por T. Austin-Sparks
Parte 2 – O Caráter do Vaso de Restauração do Senhor
Leitura: Isaías 58:6-14
Chegamos agora ao segundo ponto, o vaso de restauração, pois a restauração completa do testemunho conforme a mente de Deus é representada pelo trabalho de Neemias, especialmente no que tange a restauração do testemunho de Deus para o mundo e os homens.
Repetindo, o que temos em Esdras e Neemias é o testemunho de Deus acerca de Seu Filho Jesus Cristo, e isto, de uma forma tripla. O testemunho a respeito da Cruz, no altar, o testemunho sobre a Igreja, na casa, e o testemunho para o mundo, para as nações, para os homens, como no muro. Então, temos Cristo no centro e Cristo na circunferência. É a plenitude de Cristo do centro para a circunferência que está em vista aqui, e como a muro particularmente. Ele representa a definição sobre o que é de Cristo, e que não é de Cristo, o que está de acordo com o Filho de Deus, e que não está de acordo com o Filho de Deus, pois o muro é o limite, a linha de demarcação do que está dentro do testemunho de Jesus, e, do que está fora desse testemunho. Essas são observações gerais para ajudá-lo a compreender todo o significado deste livro.
Dito isto, chegamos a este segundo fator, o vaso de restauração - o homem, Neemias. Você, naturalmente, se lembrará que Neemias é uma representação. O que Neemias representava naqueles dias é o que Deus deseja que seja encontrado no final desta época, não, talvez - em um indivíduo excepcional, apesar de haver um aspecto individual relacionado a isso - mas especialmente em um instrumento corporativo, uma companhia, pela qual o Senhor irá restaurar este testemunho completo acerca de seu Filho. De modo que o que é dito de Neemias tem sua aplicação a esse instrumento em qualquer momento, quando esse instrumento é trazido à existência pelo Senhor para o Seu propósito.
É proveitoso e útil reconhecer a diferença que havia entre os dois homens que representavam este movimento de Deus, Esdras e Neemias, e havia uma diferença. Creio que podemos descrever a diferença desta forma: Esdras tinha mais do caráter de sacerdote, enquanto Neemias tomou mais as características de um profeta. Se você meditar na Palavra sobre essas duas conexões, você entenderá o que quero dizer. Esdras era um homem mais silencioso do que Neemias, talvez um homem mais tranquilo do que Neemias, podemos dizer que ele era um homem mais gentil que Neemias.
Neemias era mais áspero, era um homem marcado por ação - pronta e enérgica ação. Esdras parece ter sido mais marcado pelo pensamento - não que ele não fosse um homem de ação, mas se houvesse uma diferença entre esses dois homens, Neemias era mais um homem de ação do que de pensamento, mais do que Esdras.
Agora Neemias, em relação ao povo do Senhor, era gentil e atencioso, hospitaleiro e encorajador, e sempre procurou ser útil, mas em relação aos interesses Divinos, princípios espirituais, e os inimigos desses interesses e princípios, ele era intransigente, zeloso e ciumento; estrito e rápido, ele não dava voltas. Citamos isso porque ele marca um aspecto Divino das coisas. Os diferentes tipos são necessários para diferentes aspectos do propósito Divino; certas características pertencem a determinados pontos de progresso no que Deus está fazendo.
Para Esdras ser o construtor da Casa, o seu embelezador, exigia tranquilidade. Então, nele vemos a passividade, se preferir, um amor que edifica. Mas quando se trata da questão de elementos estrangeiros, alienígenas, misturados, e elementos hostis colidindo com as coisas de Deus, e o testemunho de Deus ser trazido à ruína e descrédito, e quando se trata de enfrentar as forças que estão consideradas mortas contra o nome e a honra do Senhor, então você mudou do primeiro capítulo de Efésios ao último, você foi do amor que edifica, para a guerra nos céus, e você tem características diferentes desenvolvidas. Assim, o caráter de Neemias entra em cena nesta fase.
Perceba que para assumir os interesses do Senhor em um dia em que as forças do mal são totalmente contra estes interesses e este testemunho, o Senhor precisa desenvolver elementos de guerra e características no Seu instrumento, e assim Neemias não é um homem brando como Esdras. Isto é superficial e perfeitamente patente, mas nos traz novamente uma ênfase sobre o que o Senhor busca no tempo do fim, quando estamos particularmente contra as forças estranhas aos interesses do Senhor, que estão tentando minar, reduzir e destruir Seu testemunho, e já obtiveram um ponto de apoio, como vimos nestes nove princípios que mencionamos anteriormente. Então este é Neemias. Vigor, comprometimento total é necessário em um dia como este.
Há uma brandura que se passa por amor, que pode trazer um grande dano ao testemunho. Ela permite que muitas coisas permaneçam em segredo, ocultas, coisas que estão trabalhando claramente contra o testemunho do Senhor, abafando-as com o que chamamos de amor e paciência, quando é necessário um Neemias para afastá-las. Quanto àquele que transgrediu, ele diz: "... eu o afugentei de mim." Ele fez mais do que isso, como alguns de vocês se lembram. Esdras e Neemias não precisam necessariamente representar diferentes momentos, mas apenas diferentes fases de responsabilidade em relação aos interesses do Senhor.
À medida que olhamos mais profundamente para o coração de Neemias, vemos que ele era um homem que tinha um grande encargo. Carregava em seu coração fortemente os interesses do Senhor e Seu testemunho. Seu irmão, Hanani, tinha chegado a ele de seu longínquo exílio, e relatou o estado de coisas em Jerusalém. É assim que o livro se abre, e o próprio Neemias nos diz como esse relatório o afetou. "E sucedeu que, ouvindo eu essas palavras, assentei-me, e chorei, e lamentei por alguns dias, e estive jejuando e orando perante o Deus do céus..." Há um grande encargo no coração. Este encargo nasce antes de tudo a sós na presença do Senhor.
Em seguida, a partir da presença de Deus, ele carrega esse encargo, e torna-se evidente que este homem tem uma preocupação. Apesar de si mesmo, a despeito do que se esperava dele, apesar de que era ilegal diante dos homens, o encargo do seu coração trai a si mesmo . "Então, eu era copeiro do rei. Sucedeu, pois...que estava posto vinho diante dele, e eu tomei o vinho e o dei ao rei; porém nunca, antes, estivera triste diante dele. E o rei me disse: Por que é triste o teu rosto, pois não estás doente? Não é isso senão tristeza de coração. Então, temi muito em grande maneira e disse ao rei: Viva o rei para sempre! Como não estaria triste o meu rosto, estando a cidade, o lugar dos sepulcros de meus pais, assolada, tendo sido consumidas as suas portas a fogo?" (Neemias 1:11, 2:1-3; ARC). Isso é suficiente para nos mostrar mais adiante algo sobre a natureza e a condição do vaso a ser usado pelo Senhor na restauração do Seu pleno testemunho, o testemunho acerca de Seu Filho. O vaso, que é um instrumento, é aquele que recebe grande pressão no coração diante de um estado de coisas tão claramente contrárias ao pensamento de Deus. Nós mostramos de que maneira era esse fardo de Neemias.
É uma coisa, amados, obter um tipo de preocupação pública sobre coisas e, em seguida, começar a fazer um grande barulho sobre isso entre os homens, para anunciar, demonstrar, e dar-lhes uma forma pública de expressão, esforço e organização. É possível que nos juntemos a alguma causa, ou tomemos alguma causa por nós mesmos, e, em seguida, fazer um grande caso dela: isso é uma coisa. E isso pode ter todos os tipos de elementos que ficam aquém do que é essencial e necessário do ponto de vista do Senhor. Uma coisa é chegar a uma situação de fora, e ligar-nos com ela e toma-la, e torná-la o trabalho da nossa vida, o interesse da nossa vida. É outra coisa quando o Senhor coloca em nossos corações, em secreto, uma carga quase insuportável, intolerável, que é a carga do Seu próprio coração, e para nós, antes de tudo carrega-la secretamente na presença de Deus em nossos corações, em um profundo derramamento em oração com dores de parto; é outra coisa se achegar aos interesses do Senhor dessa maneira.
Há muitas pessoas que poderiam se interessar por uma causa, a quem você poderia delegar um trabalho que requer ajuda, mas outra coisa é ter essa comunhão espiritual com Deus que resulta em Deus colocar o Seu trabalho de parto em sua própria alma. A diferença é que, no primeiro caso, a coisa é algo objetivo, nós vemos a situação e nos interessamos por ela, nós a tomamos, mas é separada de nós. A situação tem o nosso interesse, tem a nossa energia, os nossos recursos, mas é algo objetivo para nós mesmos. É uma obra de arte, um movimento, um testemunho - usando essa palavra em um sentido técnico.
A outra coisa é: diante do Senhor assumimos a responsabilidade. Você percebe aquele "nós" no capítulo 1, versículo 6 ? Neemias é uma parte disto e isto é parte dele. Você pode perceber como, em todo o tempo, quando lidando com esse assunto, ele usa a palavra "nós". Ele está separado de todo o problema, ou seja, ele não aceitou estas condições, ele não é responsável pelo estado de coisas, certamente ele repudia a coisa toda, e nem por um momento concorda com ela, e ele ainda se considera dentro como se ele fosse responsável, como se Deus pudesse colocar tudo isso em sua própria porta. A coisa chegou tão próxima ao seu coração que ele não está aqui e a situação lá, mas ele se encontra unido à ela. É o seu próprio fardo, e ele toma esta responsabilidade sobre os seus próprios ombros diante de Deus em oração, e ora dolorosamente sobre esta situação. Isso é estar dentro. Se o próprio homem tinha sido pessoalmente responsável pela destruição de Jerusalém, a destruição dos muros, e a condição moral terrível do povo de Deus ali; se ele tivesse sido aquele que trouxe tudo aquilo à luz, ele não poderia ter levado essa coisa mais a fundo no coração. Ele é como um homem que é acusado de ser o responsável por tudo.
Teremos mais a dizer sobre isso mais tarde, mas por ora é o suficiente para que possamos ver o tipo de vaso que o senhor precisa ter para realizar a Sua obra. Ele não quer que os “trabalhadores" assumam seu trabalho, Ele quer pessoas que sintam as dores de parto com Ele por Seus interesses espirituais. Ele não quer empregados, Ele quer filhos. Ele não quer especialistas, Ele quer que aqueles que têm uma paixão, aqueles em cujo coração as coisas são tão claras a ponto de fazerem com que se dobrem diante dele em uma angústia, que estão tão dentro do assunto que é seu assunto diante de Deus; é deles. Não é mera apreensão mental do ensino e da verdade, é um carga no coração, uma preocupação desesperada pelo Senhor, por causa de como estão espiritualmente as coisas entre o Seu povo.
Estamos nos exercitando assim? Somos movidos assim? Estamos envolvidos em coisas desse tipo? Temos tomado o trabalho para o Senhor, nos associando com alguma causa, ou tomamos o próprio peso de Deus e labor em nossas almas – isto para nós é algo que solapa a nossa vida, pela qual estamos derramando nosso próprio sangue, aquilo que custa tudo, e não podemos fazer outra coisa, não há a possibilidade de renunciar, desistir, algo está dentro de nós? Deus deve ter algo parecido no final dos tempos para o Seu propósito, e acredito que se não falássemos mais nada, isto já seria uma palavra desafiadora para os nossos corações.
Oh, vamos limpar a lousa de todas estas outras ideias de organizar algo, fazer algo acontecer, um movimento acontecendo. Veremos que Deus faz isso em dores de parto. Ele batiza uma alma na angústia, Ele a lança sobre um homem, ou alguma pequena companhia, o manto de Sua própria terrível decepção, insatisfação e sofrimento por causa do que Ele vê espiritualmente entre seu próprio povo.
É assim que Deus traz as coisas à existência. Os homens fazem isso de outras maneiras, mas este tem sido sempre o caminho de Deus. Custou a vida do instrumento todas às vezes. Isso não significa, necessariamente, que o instrumento tenha sofrido uma morte súbita, ou mesmo entregado a sua vida no martírio, mas custou ao instrumento sua vida. Estamos envolvidos em coisas desse tipo?
Tal é Neemias. Nós estamos vendo a mais profunda e secreta história dessas coisas, é diante de Deus, não diante dos homens. Oh, possa o Senhor nos salvar de ter a proeminência diante dos homens, e a menor medida diante Dele. Que possa tudo o que somos diante dos homens derivar daquilo que somos diante de Deus. Isso deve ser uma questão de exercício para nós, para você, para mim, e devemos pedir ao Senhor que a nossa vida secreta com ele relacionada a estes assuntos possa ser mantidas bem lado a lado de toda a nossa ministração pública e nossas atividades externas. Se o equilíbrio for do lado do que é público, e focado nos homens, haverá fraqueza e falha. Força e eficácia estarão de acordo com a medida da nossa história secreta com Deus. Então, partindo do lugar secreto, Neemias carregava o fardo do seu coração diante dos homens, mas não inicialmente para que os homens pudessem leva-lo em conta. Ele de bom grado, acredito, o cobriria, pois há medo quando ele percebe que foi detectado, traiu a si mesmo, talvez inconscientemente – mas certamente contra a sua vontade.
E ainda, a manifestação da carga tem um lugar certo quando vem desta forma; quando, aparentemente, os outros são capazes de levar-nos em conta e dizer: "Não há nada fingido nesta questão, não é algo meramente profissional, não é um hábito, algo pelo qual eles tem interesse, isso é algo que para eles é uma questão de vida e morte, esta é uma questão que vai direto ao coração deles”. E os homens são capazes de discernir se é assim ou não. Oh, as pessoas sabem, melhor talvez que elas percebam, quando algo é real ou quando algo é falso, se estamos falando de algo extraído de um livro, ou se estamos falando de nossos corações, se a coisa é algo que temos coletado, ou se é algo que nasce da angústia.
Agora estou falando com irmãos e irmãs que tem um ministério de uma forma mais pública. Posso impulsionar isso sobre vocês, que vocês sempre procurem ter os seus próprios corações profundamente exercitados em tudo o que vocês tem a dizer publicamente. Sim, isso vai custar, isso vai significar angústia, isso vai significar tristeza de coração, isso significará um preço, porém, amados, é a maneira para a fecundidade e eficácia espiritual, só assim o Senhor pode fazê-lo Seu mensageiro, em Sua mensagem, isto é, um sinal para o povo daquilo que você está dizendo. Assim os homens poderão dizer: "Sim, isso não é algo que eles leram ou estudaram ou prepararam, é algo que tem sido trabalhado na vida deles, e isto custou algo". Vai custar, mas é o caminho da eficácia e serviço frutífero.
E o que é verdade em relação ao ministério público será verdade em relação a qualquer instrumento que o Senhor vai usar para uma finalidade especial, tudo deve ser forjado nele, e não pode ser algo que foi adotado. O Senhor nos impede de adotar coisas, mas trabalha a coisa dentro de nós. Bem, este é Neemias, um homem com um fardo, um homem com uma preocupação, aquele cujo coração está profundamente forjado por Deus a fim de poder compartilhar as próprias dores de parto Divinas.
Agora, uma palavra quanto ao procedimento do homem. Primeiro existe o próprio homem, depois sua preocupação em relação ao testemunho, e então seu procedimento em restauração. Historicamente, aconteceram alguns fatos antes dele aparecer para assumir definitivamente o seu trabalho, e isso é importante que seja observado porque tem o seu lugar, podemos chamar de uma história de preparação. Houve os sinais de graça do Senhor, que eram básicos com o que se seguiu. O rei tinha percebido seu estado interior; diagnosticou seu problema como tristeza de coração, e lhe perguntou o que ele tinha, e você pode notar o que se segue: "Disse-me o rei: ‘Que me pedes agora?’ Então, orei ao Deus dos céus" - instantâneo, rápido e breve contato com o céu - "e disse ao rei ... ". Acredito, amados, que esses toques de resposta do céu, que representam o favor Divino, essas pequenas coisas de tão grande ajuda, como poderíamos chamá-las, relacionadas com esta questão, onde Deus apenas dá indicações de qual é o Seu caminho, de que Ele está nisto - sinais favoráveis - Eu acredito nessas coisas que representam o que muitas vezes acontece quando o Senhor vai fazer algo de novo em relação ao seu testemunho.
O Senhor introduz o que Ele vai fazer, através de certas indicações de favor, podemos dizer. Atualmente, encararemos duras realidades; a fé será bem testada, as dificuldades aumentando, acumulando, mas tem havido essas pequenas indicações do favor do Senhor, apontando que Ele está conosco, e que este é o seu caminho. Elas não podem continuar, mas existe um pequeno espaço onde o Senhor parece dar testemunho de várias maneiras úteis. Ele constitui algo que, em dias de dificuldade, de trevas e adversidade, nos fará sempre lembrar como sendo a forma do Senhor de nos mostrar que esse era o trabalho da nossa vida, este é o caminho da Sua vontade para nós. Acho que alguns de vocês sabem do que estou falando, e podemos olhar para trás, para um tempo quando estávamos no começo de uma experiência de vida, serviço, um novo movimento de Deus em nós e através de nós. Haviam marcas, claras marcas do favor Divino, e as coisas se moviam linda e maravilhosamente, era tudo muito romântico, tudo muito maravilhoso, estávamos cheios de admiração com a forma como o Senhor estava fazendo as coisas, facilitando e ajudando. Essa foi uma fase: que se passou, e as realidades sombrias seguiram, mas não nos esquecemos daquele tempo. Assim foi com Neemias. Para este período curto, tudo parecia estar a seu lado, com ele, haviam esses toques favoráveis do Senhor.
Bem, isso é muito bom, e isso é um período preparatório, que deve ser valorizado, mas se ele passar, não pense que as coisas deram errado. O Senhor estava te colocando no caminho, mas Ele não vai mantê-lo no caminho pela visão, Ele vai fazer você andar no caminho pela fé. É assim. Coisas extraordinárias acontecem no início, e essas coisas notáveis nem sempre continuam a acontecer. Diz-se que porque algo é tão verdadeiro para a vida e experiência, é uma coisa que não deve ser esquecido a medida que estudamos este movimento de Deus. Muitas vezes, o coração olha para trás para esses períodos, e implora para experimentá-los mais uma vez e diz: "Onde está a bênção que eu experimentava quando primeiro eu vi o Senhor", há um anseio por ter os primeiros selos de Deus repetidos uma e outra vez; mas não, você avança além disso.
Agora a ajuda do Senhor é para que você entre no caminho, a fim de não levá-lo para uma armadilha e deixá-lo. Você tem que aquela vida como pano de fundo, e você sabe que tudo veio do Senhor, o Senhor fez isso. Nós não estamos neste caminho pela nossa própria vontade, ímpeto, esforço, planejamento, métodos, o Senhor nos trouxe, e nos favoreceu com as claras indicações que era o Seu caminho. Naquela época, os sinais que aquele era o caminho do Senhor eram inconfundíveis, não havia dúvida sobre isso, o Senhor maravilhosamente colocou nossos pés nesta estrada e, embora tenhamos chegado a um ponto em que deixamos de ter esses sinais evidentes de atos e empreendimentos divinos, não houve nenhuma dúvida de que a nossa vinda a este caminho era do Senhor.
Neemias encontrou coisas desagradáveis mais tarde, mas, sem dúvida, ele sempre se lembrou da maneira maravilhosa em que o Senhor facilitou o início daquilo para o qual ele foi divinamente trazido. Pode ser que o Senhor continue a dar-lhe em sua caminhada tais sinais, mas isso será a exceção e não a regra. Se ele fizer isso, não espere que você encontrará o seu caminho repleto de flores. Muito provavelmente você vai encontrar o fim das rosas e o início dos espinhos, mas o Senhor indicou que estava certo, era Seu caminho, por ajudar no início, e agora você tem que ir pela fé. Essa foi uma fase preparatória com Neemias.
Agora eu quero chamar a atenção para a vida de oração de Neemias. Como esta vida de oração era a base de tudo. Você deve ler o livro novamente só para levar este assunto em consideração. Você descobrirá que a vida de oração de Neemias era algo muito real e muito persistente. Podemos quase dizer que era uma coisa contínua, mas não era sempre do mesmo tipo.
Neste primeiro capítulo, você tem a profundidade, o borbulhar secreto de seu coração a Deus. Ele está com o Senhor sozinho, e em uma forte oração de esvaziamento, ele se derrama diante Dele. Ele pôde fazer isso, lembre-se. Essa é uma fase de sua vida de oração, ele pode fazê-lo e ele o faz. Mas, a medida que você lê, perceberá que não era sempre assim. Sua oração era, frequentemente, o que podemos chamar de ejaculatório: "Então orei ao Deus dos céus". É como se fosse uma ejaculação, uma elevação súbita do coração. Não há tempo para o derramamento do coração. Aqui está uma situação de emergência, uma situação difícil, algo surgindo que não permite ficar a sós com Deus e derramar o coração, mas apenas permite apresenta-la ao Senhor, em um momento, um contato com o céu, mas ele estava em contato com o céu. Essas duas formas de oração devem caminhar juntas.
Ouvimos muitas pessoas dizerem: 'Sim, bem, eu posso orar em qualquer lugar, eu posso orar em um ônibus ou um bonde, ou andando na rua’. Muitas vezes as pessoas dizem isso para se escusar do derramamento secreto do coração diante do Senhor. Cuidado com isso! Eu não acredito que vamos obter respostas súbitas do céu para orações súbitas, a menos que tenhamos um pano de fundo de oração. Eu não acredito que possamos ter um contato de emergência com o céu se não tivermos no pano de fundo uma vida profunda com o céu.
A vida de oração de Neemias traz essas duas coisas juntas, isto porque ele tinha uma vida de oração em segredo com Deus, onde, como ele podia, ele se derramava diante de Deus, então no momento da emergência, ele já estava em contato com o céu, e o céu respondia. É importante ver isso. Mas quando dissemos que devemos observar o fato geral, que um instrumento, um vaso, ou um trabalho como o de Neemias no tempo do fim, relacionado à vinda do Senhor, é essencialmente um vaso e um instrumento com uma forte vida de oração secreta com Deus, e para o trazer do céu em caso de emergência, é essencial que haja um pano de fundo de um ministério de oração.
Parece-me que Neemias não fazia nada sem oração. Parece que em cada passo do caminho, ele levantava o seu coração para o Senhor, em cada situação, pergunta, dificuldade, ele estava em contato com o Senhor. Ele era um homem que fez da oração seu terreno de ação, em cada ponto, em cada direção.
Agora, se isto lhe interessa ou não, não é a questão. A questão é, vamos ser um instrumento de Deus para o Seu propósito mais profundo? Se assim for, deve haver uma vida de oração. Tem que existir um lugar com o Senhor à parte e sozinho, onde possa haver o derramamento de coração, e então, a partir disso, um contato constante com o Senhor, à medida que avançamos em seus interesses de ponto a ponto. A vida de oração de Neemias é algo para se estudar.
Depois, há a questão do agir, a ação que tomou Neemias. Ele agiu, e isso é algo a se levar em conta. Há muitas pessoas que têm encargos e preocupações, mas que nunca fazem mais do que lamentar a situação como ela é, que nunca vão além de lamentar. Eles estão eternamente falando sobre as más condições. Toda a conversa é sobre como as coisas estão erradas, e assim eles vão lamentando o estado de coisas, falando e nunca fazendo nada.
Neemias não era assim. Neemias era muito profundamente ligado à situação e a levou muito a sério, mas ele não se limitou a lamentar, e ele não se limitou a pregar sobre isso. Não devemos cair no caminho de criticas ao povo do Senhor por não está onde pensamos que deveriam estar, por não sabe o que nós pensamos que deveriam saber, por nunca chegarem ao ponto em que chegamos, e, portanto, considerá-los como abaixo de nós, e falarmos sobre eles assim: “Eles não têm a luz, você sabe". "Eles não entraram na verdade, você sabe."
Sim, podemos até ir além disso, e denunciá-los pelo seu atraso; denunciá-los, porque eles não têm a luz. É fácil entrar no caminho de condenação, desenvolver um espírito de condenação, de julgamento. Isto não te custa nada. A verdadeira questão é: 'O que vamos fazer sobre isso?' Neemias, com toda a sua percepção e discernimento das coisas, e toda a sua dor no coração, não foi até as pessoas e disse: “Olha aqui, você está todo errado, você está totalmente fora do caminho, você está em um estado ruim", ele foi até eles e disse: "nós estamos em um estado ruim, estamos em um mau caminho". Ele desceu ao lado deles como se estivesse onde eles estavam, e ele iria ajudá-los a subir até onde ele viu que deveria estar, e para o lugar onde ele mesmo em espírito, já estava.
Esta é uma questão que devemos reconhecer. Você vê aqui uma daquelas leis daquilo que se chama a Igreja, o Corpo, e o corpo físico é levado à Palavra como uma ilustração da Igreja, que é o Corpo de Cristo. Suponha que uma mão e um braço estivessem errados, talvez desconjuntados e todo um lado foi afetado, e as coisas não estão funcionando direito, há desordem, talvez doença, talvez uma doença muito dolorosa nestes membros, naquela parte do corpo. Se a outra mão e braço se levantassem e dissessem: “Você está todo errado, você não deve ser assim, nós não nos relacionamos com você em nada, nós não temos nenhuma associação com você, nenhuma ligação", isso é verdade? "O corpo é um". Você não pode separar dois ou três dos membros de seu corpo, e colocá-los em um único lugar e o resto em outro lugar e ainda ter um corpo completo.
Não, o verdadeiro fato de ser um organismo significa que você é um corpo, e se um membro sofre, todos os membros padecem com ele. Sendo um organismo, e não uma organização, cada membro - embora sua condição possa não ser tão ruim quanto a de alguns outros membros - está envolvido por sua própria vida no estado do outro. O corpo tem uma vida, tem um sistema nervoso, é um todo corporativo. Este princípio está aqui - "Nós" – e a lei do Corpo é esta: se existem aqueles que estão fora do caminho, que não tem luz, verdade, vida, como pensamos que deveriam ter, sendo um corpo, amados, não podemos viver desconectados deles. Estamos conectados pelo próprio fato de sermos um organismo espiritualmente vinculado a eles, uma parte deles, e o Senhor não vai decompor este Corpo ao meio e cortar a metade que está mais atrasada que a outra.
Oh, não! Esse não é o caminho do Senhor. O Senhor não divide o Corpo, o Corpo é um todo, e você vai notar percorrendo a Palavra do Senhor, que o Senhor traz a alguns membros uma preocupação real para com os outros, a fim de trazer os outros para um lugar onde Ele deseja tê-los. E Neemias, embora espiritualmente muito acima dessas pessoas em seu estado, muito além deles, desce lá e diz: "nós".
Agora, acredite em mim, sinto tão fortemente que o que o Senhor quer é que nunca haja o sinal daquela divisão que é o fruto de qualquer tipo de superioridade de luz e conhecimento e verdade, que coloca os outros que não têm luz e verdade em um lugar inferior; relega-os para outro bairro, e considera-os como algo fora do povo do Senhor. Isso não deve acontecer, e nossa atitude, a atitude de qualquer um que pode ter recebido mais luz para fins de ministério - não só para si - para todo o Corpo, a atitude desses para com os outros deve ser a de estar no lugar onde eles estão, para ajudá-los, e não para julgar, criticar, condenar.
Oh, não, o Senhor não nos recompensará porque temos mais luz, mas de acordo com o que fizemos com a luz que Ele nos deu. Haverá muitos dos filhos do Senhor na glória que não tinham a metade da luz que você e eu temos, e eles vão compartilhar a Sua glória, tanto quanto você e eu iremos, mas com base no que eles fizeram com a luz que tinham. A responsabilidade é de acordo com a luz. A nossa responsabilidade será ainda maior se tivermos mais luz. Nossa atitude para com todos aqueles a que podemos achar - e ter uma boa razão para se achar - que estão muito aquém do que o Senhor quer que eles sejam, deve ser de sincero e humilde afeiçoamento e desejo de descer prestativamente ao lado deles, não nos separarmos e viver separados, e considerá-los como aqueles que não têm a luz.
Temos de ir para fora, como Neemias fez e dizer: "Estamos envolvidos nisto". Se existe um mau estado, estamos envolvidos; apesar da luz que temos, estamos envolvidos nisto. Nossa responsabilidade pela luz nos envolve, e devemos assumir a responsabilidade pelo estado das coisas, e trabalhar com Deus contra elas, em amor, em companheirismo. Assim fez Neemias.
Oh, que o Senhor possa falar ao nosso coração muito diretamente através desta palavra, e fazer-nos ver que há algo que Ele precisa, algo que deve existir para que Ele seja plenamente satisfeito, que as coisas com o Seu povo não estão como Ele gostaria, que o pleno testemunho de Seu Filho não está sendo representado como Ele teria representado. A fim de que isto aconteça, Ele deve ter um instrumento, um vaso, e estas são as coisas que devem caracterizar um vaso desse tipo: energia contra todas as concessões e mistura nas coisas de Deus, um grande fardo no coração pelo testemunho do Senhor; assumir a responsabilidade pessoal pelo estado das coisas, um contato profundo e contínuo com Deus pela oração; agir em comunhão com Deus para a restauração, e não apenas lamentar o estado de coisas.
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