por
T. Austin-Sparks
Capítulo 6 - A Vida Triunfante sobre a Morte
João 6
Podemos notar que as duas partes principais desse capítulo estão relacionadas ao alimentar da multidão, e ao fato do Senhor ter se autodenominado o Pão da Vida.
Buscando reconhecer as grandes verdades e leis trazidas no Evangelho de João, encontramos uma verdade no cerne do capítulo seis, que é um testemunho presente e contínuo da vida triunfante sobre a morte. Talvez isso possa ser novo para muitos, alguns podem não ter lido o capítulo citado, mas acredito que basta uma breve indicação e rapidamente será possível reconhecer que é esse o assunto principal.
Primeiramente, deixe-me dizer que a palavra “vida” aparece pelo menos onze vezes nesse capítulo, nos versos 27, 33, 35, 40, 47, 48, 51, 53, 54, 63 e 68. O verbo “viver” é citado quatro vezes; o adjetivo “vivo” três vezes; “não morra” [ou “não pereça”, como está na versão em português ARA] aparece uma vez, no verso 50; e “ressurreição” é mencionada quatro vezes, nos versos 39, 40, 44 e 54. Por outro lado, a palavra “morte” aparece duas vezes, nos versos 49 e 58. Isso nos traz forte indicação que vida e morte tem um lugar importante nesse capítulo. Estamos prestes a descobrir que temos diante de nós a verdade da vida triunfante sobre a morte, ainda que de forma velada. De fato, essa é uma verdade e um Testemunho contínuos ao longo do Novo Testamento, indicando aquilo que o Senhor deseja.
União com Cristo em Vida, Um Tema Dominante
Quando iniciamos nossa meditação, vimos que os dois principais temas de todo o Evangelho de João são a Pessoa de Cristo e a União com Cristo. Este capítulo revela essa dupla verdade, de forma muito forte, rica e completa. O “EU SOU” deste capítulo é muito forte. Repetidas vezes, temos o “EU SOU” relacionado com a vida. Os termos “se não” [verso 53] e “EU SOU” estão conectados e mantém uma relação entre si. Isto é, se esse capítulo representa Cristo relacionado com a vida, o termo “se não” nos traz para um relacionamento com Ele – união com Ele nesse senso específico – então o Testemunho da vida triunfando sobre a morte é o ponto principal deste capítulo. Isso é aplicado em todo o Novo Testamento. Seremos tremendamente impressionados se vermos o quanto o Senhor deseja que os Seus tenham um Testemunho presente e contínuo do triunfo da vida sobre a morte. Acredito que é desnecessário percorrer todo o Novo Testamento para explicar isso. Temos que lembrar que a vontade de Deus é que haja, em nós e em todos os Seus, um Testemunho presente e contínuo do triunfo da vida sobre a morte. Me parece que o Evangelho de João se ocupa com esse tema, de uma forma bastante abrangente. Este é o foco desse Evangelho, debaixo de vários pontos de vista, considerando seus vários efeitos. No entanto, existe uma nota principal, uma linha, que se segue em todo o Evangelho, relacionada à vida estabelecida contra certas condições, características e formas de morte.
Já dissemos mais de uma vez que, primeiro, o “sinal” encontrado no segundo capítulo de João - a transformação de água em vinho nas bodas de Caná da Galiléia - é abrangente, incorporando a essência do Evangelho, e a nota central desse sinal, dessa obra, era e é a vida triunfante sobre a morte. Contemple esse incidente novamente e certamente verá que isso está muito claro.
O próximo movimento, no capítulo três, temos Nicodemos e a serpente levantada no deserto, nos mostrando, por um lado, o estado de morte, de maldição sobre toda a raça humana. Por outro lado, vemos o caminho de saída da morte por meio do novo nascimento do alto. O novo nascimento do alto, com certeza, pode ser vislumbrado em todo o Novo Testamento, o Testemunho da vida que triunfa sobre a morte.
O próximo capítulo, o quarto, é novamente uma apresentação das características da morte e então do dispensar da vida eterna no interior do homem.
O capítulo cinco possui como pano de fundo a morte debaixo da lei; uma vida morta, em escravidão, fraqueza, impotência e desespero. Surge então o triunfo e novidade de vida em Cristo.
Agora, o capítulo seis traz o mesmo tema debaixo de outro ponto de vista, com a adição de um fator novo e adicional. Seguindo até o fim do Evangelho, encontraremos, passo a passo, estágio por estágio, um lidar com esse tema, que é a vida triunfante sobre a morte. Chegaremos a Lázaro, ao Bom Pastor Que dá Sua vida pelas ovelhas – outra forma de testemunho. As ovelhas devem viver e o Pastor morrer. O fato das ovelhas viverem, é um testemunho de vitória sobre a morte no Pastor que dá vida a elas. Então, podemos ver que todo esse Evangelho, sob certo ponto de vista, é um contínuo desenvolvimento, um descortinar, um desvendar dessa grande verdade a respeito da vida triunfante sobre a morte.
Poderíamos facilmente seguir para Atos, onde não teríamos muita dificuldade em estabelecer nossa afirmação. Os primeiros capítulos do Livro de Atos são um pouco mais desse testemunho da ressureição do Senhor Jesus, e quem testifica isso são as testemunhas oculares desse fato. Isto é, o Testemunho está dentro das testemunhas.
Depois, vemos a Carta aos Romanos. Estamos suficientemente familiarizados com a Carta aos Romanos para sabermos que, quando passamos pelos seus primeiros capítulos, passamos do reino da morte, de onde emergimos, para o reino da vida triunfante sobre a morte, do capítulo seis ao capítulo oito.
Então, prosseguimos. É bom saber que um grande conteúdo das Escrituras nos remete de volta ao que falamos, como sendo a vontade do Senhor. Digo que é notável dizer que o Senhor deseja ter um Testemunho presente e contínuo de vida triunfante sobre a morte. Esse será um contínuo desafio. Qual é a nossa base nas Escrituras para respaldar o que estamos dizendo? Qual o forte fundamento que nos provê suporte para assumirmos tal posição? Será que estamos trazendo uma declaração tão grandiosa como essa, com tudo o que ela envolve, baseados em uma pequena porção desconexa da Palavra de Deus, ou teremos um fundamento suficiente para adotar tal posição? Essa é a causa de estar fazendo referência a diversos capítulos relacionados a esse assunto. Existem muitas porções da Palavra de Deus que baseiam essa afirmação, de que o Senhor deseja nos Seus, um presente e contínuo testemunho de vida triunfante sobre a morte.
A Lei do Alimentar-se de Cristo
Vamos, então, dividir esse assunto em pequenos fragmentos. Isso, é claro, basicamente envolve a lei que governa essa verdade. Existe a grande verdade, mas ela tem uma lei que a governa e, para desfrutarmos o Testemunho, para termos a experiência da vida triunfando sobre a morte, agora e continuamente, teremos que reconhecer a lei que o rege, e então deveremos nos ajustar a ela, a obedecendo. Qual é essa lei? Ela é simplesmente o alimentar de Cristo. Não vamos tratar, neste momento, sobre o que significa o alimentar de Cristo, mas queremos reconhecer o fato de que isso está relacionado com essa verdade.
Percebemos duas coisas nesse capítulo, uma no início e outra no final. “Ora, a Páscoa, festa dos judeus, estava próxima. Então, Jesus, erguendo os olhos...” [Jo 6:4-5]. Você consegue ver a conexão que a palavra “Então” faz? Lendo os primeiros versos, “Depois destas coisas, atravessou Jesus o mar... Seguia-o numerosa multidão, porque tinham visto os sinais que ele fazia... Então, subiu Jesus ao monte e assentou-se ali com os seus discípulos. Ora, a Páscoa, festa dos judeus, estava próxima”, podemos perguntar: o que a primeira parte do versículo tem a ver com a segunda? Por que existe esse “Então, subiu Jesus” aqui? Ele tinha algo em mente, assim como aconteceu em Caná da Galiléia, quando Ele disse: “Ainda não é chegada a minha hora” [Jo 2:4]. “Então, Jesus, erguendo os olhos e vendo que grande multidão vinha ter com ele, disse a Filipe: Onde compraremos pães para lhes dar a comer?” [Jo 6:5]. Você percebeu que a Páscoa está relacionada a isso? A Páscoa, na mente do Senhor, está relacionada com isso, ou diria, isso está relacionado com a Páscoa. Há um pano de fundo por detrás desse alimentar a multidão, relacionado com uma verdade espiritual.
Guarde, por um momento, esse fato de que a Páscoa é mencionada no início desse alimentar da multidão, vamos então prosseguir para os versos 31 e 32: “Nossos pais comeram o maná no deserto... Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: não foi Moisés quem vos deu o pão do céu; o verdadeiro pão do céu é meu Pai quem vos dá”. Temos a introdução da Páscoa e, agora, temos Moisés, o deserto e o Maná, todos na mesma conexão.
Qual é a conexão entre essas duas coisas e a verdade central da vida triunfando sobre a morte? Bem, a Páscoa tem muito a ver com tudo isso. Somos levados de volta ao Egito, de volta à realidade da morte, de volta ao lugar onde o Destruidor se encontra, onde temos abundância de morte, e comer a Páscoa significou a vida triunfando sobre a morte. A Páscoa é encontrada logo no começo da história daquele povo. Ela definiu a data de sua constituição como nação. Eles foram constituídos como uma nação pela Páscoa. “Este mês vos será o principal dos meses; será o primeiro mês do ano” [Ex 12:2]. Desse modo, essa é a base de sua história, como povo de Deus, representando a vida triunfando sobre a morte, o alimentar de Cristo, a apropriação de Cristo como vida.
Agora, novamente, o deserto é trazido à luz, e o que temos no deserto é a morte. Não existem sinais nem elementos de vida no deserto, nenhuma fonte de vida ali. O deserto, longe de Deus, era um lugar de morte. Quando o povo deixou de ser obediente ao Senhor, morreu no deserto. Seu clamor era: “Será, por não haver sepulcros no Egito, que nos tiraste de lá, para que morramos neste deserto?” [Ex 14:11]. Ah sim, o deserto era um lugar de morte! O maná foi concedido, o que desenvolveu neles o Testemunho contínuo da vida triunfante sobre a morte. O alimentar do maná constituiu neles esse Testemunho contínuo: a vida triunfando sobre a morte.
O Significado de Uma Mudança de Tempo Verbal
Aqui temos algo extraordinário. “Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos” (Jo 6:53). O tempo verbal grego usado é o segundo AORISTO subjuntivo ativo, que sugere um fato já realizado, mas contínuo. Mostra que alguma coisa foi feita, cujo resultado ou efeito ainda será obtido. Dizendo literalmente, a ação foi completada em um passado indeterminado; mas ainda não alcançou seu resultado final, apesar de já ter sido realizado ou concluído. É algo feito no passado.
Quando chegamos ao próximo verso, o 54, temos uma mudança de tempo verbal: “Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia”. O tempo verbal aqui é o particípio ativo presente: indica aquele que continua comendo, faz disso um hábito. Então, temos algo feito lá no início, como uma base completa para algo algo que resultará disso e que deve continuar sendo feito continuamente; algo que está relacionado com a origem de nossa história e sua continuidade. Penso que este é um exemplo magnífico do Espírito Santo controlando a gramática.
É algo memorável o fato de que, no início, temos a Páscoa como o ato básico, indicando que tudo está realmente concluído, e, mesmo assim, há uma indicação de que algo precisa ainda ser feito. Então, o deserto é introduzido, e a gramática ali indica que a experiência do deserto demanda um alimentar habitual, algo que deve acontecer a todo tempo. Vida triunfante sobre a morte é algo que obtivemos completamente quando recebemos o Senhor Jesus pela primeira vez, mas deve haver um desenrolar disso, e por isso devemos continuamente receber a Cristo para a manutenção desse Testemunho.
O Corpo de Cristo – Uma Humanidade Incorruptível
Comer da carne e beber do sangue do Filho do Homem é o receber daquilo que é incorruptível e que tem uma vida incorruptível em si (compare com Atos 2:27). A carne era o corpo de Cristo, onde a morte havia sido conquistada: “um corpo me formaste” [Hb 10:5]. Por que? Em um corpo – na esfera da morte sobre a raça – a morte deveria ser conquistada. Me alegro pelo fato de que o Senhor encontrou a morte onde ela fixou residência, no corpo. A morte atingiu direto a raça humana em sua humanidade.
A humanidade foi fruto de um pensamento muito elevado de Deus; uma humanidade perfeita. Humanidade é algo único, especial. “Pois não foi a anjos que sujeitou o mundo que há de vir, sobre o qual estamos falando; antes, alguém, em certo lugar, deu pleno testemunho, dizendo: Que é o homem, que dele te lembres?...” [Hb 2:5,6]. O homem é de uma ordem superior aos anjos. O mundo que há de vir não deve estar debaixo do domínio dos anjos, mas do homem. “Não sabeis que havemos de julgar os próprios anjos?” [I Co 6:3]. Os anjos estarão sujeitos ao homem, quando o homem for aquilo que Deus intencionou que ele fosse. “Não são todos eles espíritos ministradores, enviados para serviço a favor dos que hão de herdar a salvação?” [Hb 1:14]. Eles são ministros em relação a salvação; ministros a favor dos homens, a fim de levar o homem ao lugar que Deus eternamente intencionou para ele. Humanidade é um pensamento elevado de Deus, algo mais elevado que a ordem angelical.
Ah! Mas é exatamente aqui que o inimigo ataca, é na humanidade que a morte reina, e é em nossos corpos mortais que a morte fixou seu território. A Palavra nos ensina isso: “nossos corpos mortais”. Em um corpo, o Senhor Jesus conquistou a morte e tratou com a condição moral do homem, que é a base da morte. Ele fez tudo isso em um corpo. Seu corpo foi o instrumento de Seu triunfo sobre o estado moral do homem, e a morte era o resultado desse estado moral. Lembre-se, em Seu corpo, Ele se deparou com todas as tentações que são comuns ao homem e a todas venceu. Em Seu corpo, em Sua humanidade: “... foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” [Hb 4:15].
Tentação não é tentação se não a sentimos. A questão de como um ser perfeito pode ser tentado foge totalmente do assunto em questão. Ele foi tentado, Ele foi provado, Ele foi Vitorioso, e não existe vitória se não houver provação. Não há sentido para vitória, se não houve batalha. Em Seu corpo, Ele encarou de fora o assalto de cada tipo de sugestão e influência malignas. Ele foi deixado sozinho com o próprio Diabo em provação e tentação. Em Seu corpo Ele triunfou, e em Seu corpo Ele carregou nossos pecados: “carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados...” [I Pe 2:24].
Deveríamos ser cuidadosos, deixando claro que não cremos que havia qualquer pecado em Cristo. Por isso é que destaquei a expressão “de fora” [no parágrafo anterior]. Nesse corpo triunfante há uma vida incorruptível. Esse Santo não viu corrupção porque Ele triunfou moralmente. Não havia possibilidade de que Ele fosse preso na morte, porque a morte não tinha lugar para residir naquele corpo. “Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos” [Jo 6:53]. A vida triunfante sobre a morte está em nossa apropriação de tudo o que está representado pelo Seu corpo. É a fé se apropriando de Cristo em Sua vitória, em Sua humanidade.
Explicaremos o que é isso. No entanto, temos que nos lembrar de que foi em Sua carne, em Seu corpo que Ele triunfou sobre a morte, ou se preferir – em um corpo Ele venceu. O corpo de Cristo era, e é, um corpo em que toda a obra e vitória do Calvário foram completadas. Receba da virtude e da eficácia espiritual disso pela fé, e você estará recebendo a vitória do Calvário. A vitória do Calvário não é uma doutrina que você tem que adotar, é um exercício espiritual em relação ao próprio Cristo em vitória: o tomar a Cristo, tomar a Cristo como nosso pela fé. Esse é o caminho da vitória do Calvário. Alimentar de Cristo é compartilhar Sua vitória. Alimentar de Cristo é força, é crescimento, é perseverança; não é uma doutrina ou ensino, mas é alimento, apropriação, assimilação, é torná-Lo nosso. Esse é o caminho da vitória sobre a morte continuamente. Algo que fazemos no começo de nossa vida cristã, de uma vez por todas - Tomamos Cristo; e então, fazemos isso habitualmente, todos os dias; assim como aqueles que estavam no deserto deveriam fazer a cada manhã. O Senhor estabeleceu isso cuidadosamente, de forma que eles não podiam viver com o maná de ontem. Nada devia ser deixado para o dia seguinte; tudo o que sobrava devia ser queimado. Tudo devia ser novo a cada manhã; não um exercício daquilo que era do dia anterior em relação a Cristo, mas o que é de hoje, todos os dias.
Cristo esteve no deserto com o Diabo, e o primeiro ataque foi relacionado ao pão: “Se és o Filho de Deus, manda que esta pedra se transforme em pão”. Qual foi a resposta do Senhor? Sua resposta veio do deserto: “Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” [Mt 4:4]. Mesmo em um lugar de morte, VIVEMOS pela Palavra do Senhor. Ele é a Palavra em Pessoa e em mandamento.
Seguiremos agora para o final desta meditação, falando um pouco sobre o que é alimentar-se de Cristo, como o caminho do Testemunho da vida triunfante sobre a morte continuamente. Seremos bastante elementares.
O Significado do Alimentar-se de Cristo
Alimentar de Cristo! Lembre-se de que você começou a se alimentar de Cristo ao fazer dEle a sua vida, e isso deve ser mantido como um hábito. De acordo com o que o Senhor estipulou e com a Sua Palavra, não será suficiente ter se alimentado dEle ontem e não o fazer hoje, nem pensar que o alimento de hoje será suficiente para alguns dias. Isso deve ser algo contínuo, diário e habitual. Então, o que é se alimentar de Cristo? Está relacionado a algumas coisas simples, cuja importância e magnitude somente podem ser reconhecidas a partir do ponto de vista do Testemunho para o qual estão conduzindo, apesar de serem coisas consideradas como comuns.
Existe algum outro maior Testemunho do que a vida triunfante sobre a morte? Não! E nós, a medida que caminhamos no Senhor, descobriremos que esse é o ponto mais elevado em nossa experiência, e é o que desperta toda a ira do inferno. Realmente estaremos posicionados contra as forças diretas do Diabo, que estarão contra nós assim que tomarmos nosso lugar com o Senhor Jesus. O desafio será se ele vai conseguir destruir nosso Testemunho pelas forças da morte, nos trazendo morte espiritual (ou de qualquer outra natureza); ou se esse Testemunho da tremenda vitória de Cristo sobre todas as forças do Diabo será mantido.
Quando virmos as coisas a partir desse ponto de vista, tudo o que se relaciona a elas passa a ter importância. Então, quando alguém fala sobre se alimentar de Cristo como sendo, em primeiro lugar, uma questão de oração, isso será imediatamente relacionado também com o Testemunho da vida triunfante sobre a morte.
Alimentando-se pela Oração
Nos alimentamos de Cristo em oração. Colocando em outras palavras, há uma transmissão dEle para os Seus em oração. Podemos estando cansados quando começamos a orar, e quando nos levantamos, estamos revigorados. Podemos orar quando estamos exaustos, e nos levantarmos renovados. Será que isso acontece porque simplesmente pronunciamos alguma forma de oração? Sabemos muito bem que, se fosse assim, não levantaríamos muito revigorados. Orações formais não trazem muita vida. Às vezes, adotar uma forma de oração somente ministra morte. Mas, buscar, alcançar e tomar posse do Senhor e nos entregarmos a Ele em oração, nunca falha em nos trazer renovo, nos erguer, nos fortalecer. Você poderia dizer que oração te esgota? Sim, mas há uma maravilhosa força que surge por intermédio dessa oração extenuante. Uma vitalidade é impartada à vida espiritual, mesmo quando as orações nos cansam fisicamente, e prosseguimos na força extraída delas. Sim, oração é um caminho pelo qual Cristo é ministrado a nós pelo Espírito Santo. Oração é uma forma de nos alimentarmos de Cristo; Ele Se torna nossa vida.
Alimentando-se pela Palavra
Temos, é claro, a Palavra. Existe um valor, um fortalecimento, enriquecimento, uma edificação resultante de nos entregarmos espiritualmente à Palavra do Senhor. Podemos estudar a Bíblia de uma forma técnica, e isso não quer dizer que alcançaremos grande ajuda espiritual. Mas, ir até a Palavra do Senhor, a fim de enriquecer nossa vida espiritual, não com uma congregação em mente, não com o objetivo de obtermos informações, mas por causa da nossa própria vida espiritual, para uma dedicação e entrega à Palavra do Senhor, e não ficando desencorajados se não obtermos nada inicialmente. Existe um valor real nisso. É notável como, depois de um período inicial de desencorajamento, começamos a alcançar alguma coisa. Parece que o Senhor nos prova, e então se inicia uma ministração de Cristo pelo Espírito através da Palavra. Sim, mas isso não é apenas ler a Palavra de Deus, apesar disso ter o seu valor, mas aquela passagem, falada pelo Senhor no deserto para o Diabo, tem um significado mais profundo do que isso. Volte ao livro de Deuteronômio e você descobrirá que não era a leitura ou estudo da Lei pelo povo de Israel que estava em vista, mas sua obediência a ela. Eles viviam pela obediência à Palavra do Senhor. Em cada ato de obediência à Palavra do Senhor, havia um revigorante ministrar de Cristo. Nunca deixaremos de ganhar Cristo quando formos obedientes a qualquer parte da Palavra do Senhor. É sempre assim. É assim que vivemos pela Palavra, sendo obedientes a ela. Obediência à Palavra é vida, porque ela proporciona um aumento de Cristo.
Sustento pela Comunhão
Somente depois de termos sido alimentados pelo Senhor e de Ele ter se tornado nossa vida, poderemos reconhecer a ordem Divina da comunhão espiritual. Encontramos isso registado no livro de Atos: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações” (At 2:42). Na comunhão do povo do Senhor encontramos um tremendo meio de graça, de enriquecimento de Cristo. Acredito que o Inimigo levará os crentes, quando estão juntos, a falar de qualquer assunto debaixo do sol, menos a respeito do Senhor. Quando nos encontrarmos com o povo do Senhor, é fácil sermos levados a tratar de todos os tipos de assuntos e interesses, menos do Senhor. Mas, se você tiver, de fato, comunhão espiritual, haverá sempre um enriquecimento, um fortalecimento, uma edificação, pois esse é o caminho Divino. Comunhão é um meio de repartir Cristo com os crentes. Onde quer que a comunhão espiritual for possível, desejaremos estar ali, desejaremos buscar por ela, teremos grande apreço por ela. Hoje, muitos dos filhos do Senhor não encontram onde experimentar verdadeira comunhão espiritual. Eles dariam qualquer coisa para poder experimenta-la. O Senhor nos ajuntará em grupos de pelo menos dois, pois essa é Sua ordem, e ali haverá o ministrar de Cristo uns aos outros. Se isso não ocorrer, algo estará faltando. Esse é um dos caminhos em que seremos alimentados pelo Senhor.
Enriquecimento pela Adoração
Há ainda outra forma: a adoração. Há um maravilhoso enriquecimento na adoração. O que é adoração? Estranhamente, adoração no Velho Testamento - pela qual a pessoa ou pessoas eram enriquecidas – existia quando algo era trazido ao Senhor, para Ele. Sim, há algo enriquecedor nisso, um desenvolvimento, um alargamento, um repartir de Cristo, quando consideramos o que Ele é, e falamos para Ele do que Ele é para nós. Acredito que ainda não aprendemos todo o valor da adoração como um fator fundamental em nosso crescimento espiritual.
Quando tudo é dito sobre o caminho do alimentar de Cristo, qual é o efeito todo inclusivo? A que tudo isso deve conduzir? O que significa apropriar-se do Senhor Jesus? Bem, sabemos que Ele é tudo que Deus sempre quis que tivéssemos espiritual e moralmente, e essa é toda a diferença entre nos esforçarmos para ser como Jesus e O tomarmos para manifestar a Si mesmo em nós. Acredito que esse esforço para ser como Ele é um caminho para a inanição. Acabaremos nos tornando como esqueletos. A maioria das pessoas tentam ser como o Senhor pelo esforço, mas quando começamos a reconhecer que, por um lado, somos insuficientes e nunca conseguiremos fazê-lo, e por outro lado, que Ele é tudo e que Ele é a provisão de Deus que vem de encontro a minha deficiência, se pela fé puder toma-Lo como tal, então, haverá vitória, em qualquer situação.
O caminho da vitória não é nos esforçarmos para vencer, mas tomarmos Cristo como o Vitorioso. Seu problema é uma questão espiritual? É uma questão moral? Ou uma questão física? Quando falo de questão física, quero dizer, precisamos de força física? Sim, precisamos. A natureza não nos dará força suficiente para os propósitos espirituais.
O Senhor nos ensinou lições estranhas nesse caminho. Às vezes, pensamos que o que precisamos para os propósitos espirituais é de renovo físico, de umas férias, e fazemos disso o nosso objetivo, e, oh! Que férias pobres elas se tornam. O Senhor tem nos impedido de fazer algumas coisas, a fim de nos mostrar que os propósitos espirituais requerem recursos espirituais, e que há recursos espirituais para suprir necessidades físicas, quando a finalidade é espiritual. Não quero dizer que o Senhor nos prive de nossas férias. O Senhor dá a algumas pessoas ótimas férias! O Senhor nos permite ter um bom dia de passeio. Não há nada de errado nisso, mas o que estou dizendo é que, há uma lei que é mais profunda que isso, e, a menos que reconheçamos tal lei, o resto não funcionará.
A lei é que, estando cansados, exaustos, verdadeiramente esgotados, mesmo assim, se o Senhor quiser que façamos algo, Ele pode nos capacitar a faze-lo sem que Ele precise nos proporcionar férias. Quando reconhecermos isso, e não tornarmos o curso natural em algo essencial e indispensável, o Senhor poderá nos dar as férias e, sem dúvida Ele o fará. Esse é o Testemunho.
Onde está o Testemunho da vida triunfante sobre a morte no físico, se você tira boas férias e, por meio de um completo descanso, você volta e trabalha para o Senhor firmado nisso? Onde está o Testemunho? Há algo por trás disso, e o Senhor nos manterá nesse princípio básico, e então: “...nenhum bem sonega aos que andam retamente” [Sl 84:11] e “buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” [Mt 6:33].
Quando estamos estabelecidos sobre essa base, liberamos o Senhor para conceder as outras coisas, mas é uma contradição pensarmos que o curso natural é o único meio para um Testemunho espiritual. O Senhor é vida para nós física e moralmente para atender a todas as Suas demandas. Ele triunfou moralmente e Sua vitória é nossa em cada questão moral. O Senhor é nossa vida espiritual. Temos que toma-Lo pela oração, pela Palavra, pela obediência, pela comunhão, pela adoração – tomar o Senhor! Temos a verdade - a vida triunfante sobre a morte é um presente e contínuo Testemunho. Temos a lei – nos alimentar e nos apropriar do Senhor como nossa vida. O Testemunho demanda essa lei. Não podemos manter o Testemunho sem observarmos a lei. Falhe em qualquer ponto na lei espiritual e o Testemunho será quebrado. Nunca viveremos em vitória, se não orarmos, e orarmos todos os dias. Nunca viveremos em vitória, se não nos alimentarmos diariamente do Senhor na Sua Palavra. Nunca viveremos em vitória, a não ser que venhamos a usar toda a comunhão espiritual para fins espirituais, se isso estiver disponível a nós. Se não estiver disponível, o Senhor terá que conceder mais de Si à nós, e Ele pode fazer isso de muitas maneiras. Mas, precisamos reconhecer o que Ele Se tornou da parte Deus para nós, e precisamos toma-Lo como tal.