por T. Austin-Sparks
Parte 1 – Condições do Tempo do Fim
Há algum tempo, o Senhor tem colocado a mensagem do livro de Neemias em meu coração e acredito que chegou o tempo de transmiti-la ao Seu povo. Creio que existe algo aqui que pode atingir a necessidade do tempo presente, de uma maneira muito real, por ser um tempo em que o povo do Senhor tem necessitado de ajuda para enfrentar as muitas atividades colocadas pelo adversário, as quais visam tirá-los ou evitar que cheguem ao lugar onde Ele [o Senhor – nota do tradutor] tem tudo o que o Seu coração deseja neles e através deles. Esta primeira parte será ocupada com alguns princípios que norteiam este livro.
O primeiro princípio é que o livro de Neemias representa um mover relacionado ao tempo do fim. Este é o último fragmento da história registrada antes de chegar ao Evangelho de Lucas. Se isso tem impressionado você suficientemente eu não sei, mas realmente é fato que o próximo registro histórico no Canon das Sagradas Escrituras é o Evangelho de Lucas. Então, no que se refere à antiga dispensação, temos aqui uma atividade final. O conteúdo deste livro mostra o que Deus fez no fim daquela dispensação e prefigura o tipo de coisas que o Senhor fará no fim dos tempos.
O que segue paralelamente a isso é que o Livro de Neemias está totalmente relacionado à vinda do Senhor. Lucas traz o Senhor Jesus de uma maneira imediata. O encontramos no templo, rodeado por alguns que representam o remanescente vindo da velha dispensação e que trazem o testemunho para a nova – de fato, o testemunho foi representado por poucos quando o Senhor Jesus veio – Simeão, Ana e alguns outros que buscavam a consolação de Israel, pelo Cristo do Senhor. Eles foram achados com o Senhor em Sua Casa, no Evangelho de Lucas, sendo isto o próximo fragmento histórico após Neemias. Assim, você verá que o link entre Neemias e o primeiro registro histórico de Lucas é a Vinda do Senhor.
Juntando estes dois pontos, você terá a base que fundamenta o valor duradouro deste livro. Ele descreve uma atividade final relacionada com a Vinda do Senhor.
Agora, vamos ao livro e em algumas observações que chamaremos de tipologia deste, que são seus típicos elementos e características. Antes, temos que associar outro livro a este, o livro de Esdras, porque os dois são um. Nas Escrituras Hebraicas Esdras e Neemias não são separados, mas cada um é tratado como complemento do outro. Em Esdras, como sabemos, temos a Casa de Deus em vista; Já em Neemias temos o invólucro, que são os muros de Jerusalém. Ambos nos falam do testemunho do Senhor aqui na terra.
Em Esdras encontramos a ordem introduzida. Para ordenar as coisas, primeiramente foi estabelecido o altar, o grande altar, no seu lugar: “E firmaram o altar sobre as suas bases” (Esdras 3:3 – A.R.C). Então, depois que o altar foi colocado no seu lugar, a Casa de Deus foi edificada; e depois que a Casa foi edificada, o muro foi reconstruído. Esta é uma ordem tripla. Primeiro temos o altar, que tipifica a Cruz, sendo a base para toda a atividade Divina, e então a Casa, que representa a Igreja, como resultado da Cruz ser colocada no seu lugar. É importante entender os aspectos das coisas, bem como a sua ordem. A Casa é aqui apresentada sob a direção Divina, o que é para Deus, e o que é em si mesma. E então o muro é o testemunho para o homem em direção ao mundo. Esta é a ordem e o aspecto dos fatos. Vamos uni-los de novo, de forma breve: o Altar – a Cruz, base para toda a atividade Divina; a Casa – a Igreja, resultante da Cruz, emitindo dela, seu aspecto relacionado à Deus e daquilo que é em si mesma; e então o Muro como um testemunho da Cruz e da Casa, exteriormente, relacionado ao homem e ao mundo.
Aqui se nota que a Cruz é vista como básica das forças hostis. Isso não significa que as forças hostis deixaram de existir ou de incomodar. Elas não são aniquiladas pela Cruz, e estão em evidência depois dela. Mas existe aqui um fator relacionado à Cruz que representa a libertação das forças hostis. Esdras 3:3 nos diz que eles colocaram o altar no seu lugar: “... porque o terror estava sobre eles, por causa dos povos das terras”. Então, o medo dos povos os conduziu a este passo. Observando por outro ângulo significou, ou implicou, que a Cruz – o altar – foi o terreno de sua salvação, segurança e libertação dos povos hostis ao seu redor. A Cruz é básica para libertação. As forças não deixarão de incomodar; o antagonismo do inimigo não se tornará insignificante. Haverá um grande volume de desafios, pressionando e assaltando, mas existe algo básico relacionado à Cruz que nos fala de segurança, salvação e libertação. Pela Cruz, diz o Apóstolo, Ele triunfou: “E, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo (na Cruz)” (Col. 2:15 – A.R.C). Temos a base na Cruz.
A Casa evidencia uma ordem celestial estabelecida no povo do Senhor. Ela é resultante da obra da Cruz, o assunto da Cruz, porque até que a Cruz tenha feito sua obra, nada celestial pode ser trazido. A carta aos Efésios nos vê nas regiões celestiais, onde fomos vivificados com Ele, elevados e assentados; mas vivificados tem relação apenas com aqueles que morreram. Então, a Cruz vê uma ordem terrena e humana colocada de lado e, consequentemente, a Casa de Deus, surgindo depois da Cruz, representando uma ordem celestial, não humana, estabelecida no povo do Senhor.
O muro determina o testemunho do Senhor, separando tanto o que é do mundo, como os que são meros professantes. Se me fosse pedido para definir o testemunho aqui, eu diria que é o testemunho que está na ressurreição. O fato dos muros terem sido “erguidos novamente” nos fala do que foi trazido da destruição, desintegração e morte, e então reconstituído. Mas eles estão em associação com os céus de uma forma marcante, e a característica que eles representam preeminentemente é a sua distinção. É uma distinção do testemunho, pois é representado pelo que é vivificado, o que está em ressurreição. Existe uma tremenda diferença entre isto e o que morreu, o que já foi e não é mais. O testemunho de vida e natureza de ressurreição é algo muito diferente. Dessa forma, o muro representa distinção de testemunho, caracterizado pelo que é ressurreto e celestial.
Após dizer tudo isto de uma maneira geral, como introdução, somos capacitados a ir adiante com o livro mais completamente, e vamos adotar como primeiro ponto de consideração a chegada de Neemias em Jerusalém. Vamos seguir o próprio Neemias como um vaso de restauração e depois acompanhar o caminho de restauração. Mas penso que não vamos seguir muito adiante no sumarizar as “coisas como eram”. Tenho certeza de que cada característica será em si mesma muito desafiadora aos nossos corações, e para os nossos dias.
Gostaria de dizer, como parêntesis, que não é meu desejo, em momento algum, de apenas acumular verdades ou matérias bíblicas a favor de um assunto ou tema. Mas que o Senhor verdadeiramente possa nesse tempo do fim obter o que Ele busca, e que a medida que falarmos destas coisas o Espírito Santo possa nos confrontar com elas em relação ao Seu propósito.
Agora, voltando para o livro de Neemias, lendo-o todo e marcando as coisas que representavam as condições no tempo de Neemias, você descobrirá que é apresentado um cenário deplorável. Em primeiro lugar, o claro testemunho da Casa de Deus estava destruído. As coisas contras as quais Esdras tanto resistiu, estavam ocorrendo novamente e revivendo. Aquele belo movimento que foi trazido através de Esdras, restaurando a verdade da Casa de Deus; aquele abandono das coisas que eram contrárias ao testemunho e a Casa, sofreram um colapso e os males antigos ergueram suas cabeças novamente. O testemunho estava em um estado de fraqueza e ineficácia.
A medida que percorremos o livro de Neemias, tendo Esdras como pano de fundo – estando o livro de Esdras ainda fresco em nossas mentes, com tudo que ele contém – vamos ficar surpresos e impressionados que nos dias de Neemias, aquelas coisas não eram mais reconhecidas e apenas veem a luz a medida que Neemias entra em cena para fazer algo em conformidade com a mente de Deus. É sempre assim. Você nunca sabe o que é mau ou o que é contrário a Deus, até que chegue ao propósito Dele de todo o coração, e então descobre coisas que você não acreditava que existissem. Estas coisas estão adormecidas, estão ocultas, caminhando silenciosamente, segurando e agarrando a vida do povo, destruindo o testemunho do Senhor, e elas só saltam como atividade e vida manifesta quando algo positivo para Deus entra em cena.
Veja algumas destas coisas. Muitos do povo do Senhor (falando historicamente aqui, os Judeus) foram vendidos como escravos entre os seus próprios irmãos. O povo do Senhor estava comercializando uns aos outros, estavam buscando o seu próprio bem e ganho à custa dos seus irmãos, sustentando suas próprias posições através da humilhação e degradação de seus próprios irmãos; e eu não tenho tanta certeza de que isto não tenha uma contrapartida espiritual. Eu não sei o que algumas pessoas fariam se elas não tivessem outros sobre os quais se constituíssem senhores, e não fossem capazes de transformar a herança do Senhor em algo para seu próprio benefício e conta. Isto se aplica às formas simples e extremas. Pode ser aplicado de forma simples àquelas críticas nada santas e pouco amáveis entre o povo de Deus, que, no final das contas, somente implica que somos melhores que eles, e nos engrandece às suas custas. Eu me pergunto quando das nossas criticas uns ao outros não tem essa motivação secreta.
Oh, aquele eterno, perpétuo “mas”; sempre uma reserva! “Você sabe que eles amam o Senhor, mas...”; “Eles são muito zelosos pelo Senhor, mas...”; “Eles são tudo de bom, mas....”; e aquele “mas” emerge maior do que todo o bem, e enfraquece todo o bem.
Muitos de nós usamos aquele “mas” motivados pelo nosso julgamento superior, pelo nosso orgulho. Quero dizer que frequentemente nos colocamos no topo por fazer os outros parecerem pequenos; e ganhamos, ou procuramos ganhar nossa proeminência, nossa posição, nossa influência por esta forma de orgulho que causa prejuízo aos filhos de Deus. Esta pode ser uma simples ilustração espiritual deste ponto.
Toda força das exortações do Novo Testamento está em outra direção. A ênfase é que deveríamos colocar os outros acima nós, considerando-os superiores a nós. Esta é a direção oposta. Isto é muito difícil para a carne fazer. Por isso que temos que enfatizar o fato de que o testemunho de algo celestial na Casa de Deus deve ser mantido em plenitude e clareza. A Cruz deve vir primeiro e agir direto na raiz deste orgulho, desta arrogância, desta autossuficiência, autoestima, desta “humilde” crítica que fazemos que, afinal de contas, é a verdadeira essência do orgulho; e se evidencia de muitas maneiras, como de fato acontece; dominando sobre a herança de Deus, tomando posições e tornando os privilégios e oportunidades do serviço como ocasião para nossa posição.
Falando de outra maneira, na forma do Novo Testamento, temos: os discípulos, antes de serem batizados com o Espírito Santo, eram homens que sempre estavam buscando oportunidades de estar acima dos seus irmãos, e de levar vantagem sobre os outros, buscando sempre o primeiro lugar. O Senhor Jesus teve que os advertir com fortes palavras: “Eu, porém, entre vós, sou como aquele que serve”; “... o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir...”. Este é o espírito da Cruz. Acredito que você consegue ver que existe indiscutivelmente uma contraparte espiritual para isto, quando outros são tornados meios para o nosso ganho, quando nós – em um sentido espiritual – vendemos nossos irmãos à escravidão para nossa vantagem. Você pode se aprofundar nisso se desejar.
Outra coisa que é evidenciada neste livro é que muitos do povo do Senhor, os Judeus, estavam falidos, em parte devido às hipotecas ou por vender seus filhos e filhas à servidão. Isto quer dizer que eles não estavam vivendo dentro dos seus direitos. Eles foram reduzidos à pobreza e não tinham recursos próprios; dignidade e honra estavam em falta, eram eles um povo devedor.
Isto também possui uma contraparte espiritual. Eu imagino, amados, o quanto isto é verdade para nós mesmos, e para muitos do povo do Senhor hoje, que não estão vivendo de suas próprias posses; se as coisas fossem ponderadas (avaliadas, pesadas – nota do tradutor), elas seriam achadas insolventes. Explicando de maneira mais simples, quantos de nós conhecemos em nós mesmos as riquezas de Cristo, e quantos de nós estamos em uma falsa posição de ter que viver às custas das riquezas dos outros? Quero dizer, se tudo aquilo que serve de ajuda espiritual externa fosse tirado; as reuniões, o companheirismo, se excluíssemos todas essas coisas, quantos de nós iriamos descobrir que estamos vivendo das nossas próprias posses e, ou em última análise, absolutamente independente dessas coisas externas? Enquanto podemos desfrutar delas, ganhar algo delas, e graças a Deus por elas, não são as coisas exteriores que constituem nossa vida, mas é o nosso conhecimento da preciosidade do Senhor, e, uma vez que tudo que é exterior seja tirado de nós, estamos solventes, podemos nos levantar e dizer: “Sim, mas você não pode tomar minha herança. Eu tenho uma herança em Cristo que não depende de reuniões, conferências, endereços, ou qualquer outra coisa exterior, mas está na minha própria vida interior com o Senhor. Eu O conheço”.
Amados, este deve ser o caso no tempo do fim, que o Senhor vai chamar muitos do Seu povo para encarar situações como esta para sua própria revelação e descoberta. Estou certo de que o Senhor vai requerer, no tempo do fim, que cada filho dEle O conheça de uma maneira interior e pessoal, para sua própria suficiência e satisfação em Cristo. E ainda que as coisas exteriores sejam removidas, possam sofrer um colapso, possam desapontar, encontraremos plenitude em Cristo para nós mesmos.
Você está solvente? Está endividado? Está vivendo inteiramente daquilo que outras pessoas tem para te dar? Isto tem sido o seu sustento? Ou você está vivendo daquilo que obtém do Senhor? Se é assim, se você tem algo que é seu, você terá algo para dar e você não está em um estado de mendicância, pobreza, como aquele povo estava. Me alegra o fato de Neemias ter redimido o povo que havia sido vendido à escravidão e os trouxe de volta aos seus direitos por herança. Fico feliz por Neemias ter acabado com o negócio de empréstimo e venda dos filhos para sustento, fazendo com que todo homem pudesse se colocar de pé diante de Deus e se sustentar com seus próprios recursos. Isto é uma importante reflexão espiritual para o povo de Deus e representa um movimento do tempo do fim, porque temos vivido muito tempo apoiados em meios de graça externos, e muito pouco apoiados naquilo que o Senhor, somente Ele, é para nós.
O templo foi poluído pelos gentios e estava sendo usado com propósitos seculares. Acredito que isso não tem necessidade de aplicação, pois as duas coisas andam juntas. Quando os que não têm o sangue puro por direto nascimento do alto – gentios nesse sentido implicam que não eram filhos de Deus – entram na Casa de Deus, e tem um lugar em meio ao povo do Senhor, você rapidamente percebe que a Casa de Deus é voltada para a direção dos interesses e usos que são conjuntamente contrários a mente do Senhor. Ela é trazida para a terra. A Casa de Deus é transformada em algo terreno, tirada do seu lugar. O inimigo está sempre tentando fazer isto. Sua estratégia persistente é inserir no meio do povo do Senhor pessoas que não são realmente nascidas de novo, mas que são assumidas e presumidas como sendo; que entram como povo de Deus, mas que não são; e o propósito da presença destes é introduzir na Casa de Deus julgamentos e métodos terrenos, caminhos humanos, pensamentos de homens, e então rebaixa-la ao nível carnal de vida. Este é um dos persistentes e muitas vezes bem sucedidos golpes de mestre do diabo. Certamente vemos isso hoje, porque é amplamente difundido. Isto não precisa ser dito, percebemos essas coisas ao nosso redor.
Mas Neemias, como representante do movimento de Deus no tempo do fim, colocou um ponto final nisto. Ele purgou a Casa de Deus dos gentios e fez com que ela fosse mantida de acordo com o pensamento de Deus. Aqueles pensamentos e caminhos humanos foram colocados para fora. Ninguém pense, é claro, que eu estou falando da Casa de Deus no sentido material, como as igrejas e lugares onde as pessoas se reúnem. Esta pode ser uma aplicação disto, mas eu estou pensando no povo de Deus, que é chamado para ser para Ele um povo celestial, no meio daqueles em quem o inimigo está constantemente tentando imprimir princípios carnais, atividades e energias naturais para rebaixar das regiões celestiais o seu testemunho e assim torna-la algo terreno, conduzido por homens. Neemias não aceitou isso, ele combateu essas coisas, representando, desta forma, o que Deus terá no tempo do fim.
Novamente o sábado estava sendo negligenciado. É impressionante o fato de que depois de Esdras o sábado tenha perdido o seu lugar, tenha sido negligenciado, colocado de lado, esquecido e ignorado. Permitam-nos logo dizer que agora estamos pensando na contraparte espiritual e neotestamentária deste fato; não no dia da semana. Enquanto ainda agradecermos a Deus pelo dia do sábado como um marco de tempo e enquanto nos apegamos a isto, nós seremos erguidos no nosso entendimento para um nível mais alto e vamos ver que o sábado é o tipo histórico do fim da obra de Deus, quando Ele entra no descanso no Senhor Jesus; que o Sábado fala de uma realização completa de toda obra de Deus na Pessoa de Seu Filho. Deixe de lado, ignore, esqueça a finalidade da atividade divina em Cristo e você perderá o seu descanso, perderá a sua paz, estará vagando em círculos no deserto, caminhando no terreno do imperfeito e incompleto. Você ainda não chegou a se estabelecer naquele terreno que proclama “Está consumado”.
A alma que absorve espiritualmente a obra consumada de Cristo é uma alma em descanso, que entrou no descanso de Deus. Ela é libertada da tirania do diabo, que está sempre buscando trazer acusações e condenações, apesar do fato da obra consumada de Cristo dizer que não há condenação. Toda essa inquietação, febril introspecção, autoanálise, egocentrismo – nunca em descanso, nunca sossegado, nunca seguro, nunca certo de nada – é consequência do sábado ter sido negligenciado. Para nós, o sábado é uma Pessoa e não um dia, e desta forma todos os dias devem ser um Sábado para nós. Estou certo que este é o significado mais profundo dessa palavra magnífica que todos citamos como fragmento da Escritura, um texto, “A alegria do Senhor é a nossa força”.
Qual é a alegria do Senhor? “Deus... descansou de toda a Sua obra...”; “Deus viu tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom”; e esta obra toda inclusiva é Cristo em Sua completa obra pela Sua Cruz. Deus viu a nova criação em Cristo e disse: “É bom”. “A alegria do Senhor é a nossa força”. A finalidade da satisfação de Deus está em Cristo. Ignore e perca isso e você perderá o Sábado de descanso, o descanso do coração. E foi exatamente isso que aconteceu lá. Mas Neemias o trouxe de volta, e um movimento do tempo do fim representa a restauração da finalidade da obra de Cristo, a plenitude da Sua satisfação para o Pai, e o povo de Deus sendo trazido a isto. Oh, amados, a importância disso nunca pode ser superestimada, porque contra isto que peleja o adversário.
Eu vejo dois movimentos marcando o tempo do fim: por um lado o inimigo tentando roubar o povo de Deus do seu descanso, certeza, paz, segurança, confiança, e os cercando de dúvidas, medos, apreensão, tirando o terreno de confiança debaixo dos seus pés; O Acusador dos irmãos surge desta maneira no tempo do fim, de forma intensificada. Contra isto, Deus traz de volta a plenitude e finalidade da Sua obra em Cristo, colocando Seu povo no Seu descanso sabático, dirigindo seus corações para Ele, dizendo: “Este é o Meu Filho amado, em quem me comprazo”: “Você é aceito Nele, Eu estou satisfeito” Tudo está Nele. Traga de volta este testemunho do Senhor Jesus no tempo do fim, o qual se tornará um grande fator de combate. “Neemias”, seja ele um homem, ou seja um instrumento corporativo para restauração no tempo do fim, deve ter como parte importante do seu ministério, o estabelecimento do sábado neste sentido.
Novamente muitos do povo de Deus haviam se casado com mulheres estrangeiras e, por isso, sua distinção foi perdida. Neemias destruiu essas uniões e forçou os transgressores a enviar suas esposas de volta às suas próprias casas e países, defendendo assim o princípio divino. Agora, a contraparte espiritual não é que aqueles que têm maridos ou esposas não convertidos devam deixa-los ou negligencia-los, apesar de que eu temo que muitos podem estar fazendo isso. Uma vez que o marido ou esposa não tem o Senhor, os interesses do Senhor no coração, eles saem para muitas reuniões e os deixam sozinhos. Não caia nesta armadilha. Não, a contraparte espiritual é que essas mulheres do Velho Testamento sempre representam princípios. Mulheres, como sabemos, através da Bíblia, são tipos de princípios, e o que está tipificado aqui é a aliança, o relacionamento, a associação com princípios que são estrangeiros àquilo que é totalmente de Deus; e qualquer associação voluntária com tais princípios destrói a distinção espiritual que deve caracterizar o povo de Deus.
Isto cobre uma área muito grande e inclui muitas coisas, mas esta é a aplicação inclusiva deste fato. O que temos aqui é um elemento, uma característica, um princípio, uma lei que é contrária à vontade revelada de Deus, que é estrangeira e alheia à mente do Senhor, à Palavra de Deus, ao caminho do Espírito. O que está em vista aqui é uma associação voluntária com essas coisas, a permissão que tais coisas tenham um relacionamento conosco. Como resultado deste curso, haverá uma descendência que é misturada, que é composta por uma mistura de coisas de Deus e coisas do inimigo; e se há uma suprema abominação para Deus, como relevado na Palavra, é a mistura.
Em todo o lugar, Deus é contra a mistura. Deus terá coisas puras, completas, absolutas, claramente definidas, totalmente Dele; e este muro de Neemias representa o marco que divide aquilo que é totalmente de Deus e o que não é Dele. Não é apenas uma questão de diferentes sombras ou níveis do que não é de Deus, mas o que não é Dele no nível mais apurado. O que está dentro é o que é de Deus em sua completa medida, e qualquer coisa que não é Dele não tem lugar ali. Então, estas esposas deveriam ser expelidas desta área e mandadas embora. É um princípio espiritual que está em vista. Deus é contra a mistura. Existe uma terrível quantidade de mistura entre o povo de Deus.
Existem, talvez, duas outras coisas que devem ser mencionadas. A maioria das pessoas que encontramos aqui estava vivendo fora de Jerusalém, nos subúrbios, e Neemias não tinha pessoas suficientes em Jerusalém para o trabalho que havia de ser feito. Assim, teve que apelar para eles, encorajá-los, exortá-los, para sair e trazer outros. Isto é uma coisa muito simples na sua interpretação espiritual, mas algo muito importante. Muitos do povo de Deus estão vivendo em subúrbios espirituais, que não estão totalmente dentro do Seu testemunho. Eles podem estar somente um pouco fora, mas eles estão fora; ou eles podem estar bastante fora. Devem haver várias atitudes – devemos dizer – razões que eles dariam. Alguns poderiam dizer que não queriam ser singulares, que não queriam parecer desbalanceados, eles queriam manter o equilíbrio das coisas. Sim, várias razões poderiam ser dadas. Pode ser preconceito, uma suspeita, pode ser que é para se manter do lado seguro da estrada, pode ser por medo do preço, a falta de desejo em pagar o preço. Pode ser porque Sambalate e Tobias vão olhar para eles desfavoravelmente se eles entrarem e cooperarem com Neemias. Pode ser que eles não estejam totalmente seguros disto, eles querem ver aonde isso tudo vai levar, se vai ter sucesso, se eles conseguirem ver o território sólido então podem assumir o risco! Não há risco se o território é sólido, como também não há heroísmo nem honra.
Você consegue enxergar o que quero dizer? Quando o Senhor faz algo novo, e está buscando ter o Seu supremo testemunho no que é totalmente Dele e do céu, onde o homem, na carne, na sua natureza, não tem lugar, algo que é totalmente do Senhor, que envolva custo, perda de favor, perda de amigos; que envolva incompreensão, declarações falsas; envolva críticas, julgamentos de ser extremista e singular e diferente dos demais, tudo isto! Sim? Sim, é daí? O ponto é: você vai estar totalmente dentro com o Senhor, ou você vai permanecer nos subúrbios? Neemias poderia estimular, poderia exortar, poderia suplicar, poderia encorajar, poderia aproximar-se, poderia chamar para dentro, e bendito seja o Senhor! Havia uma resposta adequada para a necessidade. Mas pertence a nós decidir em nosso coração, se vamos estar à margem das coisas, nos arredores, na orla, ou se vamos estar dentro, tomando as consequências dessa posição; e nós teremos que simplesmente ir até ao fundo desta questão.
Alguns de nós tivemos que fazer isto. Nós vimos o que isto envolveria, vimos o quanto custaria, pelo menos vimos uma boa parte do resultado inevitável e prático de tomar este curso com Deus. Sim, mas a questão tem sido esta: “Qual é o caminho do senhor?” Sendo assim, estar fora pode não compensar a longo prazo. Qualquer coisa que possamos ter por agora poderá ser perdida cedo ou tarde.
Certamente não podemos ver as coisas simplesmente neste nível baixo – ganho ou perda – porque afinal de contas a questão é: para que estamos aqui? Para o Senhor ou para nós mesmos? Para o Senhor ou para os outros? O ponto em questão é: “O que o Senhor quer?” Então, pode ser custoso, pode representar muito, pode representar perda de comunhão em muitas direções, perda de favor, e podemos estar nos envolvendo em terrível animosidade, hostilidade, do inimigo. Mas o que podemos fazer? Devemos continuar em frente com o Senhor. Estamos todos neste lugar? Isto está trazendo muitas coisas ao nosso coração, não é?
Concluindo, todas estas questões que mencionamos como sendo coisas erradas, males, que Neemias encontrou; que existiram, mas das quais não se havia percepção até que ele entrasse em cena, todas estas coisas foram suportadas por uma classe importante, influente e oficial, sacerdotes e nobres, e até mesmo o sumo sacerdote tinha parte com eles. Neemias veio diretamente contra isto. Sim, é bem verdade que, quando nos determinamos a seguir em frente com o Senhor, é o elemento oficial que obstrui. Nos encontramos com uma força influente e vamos diretamente contra aqueles que tem lugar e posição, e percebemos frequentemente que, como o sumo sacerdote, mesmo aqueles que oficialmente representam, e que são aceitos como representantes dos mais altos interesses de Deus, não são favoráveis em relação a todo o conselho de Deus, todo o propósito de Deus, mas toleram coisas que são totalmente contrárias ao Seu completo testemunho. Isto é bem verdade. Alguns de vocês já provaram isto, e enfrentarão isso se determinarem a seguir diretamente com o Senhor.
Mas Neemias encarou tudo isto e encarou com coragem. “Eu contendi com os nobres”, ele disse. Ele não se dobrou (ou ficou bajulando – nota do tradutor) à classe influente, não se curvou para os elementos oficiais. Ele contendeu com os nobres. Ele sabia que era um homem com um mandado Divino e isto deu a ele dignidade espiritual, não meramente natural entre os homens, porque ele permaneceu neste território dado por Deus para cumprir o ministério dado por Ele. Neemias sabia que Deus estaria com ele.
Podemos observar que existiram outros fatores no pano de fundo que o tornaram o homem que era; mas esta foi sua atitude. É uma grande coisa saber que você está dentro do propósito de Deus. Você tem uma grande ousadia quando sabe que está dentro da esfera da atividade Divina, que aquilo no qual você está, não foi iniciado por você, mas veio do céu, e você entrou nisto a partir do céu, espiritualmente, a coisa é de Deus. Isto te coloca em uma posição de ascendência moral e espiritual e te dá dignidade acima daquela dos homens, a qual é meramente oficial, mas não espiritual.
Agora, você pode fazer suas aplicações a medida que caminhamos. Precisamos voltar a ver este instrumento da restauração e o método da restauração mais profundamente. Eu acredito que o Senhor vai te permitir ver que estamos no tempo do fim, relacionando com Sua vinda, e que uma atividade do tempo do fim é levantar um testemunho de distinção, que é aquele que está em vida de ressurreição e poder, algo totalmente em Deus, com nada do homem. E este testemunho demanda que uma grande parte (ou coisas estabelecidas – nota do tradutor) contrária a ele seja tratada e colocada de fora.
Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.