldosa. Sempre que há uma causa maldosa, logo surgem os ataques pessoais. Deixa-se de atacar o que a pessoa ensina para atacar a própria pessoa, com o fim de desacreditá-la. Foi isso que os oponentes de Paulo fizeram, dizendo que ele não era um verdadeiro apóstolo. O máximo admissível é que ele era um apóstolo inferior aos outros apóstolos. Eles também disseram que Paulo era um falso mestre, que sua doutrina não era íntegra e que ele era um homem perigoso. Dessa maneira, eles tentaram minar o ministério de Paulo.

Por meio disso você pode ver quão proeminente era o lugar que Paulo ocupava nessa grande discussão histórica e espiritual quanto à verdadeira natureza do cristianismo. O fato de que os poderosos oponentes de Paulo dirigiram o foco de atenção sobre sua pessoa acabou por extrair de Paulo um testemunho pessoal. É neste testemunho que encontramos a própria essência do cristianismo. Nele encontramos o vinho novo que romperá com os odres velhos. Aqui temos a vestidura nova que Paulo não tentará remendar. Em seu testemunho, temos aquilo que constitui a nova era na qual vivemos.
 
Diga-se de passagem que devemos agradecer muito aos inimigos de Paulo. Temos que agradecer a estes inimigos pela grande luz que emergiu dos sofrimentos do apóstolo. Temos que agradecer a estes inimigos pela grande emancipação do cristianismo de um sistema legal e morto. Deus transformou a perseguição de Paulo em um ganho maravilhoso para toda esta dispensação. As coisas frequentemente acontecem assim: Deus obtém o vinho puro no lagar. Naquele lugar, as uvas tem que ser esmagadas e partidas. À partir disso, o vinho puro do reino fluirá. Foi assim que aconteceu no caso de Paulo.

É preciso entender claramente que a batalha não era entre Paulo e os judeus, mas entre a tradição e a espiritualidade. Paulo somente entrou neste combate porque percebeu a diferença e passou a falar sobre aquilo que tinha visto. Desse modo, podemos entender a resposta pessoal de Paulo aos gálatas.

Antes de irmos adiante, preciso adicionar algo que é muito importante para fechar este aspecto do grande assunto que estamos considerando. Será que o apóstolo Paulo foi um vaso especialmente escolhido para este propósito?  Será que ele tem uma posição particular em relação à presente dispensação? Desde aqueles dias, Paulo tem sido alvo de violentos ataques. Teólogos modernistas e liberais tem atacado Paulo, afirmando que ele não é um verdadeiro intérprete de Cristo. Dentre todos os homens na Bíblia, não há personalidade mais controversa do que o apóstolo Paulo. Mesmo aqueles que aceitariam a Jesus com restrições, não aceitariam a Paulo de modo algum. Portanto, temos que resolver essa questão: qual é a relação deste homem para com toda a presente dispensação?

Enquanto não pudermos responder com clareza esta pergunta, não poderemos entender o ministério de Paulo. Afinal de contas, todo o seu ministério converge nesse único tema: a natureza espiritual e celestial na nova dispensação que foi introduzida com Jesus Cristo.

Portanto, precisamos considerar o apostolado de Paulo. Mas lembremo-nos de que, ao fazer isso, estaremos pensando em nosso tema principal, que consiste:

A Natureza Espiritual e Celestial da Presente Dispensação

Os princípios do apostolado de Paulo constituem o real fundamento da dispensação em que vivemos.

Vejamos o que nos dizem dois trechos da epístola aos Gálatas, no capítulo 1, verso 11: “Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem, porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo.”
 
Capítulo 2, verso6: “E, quanto àqueles que pareciam ser de maior influência (quais tenham sido, outrora, não me interessa; Deus não aceita a aparência do homem), esses, digo, que me pareciam ser alguma coisa nada me acrescentaram
 
Estes dois trechos resolvem a questão acima referida. Qual é a origem do apostolado de Paulo?  “Não segundo homens, nem recebido por meio de um homem.  Nada recebi de homens, mas mediante revelação de Jesus Cristo.” Qual é o significado destas afirmações?

Ao chegarmos nesse ponto, necessito fazer um pedido. Estamos tratando deste assunto e talvez você considere que estou fornecendo algum ensino. Talvez você lembre deste tema que estamos tratando no futuro como um ensino sobre um assunto especial. Evidentemente, existe ensino no que estamos compartilhando, e este ensino está focalizado num assunto específico. Contudo, gostaria de dizer-lhe enfaticamente que as coisas que estou dizendo não são um código de verdades, mas sim um testemunho de nosso fundamento. Trata-se de um teste quanto ao fundamento no qual você está individualmente firmado. Portanto, não se trata de termos uma série de mensagens para recebermos ensino, mas de um desafio vital para nossa posição espiritual. Afirmamos anteriormente que, num certo sentido, toda a presente dispensação está focalizada na experiência espiritual do apóstolo Paulo. Isso acontece com ele de uma forma tão plena como em nenhum outro caso, a não ser o próprio Senhor Jesus. Se isso que afirmamos é verdade, então aquilo que dissermos sobre o apostolado de Paulo é fundamental para nossas próprias vidas espirituais.

Que significado tem para nós a origem do apostolado de Paulo? Ela significa que a realidade básica da presente dispensação é um encontro pessoal e direto com Jesus Cristo.

Preciso repetir essa afirmação, pois é um ponto de fundamental importância do qual todas as demais coisas virão. A realidade básica da dispensação na qual vivemos é um encontro pessoal e direto com Jesus Cristo. Trata-se de algo entre a pessoa de Cristo e nós, pessoalmente. É algo direto, pois não se dá por meio de um homem, nem por meio de um sacerdote ou qualquer outro tipo de intermediário. Não ocorre por meio de um ritual, nem por meio de um sistema ou por meio do homem. É algo direto entre Cristo e nós. Fracassaremos para com o propósito desta dispensação se não formos capazes de dizer: “Foi assim que aconteceu conosco”. O método pelo qual Paulo teve sua experiência e nós tivemos a nossa pode ser diferente, mas cada um de nós deve ser capaz de dizer individualmente: “Eu encontrei a Jesus Cristo e Jesus Cristo me encontrou diretamente. Homens podem ter ajudado, mas eu não recebi tal coisa de homens. Não o recebi nem mesmo daqueles grandes homens que estavam em Jerusalém. Não o recebi dos grandes expoentes do cristianismo. Eu o recebi de forma direta e pessoal do próprio Senhor.”

Isso é algo muito penetrante, que não deixará de expor a nossa condição. À partir disso, algumas questões surgem. Como foi que nós obtivemos aquilo que temos? Você está preparado para meditar sobre essa pergunta? Como foi que eu obtive o meu cristianismo? Como foi que alcancei aquilo que tenho hoje? Como foi que isto veio até mim? Será que eu o obtive pelo meu raciocínio? Pensei sobre este assunto da vida cristã, chegando a uma conclusão intelectual que, comparada com todas as outras coisas que conhecia, pareceu ser a melhor opção. Então decidi em minha mente que o cristianismo era a alternativa correta. Será que foi apenas uma conclusão intelectual? Será que foi assim comigo? Será este o fundamento sobre o qual estou apoiado?

Será que a vida cristã que tenho veio a mim por meio de uma personalidade forte? Posso ter conhecido algum mestre ou algum líder dotado de uma personalidade muito forte e ter ficado sob o impacto daquela personalidade. Nesse caso, eu teria recebido meu cristianismo por meio da personalidade forte do homem. Será que este é o fundamento sobre o qual você está firmado?  Será que ele veio por meio da persuasão de outras pessoas? Elas me disseram que eu deveria achegar-me a Cristo e insistiram nisso até que, um dia, eu deixei-me levar pela persuasão deles. Portanto, eu passei a professar o cristianismo, fui batizado e este é o fundamento no qual estou firmado.

Como obtivemos aquilo que temos? Isso vai decidir todas as coisas no futuro. Mais cedo ou mais tarde, as pressões da vida se lançarão sobre a nossa posição. O Senhor permitirá que a posição que assumimos seja testada em meio ao fogo. Seu objetivo ao fazer isso é identificar com precisão o fundamento no qual estamos apoiados.

Portanto, Paulo disse: “Eu não o recebi de homens, nem de um homem em especial. Pedro pode ter sido um homem muito importante, mas eu não o recebi dele. Tiago pode ter sido o irmão do Senhor na carne, e ele O conhecia muito bem, mas o que tenho não recebi dele. João foi um discípulo marcado por sua devoção e amor, além de ter sido um dos três primeiros discípulos, mas eu também não obtive o que tenho dele. Estes homens nada me acrescentaram, pois eu recebi por revelação direta de Jesus Cristo.” Esta é a base da presente dispensação. Esta é a base do verdadeiro cristianismo espiritual. Esta é a grande marca que distingue um sistema legal de uma vida espiritual.

Seguindo adiante, temos que considerar

A Crise que se Desenrolava por trás do Apostolado de Paulo

Queremos permanecer no âmbito da epístola aos Gálatas e, nesse momento específico, queremos permanecer na esfera do testemunho de Paulo, pois seu testemunho é a base do que estamos considerando.

Por trás do apostolado de Paulo ocorria uma crise tremenda. Vejamos Gálatas 1:13: “Porque ouvistes qual foi o meu proceder outrora no judaísmo, como sobremaneira perseguia eu a igreja de Deus e a devastava. Você precisa pronunciar isso com bastante ênfase, pois foi assim que Paulo o disse. Imagine Paulo dizendo esse tipo de coisa: “meu proceder no judaísmo”! Paulo era judeu de nascimento, havendo sido criado e guardado no judaísmo. Eu gostaria de contemplar sua expressão facial quando ele disse: “no judaísmo” ou seja, “na religião dos judeus”. Isso descreve como Paulo vivia no passado. O que ele diz em seguida? “Eu sobremaneira perseguia o cristianismo?” “Eu perseguia a religião cristã?” Não! Ele diz o seguinte: “Eu perseguia a igreja de Deus e a devastava; no judaísmo, eu progredira mais do que muitos de meus conterrâneos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais”. É necessário que você ponha suficiente ênfase sobre tudo isso e perceba o que todas estas coisas significavam para Paulo, ou Saulo de Tarso, como era antes conhecido. Caso contrário, você não terá condições de avaliar a tremenda crise que ocorreu em sua vida e que estava por trás de seu apostolado.

Veja bem: o que ocorrera era uma crise, e não um desenvolvimento. Tratava-se de uma crise, e não de uma evolução. Foi algo súbito que aconteceu num momento específico. Houve uma crise na vida deste homem. Esta crise resultou na divisão de toda a sua vida entre o que ficara no passado e o que estava no futuro. Para ele, isso significava o término de todo um sistema e o princípio de um nova ordem totalmente celestial. Retornaremos a este ponto mais adiante.

O próximo aspecto a ressaltar relaciona-se com algo que já abordamos: o ato soberano de Deus. Jesus Cristo levantou-se de Seu trono na glória e veio diretamente encontrar-se com este homem. Portanto, foi uma ação soberana do céu. No entanto, ao mesmo tempo, havia algo sobre o qual Deus podia operar. Havia algo nesse homem que forneceu ao Senhor a base para atuar. Não se tratava de mérito, mas havia algo naquele homem. De que se tratava?

Peço que todos prestem muita atenção nisso: Deus encontrou um lugar para operar neste homem porque ele era um homem que levava Deus a sério. Você deve lembrar que embora Saulo de Tarso estivesse fazendo a coisa errada, ele o fazia de acordo com a luz de sua consciência. Posteriormente, ele afirmou que fez isso em ignorância, pensando que estava servindo a Deus. Embora sua mente estivesse em trevas e sua conduta fosse equivocada, ele era um homem que levava Deus a sério. Em sua ignorância, ele fazia aquilo para Deus. Ele pensava que aquilo era o que Deus desejava. Em um sentido, Saulo tinha um coração por Deus, e nisso não havia erro algum. Seu zelo, como ele mesmo o descreve, era muito grande por aquilo que ele acreditava ser para o Senhor. Portanto, havia uma base sobre a qual Deus podia operar.

Guarde bem isso: aqueles que são indiferentes e não se importam muito nunca irão longe com o Senhor. Se as coisas não são muito importantes para nós, o Senhor também não se importa muito. Existe um versículo no Antigo Testamento que diz: “Para com o benigno, benigno te mostras; com o íntegro, também íntegro. Com o puro, puro te mostras; com o perverso, inflexível” (Salmo 18:25-26). Deus será para nós aquilo que nós somos para Ele. Se somos indiferentes, se não nos importamos muito, se somos descuidados, o Senhor não virá a nós do modo como veio a Paulo.

Se você observar aqueles homens e mulheres que tiveram grande valor diante de Deus, notará que no início de sua caminhada houve uma crise muito séria. Algumas dessas pessoas passaram por dias, semanas e meses de dores de parto espirituais até o término da crise. Eles choraram diante de Deus dia e noite, mas parecia que Deus não estava percebendo nada. Chegou o momento em que aquilo tornou-se uma agonia absoluta, de modo que eles chegaram ao ponto de preferir a morte do que estar sem a presença de Deus. O que o Senhor estava fazendo por meio disso? Ele estava obtendo a base da realidade. Ele estava testando estas pessoas para saber se elas O queriam apenas para seu próprio benefício e satisfação ou se O queriam por causa de Sua própria pessoa.

Um jovem muito rico veio a Jesus e disse-lhe: “Bom mestre, que posso fazer para herdar a vida eterna”? A impressão que recebemos é como se Jesus fizesse um jogo com ele. Primeiramente, Ele disse: “Por que me chamas bom? Só há um que é bom, o qual é Deus. Há um teste muito real na afirmação que você fez. Você percebe que Eu sou Deus? Você está me colocando no mesmo plano que Deus? Só há um bom, o qual é Deus”. Então o Senhor prosseguiu: “Você sabe o que está escrito na lei: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e amarás o teu próximo como a ti mesmo”.

Com essa pergunta, o Senhor está buscando expor o interior desse jovem. Ele responde: “Tudo isso tenho observado desde a minha juventude”. Muito bem, uma vez que o jovem disse isso, veremos sua resposta ser submetida ao teste imediatamente. “Vai, vende tudo o que tens, dá aos pobres e segue-me. Venha e siga-me sem trazer coisa alguma. Siga-me sem um centavo no bolso e sem reputação. Será que a vida eterna é mais importante do que tudo o que você pode ter neste mundo?” Aqui você nota que o Senhor havia achado o ponto específico. A pergunta foi: “O que devo fazer para alcançar a vida eterna?” A resposta do Senhor foi: “Por que você quer a vida eterna? Será que ela é mais importante para você do que todas as coisas desse mundo? Você está preparado para deixar todas as coisas desse mundo para trás pela vida eterna?” O jovem baixou sua cabeça, soltou os braços, deu meia-volta e, silenciosamente, retirou-se. Você percebe qual é o ponto principal nessa situação? O Senhor deseja saber se nós realmente o levamos a sério.

Não alcançaremos nada a menos que levemos Deus realmente a sério. Pode ser que estejamos errados em nossa maneira de viver. Pode ser que nossas mentes estejam em densas trevas mas, ainda assim, podemos estar mostrando que levamos a sério o nosso Deus. O encontro com Saulo foi um ato soberano de Deus, mas o Senhor tinha uma base em sua vida no qual Ele podia operar. O zelo de Saulo, embora desorientado, tinha significado para Deus.

Qual é nossa atitude para com o Senhor e para com as coisas do Senhor? Será que estamos com o coração dividido nesse assunto? Será que estamos sonolentos? Ou será que estamos indo adiante com força total, dizendo: “Irei alcançar aquilo que o Senhor quer para mim. Não importa o quanto isso me custe, meu coração está colocado naquilo que o Senhor quer para minha vida.” Essa é a crise que há por trás de Paulo.
 

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