por T. Austin-Sparks
“Quem subirá ao monte do SENHOR? Quem há de permanecer no seu santo lugar?”
Sl 24:3
“Olhei, e eis o Cordeiro em pé sobre o monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil, tendo na fronte escrito o seu nome e o nome de seu Pai. Ouvi uma voz do céu como voz de muitas águas, como voz de grande trovão; também a voz que ouvi era como de harpistas quando tangem a sua harpa. Entoavam novo cântico diante do trono, diante dos quatro seres viventes e dos anciãos. E ninguém pôde aprender o cântico, senão os cento e quarenta e quatro mil que foram comprados da terra. São estes os que não se macularam com mulheres, porque são castos. São eles os seguidores do Cordeiro por onde quer que vá. São os que foram redimidos dentre os homens, primícias para Deus e para o Cordeiro; e não se achou mentira na sua boca; não têm mácula”.
Ap 14:1-5
Podemos perceber que essas duas passagens constituem uma pergunta e uma resposta. Temos a pergunta: “Quem subirá ao monte do Senhor? Quem há de permanecer no Seu santo lugar?”. Então, a resposta: “Olhei, e eis o Cordeiro em pé sobre o monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil”. Nesses dois textos vemos o início e o final da história, a antecipação do evento e sua realização, a pergunta e a resposta. O contexto nos Salmos 22, 23 e 24 corresponde, bem de perto, com aquele descrito no capítulo 14 de Apocalipse. O Salmo 22 nos descreve o Bom Pastor dando Sua vida pelas ovelhas: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” [Sl 22:1]. Essas palavras foram usadas pelo Salvador, quando pendurado no madeiro (Mc 15:34). Mas onde veremos a resposta a esse “por quê”? Em Apocalipse 14. No Salmo 23, vemos o Senhor como o Grande Pastor em ressurreição e, mais uma vez, temos uma resposta no Novo Testamento: “Ora, o Deus da paz, que tornou a trazer dentre os mortos a Jesus, nosso Senhor, o grande Pastor das ovelhas, pelo sangue da eterna aliança” (Hb 13:20). No Salmo 24, temos o Senhor como o Pastor Principal e, novamente, lemos: “Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória” (1 Pd 5:4). Temos a descrição de toda a história, da Cruz, das ovelhas e do Pastor. Apesar de Apocalipse 14 apresentar uma metáfora diferente, apresentando o Cordeiro e não o Pastor, ainda assim a ideia da identificação do rebanho com o Seu Senhor é preservada. Temos o Cordeiro e, com Ele, os 144.000. Nessa primeira meditação vamos tocar em alguns pontos a esse respeito, abordando o objetivo final dessa mensagem.
Qual é o nosso objetivo final? Considerando a determinação de Deus, deve haver ao menos um grupo trazido à uma mais absoluta unidade com Seu Filho. “São eles os seguidores do Cordeiro por onde quer que vá” [Ap 14:4]. Esses são Seus seguidores em natureza, caráter e comunhão, formando uma unidade completa. Superficialmente, essa seria a representação do Cordeiro no monte Sião, mas essa não é a história toda, pois não cobre toda a esfera da redenção. Podemos notar, pelo contexto, que outros ainda serão trazidos a esse ponto mais adiante na grande vindima [Ap 15:15]. Mas, tais seguidores do Cordeiro são as “primícias para Deus” [vs 4], parecendo indicar que Deus obterá um grupo que corresponderá ao Seu Filho de forma plena. Esse é o objetivo, e tudo está atrelado e dependendo disso. Toda a criação está com os olhos fixos nesse grupo de pessoas. Esse é o coração de tudo.
Por quê? Qual é o propósito disso? Esse não é objetivo da presente consideração, mas muitas coisas estão atreladas a isso! Esse é um ponto focal, por trazer em primeiro lugar a Deus plena satisfação em meio de Seu povo. A frase “primícias para Deus” é significativa. Não é o meu interesse falar das primícias neste momento, mas o que isso representa para o coração de Deus nos interessa muito. Essa figura por si mesma é muito poderosa.
Em qualquer esfera de cultivo, o lavrador trabalha com grande paciência, dia a dia, até chegar o tempo da colheita. Ele se move ansiosamente para ver os primeiros sinais de resposta ao seu trabalho, esforço, espera, desejo e anseio. O dia virá quando ele terá o suficiente para assegurar que todo aquele trabalho não foi em vão. Naquela primeira colheita, nas primícias, o lavrador recebe como que um símbolo do que ainda virá, encontrando sua primeira satisfação naqueles frutos. Penso que é isso que as primícias representam. Deus tem a Sua primeira satisfação naquela colheita, nas primícias. Esse será um grande momento e tudo se move em direção a isso. Será algo grandioso.
Trazendo isso ao nosso contexto, e assim desafiando os nossos próprios corações, devemos nos perguntar se o fato de estarmos sendo conduzidos a contemplar esta questão neste momento, não está relacionado a esse grande momento, e tudo que ele envolve. Poderíamos dizer que nossa meditação na vontade de Deus está relacionada com a realização de algo totalmente focado na satisfação dos Seus desejos? Acredito que todos nós desejaríamos que as coisas fossem assim. Nossos corações logo responderiam: Sim, que assim seja! Sinto não ser presunçoso dizer isso, à medida que nós, apesar de sermos um mero fragmento do todo, estamos relacionados a essa grande visão. O Cordeiro em pé sobre o monte Sião com os cento e quarenta e quatro mil representa algo para nós, fato esse que devemos guardar e considerar.
Precisamos, portanto, crer firmemente em determinadas coisas. Todo aquele que é do Senhor e permanece na luz de Seu pleno propósito na redenção deve acreditar, em primeiro lugar, que um fim em glória e vitória já está assegurado para nós no Senhor Jesus. Esse fim não demanda nenhuma ação nossa para garantir sua realização; tudo já está realizado e consumado. Certamente esse é um fato que deve levantar a nota mais profunda de adoração e louvor dos nossos corações - o fim em glória já está assegurado.
Podemos dizer então, que esse fim glorioso já está garantido para o povo de Deus. Do ponto de vista de Deus, não há nada mais a ser feito para torná-lo mais glorioso do que já é. Isso, claro, é a base fundamental da nossa fé simples no Senhor Jesus, mas ainda assim, é a base de um contínuo desafio e conflito. No que diz respeito a obra de Deus, o Cordeiro está agora no monte Sião, com os cento e quarenta e quatro mil: isso está garantido. Se o Senhor conseguisse tornar isso definitivamente estabelecido nos corações de Seu povo! Essa é a única base para o verdadeiro descanso, segurança, alegria e estabilidade de nossas vidas. "Ora, destruídos os fundamentos, que poderá fazer o justo?" (Sl 11:3). Se essa base for abalada em qualquer ponto, então tudo mais irá desabar. Nesta matéria, não precisamos ser "futuristas"; devemos ser experimentalistas. O Cordeiro permanece no monte Sião com esse grupo já assegurado, no que tange a todos os intentos e propósitos Divinos. O final em glória e vitória está garantido em Cristo.
Entretanto, precisamos também acreditar (e se necessário, lutar para isso) que o fim justificará o caminho pelo qual fomos conduzidos, vindicando a Deus por Sua direção. Isso é muito difícil e toca em tantas outras questões! Não é fácil acreditar que haverá um dia em que afirmaremos de forma positiva e definitiva: "Deus não cometeu nenhum erro, Ele sabia o que estava fazendo, fez a coisa certa!”, a despeito de todas experiências desta vida, dos caminhos pelos quais Ele nos conduziu e que abalaram nossos alicerces, como o sofrimento, a aflição, as decepções, tristezas e perplexidades. Diante de tudo o que estamos passando, todo o estado de nossas vidas neste momento, talvez seja difícil acreditar que tudo está precisamente certo. O fim justificará o caminho, vindicando os tratos de Deus conosco. No final, diremos positivamente: "Deus não cometeu erros!" Nos pequenos caminhos em nossas vidas, quando passamos por difíceis provações, experiências profundas e escuras, e saímos do outro lado entendendo o sentido de tudo, fomos capazes finalmente de dizer: “Não teria ficado sem isso por nada! Estou feliz por ter tido essa experiência!”. Entretanto, enquanto estávamos passando pelas situações, a última coisa que nós teríamos dito seria isso... O final altera de forma estranha a visão do todo. No desenlace, dizemos: "Afinal de contas, o Senhor não estava tão errado quanto pensei. Ele estava certo."
Caros amigos, não posso deixar de acreditar que este grupo chamado de cento e quarenta e quatro mil (não sejamos demasiadamente literais quanto a isso), foram comprados dentre os homens. Tais pessoas passaram por esse tipo de situações como ninguém mais, encarando em primeiro lugar o vigor do sol escaldante para amadurecê-los, sendo pioneiros neste caminho. Eles sabem o que significa provar os sofrimentos do Cordeiro. Não posso deixar de acreditar que, quando este grupo estiver no monte Sião com o Cordeiro, a única coisa que dirão será: "Ele sabia o que estava fazendo. Tudo estava certo. Não ficaríamos sem essa experiência por nada, pois justifica tudo. Embora às vezes estivéssemos sendo tentados a questionar a Deus, se Ele estava nos conduzindo no caminho certo, se estava sendo justo conosco, nós podemos ver agora, que não só era caminho certo, mas era o único caminho! Nada mais poderia ter sido feito."
Precisamos depender da graça de Deus para ir o mais longe que pudermos agora, e crer que Deus não é um mero espectador dos nossos sofrimentos, provações e adversidades, olhando, observando friamente, mas precisamos acreditar que Ele tem tudo em Suas mãos. "Ele sabe o meu caminho”, Ele não é apenas um espectador. De acordo com Jó, que sabia algo sobre isso, este é o veredicto: "Pois Ele cumprirá o que está ordenado a meu respeito e muitas coisas como estas ainda tem consigo" (Jó 23:10,14).
Se voltarmos aos primeiros capítulos do livro de Jó, veremos o que estava ordenado para ele e que Deus já sabia. "Vistes o fim que o Senhor lhe deu; porque o Senhor é cheio de terna misericórdia e compassivo" (Tiago 5:11). Esse texto abrange a situação de Jó.
Estamos lidando com assuntos muito difíceis. É fácil dizer e ouvir palavras como esta, mas precisamos nos fortalecer mutuamente no Senhor para compreender todo o sentido do que é chegar a essa gloriosa consumação. Uma das maneiras pelas quais podemos fazer isso é simplesmente dizendo uns aos outros: "Nós cremos em Deus tão completamente, que afirmamos que, mesmo nas situações mais difíceis, Ele será justificado no final. Diremos a Ele: Tu estavas certo, e não ficaria sem essa experiência por nada". Alguns de vocês talvez não se imaginem dizendo isso, mas todos nós iremos dizer isso no final, se não rompermos com a nossa fé em Deus. O fim justificará o caminho, e vindicará a Deus.
Os termos desta passagem em Apocalipse 14 são significativos. "Eu vi...o Cordeiro...". Isso significa sofrimento e sacrifício. "E com ele cento e quarenta e quatro mil... comprados”. Estes não foram apenas redimidos; mas foram levados a uma comunhão muito estreita com aquilo que o título, o Cordeiro, representa - sofrimento e sacrifício. É isso que vai trazê-los a essa unidade indicada aqui.
"De pé no monte Sião". O monte Sião ocupa um lugar de destaque em toda a Palavra de Deus, sempre significando o ápice da realização de todas as aspirações. "Para onde sobem as tribos" (Sl 122:4). Vemos muitas referências ao Monte Sião, isso é algo muito evidente nas Escrituras, sempre indicando o objeto da maior ambição, da mais forte aspiração e gratificação do desejo mais profundo de uma vida. O Monte Sião era o único objeto constante no desejo e no pensamento de Israel. Aquele era o lugar da mais alta realização e conquista possíveis. O Cordeiro conseguiu e garantiu isso, permanecendo lá como um poderoso Vencedor sobre tudo que tentou impedir Seu movimento ascendente. Das profundezas do inferno Ele foi subindo, subindo sempre através de sucessivas esferas, até alcançar o lugar mais elevado em glória. Ele está no monte Sião, triunfante, na plena realização da vitória. Essa é uma forma simbólica de dizer o que Paulo expressou em uma linguagem espiritual: "o qual exerceu Ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais, acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio e de todo nome que se possa referir, não só no presente século, mas também no vindouro" (Ef 1:20-21). "Acima de tudo!”. "O Cordeiro em pé sobre o monte Sião". Uma grande conquista, uma tremenda vitória! Ele está lá! Pagou um alto preço chegar ali, atingir essa eminência, mas Ele está lá. "E com Ele...". Este é um retrato da plena realização das maiores possibilidades do destino humano, dentro dos conselhos Divinos.
Monte Sião! Bem, o próprio nome Sião acrescenta essa implicação mais uma vez. Sião significa refúgio, fortaleza. O Monte Sião foi literalmente, em Jerusalém, o ponto de maior desafio para o povo de Deus. Essa fortaleza dos Jebuseus foi guardada por séculos. Nem mesmo Josué conseguiu subjugá-la. Ela manteve a sua força e resistência pelos quatrocentos anos dos Juízes, e manteve um longo histórico de invulnerabilidade, até que Davi chegou ao trono. Então, quando Davi foi finalmente coroado rei, o primeiro desafio feito a seus homens foi relacionado a Jebus, a fortaleza dos Jebuseus. Eles se sentiam tão seguros de sua posição e história, a ponto de dizer: "Nós podemos colocar os coxos e os cegos para defender esta cidade, e isso é tudo!” Mas eles tinham um novo fator para encarar agora. Davi era rei e isso mudou toda a situação. Não demorou muito para que Joabe atacasse e invadisse essa fortaleza, que se tornou a cidade de Davi, o grande rei. A partir desse ponto, temos uma história gloriosa, o outro lado da história de Sião começou. Sião foi o centro de toda a glória e tornou-se uma verdadeira fortaleza.
Interprete isso em linguagem e sentido espiritual. Veja o que significa para o Cordeiro permanecer no monte Sião. Que vitória! Que força! Que posição! Que conquista! Como essa posição é impenetrável, não existindo um inimigo capaz de levantar um dedo para desafiá-la. Que grande realização essa do Cordeiro! E que gloriosa será essa posição a qual seremos trazidos por Ele no monte Sião.
"E com ele cento e quarenta e quatro mil" [Ap 14:1]. Mencionamos que não devemos ser demasiadamente literais sobre isso. Esse será um grupo grande, literalmente tirado do todo, mas esse número é muito significativo, trazendo com ele certas implicações. Em primeiro lugar, não há nenhuma dúvida que implica em seletividade; não baseada no mérito, nem na predestinação. Significa que Deus encontrou um povo que foi mais longe com Ele, respondendo mais plenamente ao anseio de Seu coração do que os demais. Então, Ele os tornou nas Suas primícias, os incluindo nessa realização de Cristo; e o real valor disso tudo será encontrado na vocação que cumprirão. Isso não será nossa consideração neste momento, voltaremos a esse assunto, provavelmente, em outro momento. Esse grupo irá cumprir uma grandiosa vocação nos séculos vindouros. A maneira que eles irão servir ao Senhor traduzirá o seu valor para Ele. Eles são escolhidos. Não gosto da palavra “selecionados", pois sei que existem círculos que cristalizaram uma doutrina em torno dela. Vamos considerar isso apenas como um fato. Eles são um grupo selecionado, permanecendo firmes no propósito de Deus, como um grupo particularmente precioso para Ele, por causa da forma como O satisfazem e O servem.
Esse grupo não foi apenas selecionado, mas também é representativo, e aqui está a nossa salvaguarda. Seria algo ruim se toda a safra se resumisse apenas nos primeiros frutos, não acho que nenhum agricultor ficaria satisfeito com isso. Haverá uma outra colheita depois. Temos algo representativo aqui, e esse grande propósito Divino de representação é encontrado em toda a Palavra de Deus. O Senhor está sempre em busca algo que possa dirigir o caminho e servir àqueles que se seguirão, servindo como um ministério de maior plenitude a eles. Essa é a ideia - ser um ministério de maior plenitude. Esse é um princípio operando em nós, talvez, diariamente. Por que o Senhor nos conduz a estas chamas tão ardentes de provação? A resposta é: para que outros possam se beneficiar disso. É para abrir caminho para outros.
Claro que isso levanta a questão: Com o que você irá se contentar? Você está realmente decidido a seguir o Cordeiro por onde quer que Ele for? Nenhuma das palavras ou frases usadas aqui deve ser tomada literalmente. Não que o lado literal desse texto deva ser desconsiderado – “e não se achou mentira na sua boca” e assim por diante – mas o sentido desse texto não é apenas literal. Tudo representa uma separação para Deus de qualquer tipo de contaminação mundana. Muitas coisas estão envolvidas nisso. Por que devemos ser tão absolutos? Existem muitos Cristãos que também chegarão muito bem no céu, apesar de não terem tomado esse caminho, sem essas experiências. A resposta é que Deus busca um grupo representativo. Essa é a resposta a todos esses problemas. Os interessados não têm nenhuma razão para se considerarem mais importantes do que os demais. É muito caro estar em um pedestal, isso tem um preço muito alto.
Aqueles que seguem este caminho serão completamente esvaziados, arruinados e conhecerão a comunhão dos Seus sofrimentos. Isso tirará deles toda a presunção espiritual. A seus próprios olhos, eles não serão uma elite, nada disso! O seu clamor, muitas vezes, será: "sou um verme, e não homem" (Sl 22:6). Como Jó, dirão: "Por isso me abomino" (Jó 42: 6). Esse é o clamor dos cento e quarenta e quatro mil: espécimes pobres a seus próprios olhos, mas pessoas nas quais Deus tem atrelado valores para os demais. É por isso que o Senhor encontra tanta alegria e satisfação nessas pessoas, e é aí que, eventualmente, que elas encontrarão sua gratificação - no fato de serem capazes de servir ao Senhor para o benefício de outros, por estarem em uma posição que O permite fazer isso. Isso não se refere a um dia místico quando o Cordeiro estará de pé no Monte Sião, mas pertence ao agora, a esse tempo em que vivemos.
Essa posição de ascendência e utilidade para outros está atrelada a cada prova pela qual passamos hoje, cada sofrimento da presente hora. Acredite em mim, tudo está acontecendo de uma maneira espiritual. Haverá uma consumação, um desenlace. Não sei se espero um cumprimento literal disso tudo – isso não nos diz respeito no momento – mas sei que a realidade espiritual do momento é sinistra, desesperada e assombrosa em nossas vidas. Onde você está? Lá em baixo ou aqui em cima, espiritualmente? Isso determinará a sua utilidade para os outros. Você está por baixo ou por cima? Está rastejando ou está em ascendência com o Cordeiro, conhecendo a vitória? Isso determina o quanto você pode ser usado pelo Senhor hoje para ministrar aos outros. Apocalipse 14 trata de uma questão espiritual. Esse grupo é representativo com o objetivo de servir ao Senhor.
Precisamos buscar, em nossos corações, crer que os tratos de Deus conosco são sempre adaptados por Ele tendo esse objetivo em vista. Essa esfera é misteriosa para nós, mas é verdadeira. Eis o que quero dizer: quanto maior for a nossa compreensão, mais iremos perceber que os caminhos pelos quais o Senhor nos conduziu foram os únicos possíveis, naquilo que diz respeito a nós, para atingir o Seu objetivo. Com os outros Ele poderia adotar outros caminhos. Nossos caminhos com o Senhor são muito solitários, porque são apenas nossos, aparentemente. Muitos podem ter tomado o mesmo caminho, mas quando o trilhamos debaixo da mão do Senhor, é como se ninguém tivesse passado por eles antes, estamos sozinhos. Há muitas formas do Senhor lidar conosco, peculiares a nós, e estas são as únicas maneiras pelas quais Ele pode alcançar Seu objetivo em nós.
O Senhor nem sempre nos diz por que Ele retém, proíbe ou tira as coisas de nós. Por que Ele não nos dá aquilo que pedimos e desejamos, ou por que Ele tira de nós algo que nos apegamos? Ele não nos diz o porquê, mas uma coisa Ele sabe a nosso respeito: o quanto nós podemos nos tornar nos nossos próprios inimigos. Queremos algo, o Senhor o retém. Se o tivéssemos, isso nos causaria um mal maior. Gostaríamos de nos apegar a alguma coisa. O Senhor a tira de nós. Ele sabe que possuir isso iria nos fazer mal, e que o nosso próprio desejo tornaria aquilo nosso inimigo. O Senhor sabe disso tudo.
Alguns de nós passou por experiências suficientes para olhar para trás e lembrar dos momentos onde nosso coração estava posto em algo, e o Senhor não nos permitiu tê-lo ou tirou de aquilo de nós, e como naquele momento passamos pelas profundezas. Hoje agradecemos a Deus, de todo o coração, por Ele nunca ter permitido aquela situação. Hoje podemos dizer: "Posso ver o mal que aquilo teria me causado e como o Senhor foi bom em me causar aquela dor naquela ocasião”. Isto não é ficção, é pura verdade. Temos que acreditar que os métodos do Senhor conosco são adequados aos Seus objetivos, e Ele sabe exatamente o que está fazendo. Peça graça ao Senhor para acreditar nisso.
Precisamos crer, porque enquanto estivermos em uma controvérsia com o Senhor, magoados, Ele não obtém o que está buscando. É apenas a partir do momento em que, pela graça, dizemos: “Bem, Senhor, não entendo nada, tudo me parece uma contradição, mas Tu sabes o que está fazendo, e sabes que este é o único caminho para obter o que desejas. Confio em Ti a respeito disso tudo”. Se chegarmos a esse ponto, rapidamente o Senhor pode nos trazer ao ponto onde Ele pode suprir nossa necessidade de uma forma que facilita a realização de Seu propósito em nossas vidas.
Sei que estou dizendo coisas difíceis de ouvir, mas elas são verdadeiras. Lembre-se que o Senhor sempre apresenta diante do seu povo o Seu melhor e nunca o segundo melhor. Há uma alternativa, uma outra coisa, mas o Senhor nunca nos fala do segundo, Ele nunca se refere ao menor. Ele nunca diz: "Este é o meu primeiro, mas você pode ter este outro, se desejar”. O Senhor sempre sustenta diante de nós o Seu melhor, e tudo o que Ele tem a dizer é em relação a isso. Suas advertências, Suas exortações e apelos estão relacionados ao primeiro. Ele não faz provisão para os nossos baixos padrões. Ele não nos dá nenhuma garantia de que não fará diferença nenhuma para nós, se nós não seguirmos adiante com os cento e quarenta e quatro mil.
Será que não é exatamente isso que Paulo estava pensando e tentando descrever, quando escreveu aos Filipenses: “uma coisa faço" (Fp 3:13)? ‘Não tenho duas coisas em mente, como se a qualquer momento pudesse me sentir inclinado a não ser tão absoluto, tendo uma alternativa.’ Não! "Uma coisa faço, esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus" [Fp.3:13]. "Quem subirá ao monte do Senhor? E quem estará no seu lugar santo?" A resposta está no Monte Sião, atrelada a tudo o que significa estar lá com o Cordeiro.
Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.