por T. Austin-Sparks
Capítulo 5 - Sião: a Corporificação dos Valores Espirituais de Jesus Cristo
Senhor, dependemos da Tua misericórdia, da Tua compaixão; e nesta manhã nós nem ao menos sabemos o que pedir a Ti, pois realmente não sabemos qual é a nossa verdadeira necessidade. Achamos que sabemos, às vezes. Há coisas que são muito reais para nós como necessidade; mas, Senhor, a verdade é que Tu conhece todas as reais necessidades do nosso coração. De acordo com o Teu conhecimento, fala Senhor _ tanto de modo pessoal, individual _ como também de modo coletivo, pois, enquanto Eli não ouviu a voz do Senhor, até mesmo dentro do tabernáculo, houve alguém que ouviu. Usa-nos para falar esta manhã. Assim como Tu chamou: “Samuel, Samuel”, possamos nós ser chamados pelo nosso nome. Que possamos conhecer que o Senhor está falando conosco. Não permita que as nossas mentes e pensamentos fiquem distraídos com outras pessoas, mas fala claramente, para que mais tarde, possamos verdadeiramente dizer: “O Senhor falou comigo”. Agora, por tudo aquilo que é necessário, Senhor, em nós _ para nós, faça isto pela sabedoria e pelo poder e graça do Teu Espírito Santo. Pedimos em nome do Senhor Jesus. Amém. Acredito que vocês sabem que existe um livro no Novo Testamento o qual é chamado de a Carta aos Hebreus, e eu vou ler novamente a partir deste livro esta manhã. Nós estamos chegando muito próximos ao final deste tempo de reunião, de ministração, e sinto que é muito necessário que as coisas fiquem bem definidas e concretas, e que devemos nesta hora esperar que o Senhor esteja focando as coisas sobre assuntos claramente definidos.
Porém, uma vez mais, vamos ler no início desta carta, no capítulo um:
“Havendo Deus antigamente falado a nossos pais pelos profetas de diversas maneiras, nesses últimos dias nos tem falado através do Seu Filho, a quem constituiu como Herdeiro de todas as coisas, através de Quem também fez todas as coisas; o qual sendo o resplendor de Sua Glória, e a imagem exata do Seu ser, e sustentando todas as coisas pela Palavra do Seu Poder, e havendo feito a purificação dos nossos pecados, sentou-se à direita da Majestade nas alturas”. E novamente o capítulo doze, verso 18: “Pois não tendes chegado ao monte palpável” ; verso 22, “Mas tendes chegado ao Monte Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial.” Poderíamos deixar de lado esta palavra Sião, como tal, caso ela represente um objeto. Nós devemos olhar através de Sião, porque, como você vê, o que temos no começo desta carta é “Deus tem falado”. Em Sião? Não. Deus tem falado através de Sião. Deus tem falado EM Seu Filho. Se temos usado esse nome que está no Velho Testamento, que é sempre um tipo, uma figura, um símbolo, fizemos isso para nos ajudar a reunir todas as associações históricas daquele nome no Velho Testamento; mas vamos lembrar, isto ainda pertence ao “Não”. Quanto a um nome, a um lugar, a uma coisa, a uma montanha e assim por diante, esta palavra pertence ao “Não”. O que pertence ao “Mas” é o que está por trás do nome Sião, o seu valor espiritual, o seu significado espiritual, sua lição espiritual. E, se nos perguntassem: “O que é isto, qual é o seu valor espiritual, seu significado espiritual?” _ teríamos que voltar e responder: “Deus tem falado EM Seu Filho, ... Ele tem falado em Seu Filho, a Quem constituiu como herdeiro de todas as coisas, através de Quem fez os mundos”.
Deus tem falado. Agora, como tem Ele falado nesses últimos dias? A fala de Deus a partir de um certo ponto da história em diante, até o fim, está “em Seu Filho”. Seria necessário explicar isto e dizer que a Sua fala não é “sobre” Seu Filho? — não é um ensino, uma doutrina de Cristo, mas é a Pessoa _ na Pessoa! Ele tem falado NA Pessoa. Tentem assimilar isto, meus caros. É NELE, EM Cristo, que Deus fala! Agora vamos tentar interromper isto por alguns momentos. Sião, se você for usar este nome, é, em representação, a plenitude de Cristo. A Carta é sobre isto, plenitude e finalidade EM Cristo. E Sião, como um nome, representa isto. A plenitude do Filho de Deus _ Isto é Sião; e esta plenitude é o discurso de Deus para esta dispensação, e nesta dispensação. O discurso de Deus é a plenitude que está EM Seu Filho.
Ler
Primeiramente, na mente do grego, a palavra “logos” significava “um pensamento, algo na mente”: É aí que começa, “o pensamento” ou, se você preferir no plural, “pensamentos”. Logos é, antes de tudo, pensamentos ou um pensamento. Então, mantendo o grego, logos é “a expressão do pensamento”, o pensamento posto em expressão. Podem ser palavras, mas é aquilo que está na mente à qual foi dada expressão. Este é o sentido de “logos.” Pode ou não pode ir além disso no Grego, mas na Bíblia certamente vai além. É verdade que “Logos, a Palavra”, era o Pensamento Divino, algo na mente de Deus antes que houvesse qualquer expressão. Algo que estava na mente de Deus. “No princípio era a mente de Deus”. Que imenso mundo esta porta abre. Você tem todo o nosso Novo Testamento aí, a mente e o pensamento de Deus por trás de todas as coisas. Mas, então, aquela mente e pensamento de Deus foi expresso, foi dada expressão. “Deus disse”. A partir do Seu pensamento, de Sua mente _ Deus disse. Como Paulo coloca em 2 Coríntios: “Deus, que ordenou que a luz brilhasse das trevas, brilhou em nossos corações.” Deus disse, por expressão. E o que aconteceu? Ah, este é o ponto. Esta é “a Palavra, o Logos”.
Você vê (e acompanhe-me de perto agora, pois irei requerer a sua concentração por um instante), quando Deus expressa a Sua mente, não é algo apenas em linguagem, em palavreado, em dicção, mas algo acontece. Sempre que Deus falou, e sempre que Deus fala, algo acontece. A fala de Deus, de acordo com a Bíblia, é sempre um ato. “Ele falou, e tudo se fez;E lê ordenou e tudo apareceu – Sal.33.9 A palavra de Deus é uma ação. Em Hebreus, você vai ao capítulo quatro: “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.,” e assim por diante. A Palavra de Deus é uma ação. É um decreto, algo acontece. O pensamento de Deus sendo expresso gera algo que antes não existia. Você jamais pode ser o mesmo após Deus ter falado. Até mesmo se recusasse, se resistisse, isto seria uma crise. Assim, Jesus disse: “A palavra que Eu disse, esta irá julgá-lo no último dia.” Elas irão julgar a você e a mim, no último dia. Se vocês não crerem em Mim, as palavras que tenho falado, vocês terão que enfrenta-las no último dia _ porque isto não é algo que apenas foi dito, mas algo colocado no universo que é uma crise. A Palavra de Deus é uma crise. A Palavra de Deus é um ato: “Ele falou, e tudo se fez; Ele ordenou e tudo veio a existir”.
Mas isto não esgota a palavra “Logos”, como usada por João, e como “a Palavra de Deus”, na Bíblia. Há um terceiro aspecto para a Palavra. É verdade que ela é o pensamento, a mente de Deus. É verdade que o Logos é a expressão de Deus pela qual algo acontece. É o ato de Deus, mas então, o terceiro aspecto de Logos é a Sua Pessoa. Esta palavra assume a sua morada numa Pessoa, torna-se pessoal; em outras palavras, ela se encarna. A mente de Deus, a expressão de Deus se encarnou. Isto se deu numa Pessoa. Todo encontro com Jesus Cristo é uma crise. Todo encontro com Jesus Cristo é um encontro com Deus. Deus estava em Cristo. É um encontro com Deus. Não é apenas o que Jesus diz, embora isto seja uma expressão da mente de Deus em palavras, mas, é um encontro pessoal. Em primeiro lugar, não é um encontro com aquilo que está escrito, não é um encontro com palavras _ é um encontro com uma Pessoa. “O Verbo se fez Carne,”— Encarnou. Assim, vamos relembrar novamente o terceiro aspecto de Logos: a encarnação do pensamento Divino é uma questão prática na história, num ato, num Decreto; foi um ato da encarnação e Glorificação da Palavra de Deus. Pergunte a Saulo de Tarsus se o seu encontro com Jesus no caminho de Damasco não foi um decreto. Toda a dispensação responde isso sonoramente. Este é o Logos. “Deus tem falado em Seu Filho” — É a corporificação de Sua Mente, a expressão de Sua Mente, a encarnação de Sua Mente. E toda esta carta de Hebreus é apenas uma análise disso: Deus falando em Seu Filho; e tudo segue após isso, do capítulo um, em seu começo, até o fim, e simplesmente a exposição de Deus falando em Seu Filho. Vocês devem ler a Carta aos Hebreus à luz disto. Deus falando.
Assim, quando vocês chegam no capítulo doze de Hebreus, nesta seção, do verso vinte e dois em diante, o que você encontra? — Você tem a junção daquela fala de Deus em Seu Filho, de forma concentrada. E, se você fragmentar a seção, verá que ela é uma concentração daquilo que é verdade sobre a Pessoa do Senhor Jesus Cristo; e você deve olhar para Sião desta maneira. Começa assim: “Chegastes a ...” Bem, nós dizemos “Sião”, a cidade do Deus Vivo, a Jerusalém Celestial...”?— Não! Isto é uma linguagem simbólica. Nós chegamos ao Filho de Deus, em todo o Seu sentido. Deus falando em Seu Filho: o pensamento de Deus expresso, o pensamento de Deus Encarnado, Personificado, de modo que “Sião”, como uma palavra típica, ou nome, é a corporificação de tudo aquilo. Deus fala, ou, no Velho Testamento, Deus falava em Sião. Ele falava de Sião. Percorra os Salmos e vá através das profecias de Isaías, especialmente os últimos capítulos daquelas profecias, e recorra a elas novamente. Você vai através delas hoje e vê como Deus falava de Sião. Até mesmo temos o seguinte: “O Senhor ... bramou de Sião” (Joel 3:16). Deus fala de Sião; em outras palavras, Deus fala a partir de Seu Filho, Deus tem falado em Seu Filho. Agora, tendo afirmado isto, qual é o centro de tudo isso, de acordo com a declaração do início? “Deus, nesses últimos dias, nestes tempos, e neste tempo, tem falado em Seu Filho.” Como? — “No Filho”. A ausência do pronome definido “Seu” antes da palavra “Filho”, a ausência de “Seu” no texto original, não faz qualquer diferença, porque a sentença seguinte é: “a Quem ungiu como Herdeiro de todas as coisas”. Assim, o “Filho” aqui referido é mesmo o Seu “Filho”. Feita esta observação, prosseguimos.
A lei que governa a fala de Deus é a filiação. — filiação. É isto que governa Deus em toda Sua fala. E, como já foi dito, a filiação não é uma coisa inicial. É algo final. Aqui em Romanos oito novamente: “aguardando a nossa adoção”, a manifestação dos filhos. O fim que governa toda a fala de Deus em Cristo é a filiação. Se você quiser trocar, a palavra é “adoção”. Ela é colocada no final. Filiação_adoção, é um fim, um objeto, para onde Deus está se movendo por meio da fala em Seu Filho. Por nascimento, somos crianças, pela adoção somos filhos. E é exatamente aqui que devemos lembrar que há uma diferença entre a concepção espiritual de adoção e a secular. Alguém que segurava um bebê antigamente, que não era da família ou até da mesma raça, dizia: “Como você vê, eu adotei esta criança”. Oh, não, isto não acontece aqui. Esta não é a concepção escriturística de adoção. Como foi dito a você, o significado escriturístico de adoção é alguém que já pertence à família por nascimento, que tem crescido e, então, chega o dia da maturidade, a chegada da idade, a celebração, a festividade, quando o pai toma a sua criança, que agora já está madura, coloca uma toga sobre ela, e põe nela o símbolo e a insígnia de autoridade, para ser tal como ele neste mundo. Toda pessoa que encontra esse filho adotado tem que reconhecer o pai. Ele é, em efeito, o pai. Ele foi adotado, ou, a palavra realmente em Hebreus é, colocado. Colocado nesta posição de responsabilidade por causa da maturidade. Agora teremos que voltar a isto de um outro ponto de vista, enquanto prosseguimos.
O que estou dizendo é que este é o fim para o qual Deus está trabalhando. Seu início é gerar. Seu início é gerar do alto, trazer para a família. Mas, observe, até mesmo numa criança recém nascida há o espírito de adoção. A adoção ainda não ocorreu, mas já há o espírito de adoção. Isto é o que Paulo diz, em essência, em Romanos e Gálatas, “e porque temos o espírito de adoção, clamamos, Abba, Pai.” Acho que, uma vez, quando estive aqui antes, disse a vocês o que isto realmente significa. O que significa “Abba”? Por que colocar as duas coisas juntas? São palavras de línguas diferentes. “Abba” está num idioma, e “Pai” em outro. O que significa? “Abba” é a qualidade, não a relação, é a qualidade da criança, uma pequena criança. E quando esta criança se volta para o seu Pai e diz: “querido Pai” _ você tem “Abba.” É um tratamento de afeto. Abba— querido Pai. Aí está algo muito próximo, muito íntimo. Esta é uma marca da infância espiritual. Naturalmente, esta é a primeira coisa que balbuciamos, não é? Quando realmente somos nascidos do alto, não dizemos, quando vamos orar: “Poderosíssimo e Mui Terrível Deus ... ” Nossa primeira pronúncia é: “nosso Pai”. Isto é o início da vida cristã. Temos o espírito de adoção, embora nós ainda não chegamos à adoção. A adoção vem quando permitirmos que o Espírito de adoção desenvolva esta adoção para nós. Isto se dá durante todo o curso da vida espiritual.
Bem, está tudo aqui; estou dizendo que o objetivo para o qual Deus está trabalhando é o que é chamado de adoção, filiação. É isto que governa tudo. O que Deus está fazendo? Bem, Hebreus irá lhe dizer. Toda disciplina dos filhos de Deus é governada por este objetivo _ adoção. Assim você tem: “Filho meu, não desprezes a correção do Senhor, E não desmaies quando por ele fores repreendido; Porque o Senhor corrige o que ama,E açoita a qualquer que recebe por filho.” Hb.12.6 É a disciplina na vida dos cristão. “porque, que filho há a quem o pai não corrija?”Hb 12.7 Como vocês sabem, o escritor usa uma palavra bastante forte sobre esta questão. Essas pessoas não são filhos verdadeiros, são filhos ilegítimos, os quais têm chegado à uma falsa posição, se estão sem disciplina. Há uma tremenda revolta contra a disciplina neste mundo, que rejeita toda autoridade, controle, governo, disciplina. Há uma revolta contra a disciplina em todo lugar, especialmente entre a juventude. A Palavra diz que é assim que será no tempo do fim: “desobedientes aos pais” e assim por diante. Isto de modo algum é bom para o verdadeiro propósito que Deus tem para a família, não de crianças, mas de filhos adultos, disciplinados para uma responsabilidade eterna. — uma posição governamental no Reino vindouro. Há muito sobre isso no Novo Testamento. Está em Efésios. Disciplina. Deus trabalhando em nós desta maneira, para este fim!
Olhe para a história de Sião. Que coisa disciplinada era Sião. Deus não tinha qualquer despropósito em relação a ela. Deus não tolerava nada menos do que o Seu pensamento em Sião. Quando Sião se privava daquela posição para a qual Deus a tinha trazido, Ele, então, colocava Sião de lado, mostrava que não tinha mais nenhum interesse nela, como um coisa. Ele disciplinava Sião. Leia novamente os Salmos. Leia novamente os profetas. Todos eles estão preocupados, como mostraremos, com Sião. Que disciplina! Através dos anos, e finalmente os setenta anos de exílio, durante o cativeiro, que disciplina para o povo de Sião. Vamos dar apenas uma olhada por um instante em Isaías. Eu já falei isso anteriormente, e, se você der uma olhada nos últimos capítulos de Isaías, irá ver que todos esses capítulos são concernentes a Sião. Vamos olhar para o capítulo sessenta e um, pois nós estamos bem próximos do final de Isaías quando chegamos ao sessenta e um. Ou você pode ir para o sessenta, se quiser, onde está escrito: “Levanta-te, resplandece, porque é chegada a tua luz, e é nascida sobre ti a glória do Senhor.” Mas continue para o sessenta e um: “O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu ....” E aqui novamente está a dupla interpretação. Sião está aqui apontando para uma outra Pessoa, que usou essas mesmas palavras, aplicando-as a Si mesmo.” Agora, no capítulo sessenta e dois. (retire os números 61 e 62, as divisões dos capítulos são artificiais) “Por amor de Sião não me calarei, e por amor de Jerusalém não descansarei, até que saia a sua justiça [sim, lembre-se da Versão Amplificada] como um resplendor, e a sua salvação como uma tocha acesa... E as nações verão a tua justiça (seu direito de permanecer com Deus), e todos os reis a tua glória.” — “Não descansarei até que isso aconteça” Este é o lamento do profeta, e você pode continuar para capítulos restantes de Isaías e ver isso lá; e a que eu chego nesta ligação é isto: que Sião era o fardo, a preocupação, a dor de coração dos profetas.
O ministério profético tem sempre o seu foco em Sião. Um ministério profético verdadeiro (seja no Velho ou no Novo Testamento) está relacionado a este Divino pensamento, o qual envolve esta palavra “Sião”, como a temos na Carta aos Hebreus: uma expressão da plenitude de Cristo em adoção em um corpo. Este é o fim para o qual Deus está trabalhando e executando toda sua obra de disciplina. Gostaria de aplicar isto de uma maneira prática. Como você vê, estamos muito, talvez, preocupados com a obra, a qual chamamos de ‘a obra do Senhor’; preocupados com o evangelismo, em ganhar almas. Não há nada de errado com isso! Tudo certo! Não quero desvalorizar isto. O ministério da pregação e ensino, as reuniões, as conferências e tudo aquilo que podemos abranger com esta frase ou palavra, “a obra do Senhor”, nós estamos interessados nisso. Bastante interessados. Talvez vocês, ministros, estejam muito preocupados com os seus ministérios, isto é, com o próximo sermão que irão fazer, e, inclusive vocês estão anotando em seus cadernos agora. Vocês têm uma congregação em vista. A obra do ministério, de evangelismo, ou seja o que for, pode vir nestes termos: “a obra do Senhor”, talvez vocês estejam muito mais preocupados com isto do que com qualquer outra coisa. Talvez em seus pensamentos vocês digam: “devemos estar na obra, devemos nos entregar à obra”.
Porém, meu irmão vai me perdoar porque, como disse, estou tentando focalizar esta coisa bem abaixo. Temos dito algo nas reuniões da noite que considero ser a essência dos interesses do Senhor. É a mesma coisa sobre a qual tenho falado, apenas que em outra linguagem: “os vitoriosos”, a essência do pensamento e intenção Divina em Sião. O Senhor algumas vezes vê que é bem melhor nos tirar “da obra” do que nos manter nela, e nos põe de lado de todos os nossos negócios pra Ele, a fim de obtermos a essência das coisas. Ele está atrás do essencial, do intrínseco. Os homens estão atrás de coisas grandes. O pragmatismo domina muito a obra cristã. Acho que você, talvez, não saiba o que eu quero dizer com esta palavra: “pragmatismo”. Significa que, se uma coisa é tem sucesso, então está correta. Este é um pensamento errado. O maligno tem muito sucesso, está ele correto? Muitas coisas aparentemente são um sucesso, crescem, aumentam, e todos dizem: “Meu, é isso aí” Será que é mesmo? Isto é pragmatismo. Se algo é um sucesso, se é popular, e todos aderem em massa para lá, então deve estar correto. Muito bem. O que dizer sobre Jesus de Nazaré? Como as pessoas afluíam para ele, o seguiam. Ele disse o porque: “...porque vocês comeram os pães e os peixes, porque vocês viram os sinais e as maravilha; uma geração má e adúltera pede sinal,” e as pessoas iam em bandos por causa disso. Mas estas coisas são efêmeras. Logo caem no esquecimento. Elas estão sendo peneiradas. Somente Cristo permanece. Todas as marcas de sucesso estão sendo copiadas a partir do ponto de vista do mundo, e, a final de contas, é isto um movimento de sucesso com Ele pendurado na Cruz? É isto pragmático? Bem, sabemos hoje! — Não, uma coisa não está necessariamente correta só porque as pessoas afluem para lá ou para cá, uma multidão, eventos sociais; não é porque algo parece estar ganhando tanto terreno e se tornando grande, não necessariamente. Espere pela perseguição e, então, você irá conseguir “grandes multidões”, as quais nenhum homem pode contar. Mas isto não é pragmático no sentido terreno. Você entende o que quero dizer! Existe a disciplina, a disciplina de ser peneirado das cascas ao grão, da palha ao trigo. E “o grão de trigo é moído”, diz o profeta Isaías. Ele procura pelo pão genuíno, a composição daquilo que saiu da terra e virou farinha, que foi moído. Será que isto explica algo a você, a sua própria história? — É muito verdadeiro, esta é a Palavra, você entende.
Por isso existe esta seção em Hebreus sobre adoção, “a correção do Senhor”, e a correção para cada um de nós pode significar algo diferente. Aquilo que seria correção para você poderia não ser para mim, e aquilo que seria correção para mim poderia não ser para você. Você pode sair por vários caminhos, mas o Senhor sabe onde encontrar você, onde você não pode escapar. Eu posso ser capaz de impelir a mim mesmo a entrar por um caminho através da força natural da alma. Não sei se isto é verdade agora, mas pode ser. Talvez no passado tenha sido, mas o Senhor sabe como me corrigir, e Ele sabe aquilo que é uma correção apenas para mim, e pra mais ninguém. Oh, não traga esta palavra “correção” para uma definição estreita. Ela é algo que nos “apanha” individualmente, que nos encontra. É aquilo que para mim é uma verdadeira disciplina. Há algumas pessoas agradáveis, muito pacientes, indulgentes, longânimes, e, você sabe, são pessoas que podem ser mal tratadas, porém não se irritam nenhum um pouco, simplesmente prosseguem adiante. Mas há outras a quem o Senhor traz pessoas desagradáveis para perto delas, para discipliná-las. Entende o que eu quero dizer? Correção, disciplina, é o que isso significa para nós individualmente. Mas, seja o que for, e você pode dizer: “Bem, por que o Senhor faz isto comigo? Olhem, Ele não faz isso com as demais pessoas. Elas estão se dando bem” _ “até que entrei no Santuário de Deus” e vi as coisas do Seu ponto de vista. “O Senhor está tratando comigo e deixando os demais livres em seus caminhos, mas Ele me tem apanhado”. Eu me revolto e digo: “É injusto”. O Senhor não é justo, Ele não age assim com as demais pessoas.” Oh, não, esta atitude não está correta. Ele está focalizando sobre este propósito, esta questão da filiação, da adoção, para uma responsabilidade eterna. Guarde isto, e vamos seguir adiante.
Tendo Sião novamente como pano de fundo de nosso raciocínio, vamos realçar algo mais sobre ela. Espero que você saiba que no sangue e na constituição de um Israelita, de um verdadeiro Hebreu, de um verdadeiro Judeu, nesse mesmo sangue e constituição, existe uma consciência, um senso de destino. O raciocínio deles é este: “Nós somos o povo escolhido, e fomos escolhidos pelo propósito e intenção de Deus. Não é algo que temos adotado como uma ideologia, como uma filosofia, de nossa existência, isto está em nosso sangue.” Eles não podem fugir disso. É desta forma. Um verdadeiro Judeu, cidadão e filho de Sião, tem este senso e consciência de destino inculcado dentro de si. Esta é a razão, o motivo do por que eles têm sido capazes de sofrer tanto, de terem passado por tantas perseguições e haverem sobrevivido, do por que eles puderam suportar tantas coisas. Não é porque eles criaram isso em suas mentes, nem por causa de suas próprias vontades, mas isto é algo que nasceu dentro deles, que é parte deles; é elementar para eles o fato de que são um povo de destino. Eles se agarram e se apegam a isso; estão ainda no muro das lamentações. Isto é confirmado; contudo, isso pertence ao “Não”.
Porém aqui estamos nós com o “Mas”, _ “temos chegado a Sião”. E temos chegado a Sião neste sentido: por direito; se é um verdadeiro cidadão do Céu, “este é nascido ali”; se é um verdadeiro filho de Deus, então existe algo sobre ele que, embora não consiga definir, embora até mesmo não conheça o que as Escrituras falam sobre isto, mas dentro dele existe este senso de destino que _ existe um propósito que governa a nossa salvação, que existe algum significado além da nossa presente compreensão pelo qual fomos chamados, que há algo dentro de nós, em nossa constituição, que diz: “fomos chamados de acordo com o Seu propósito”. É um senso de destino; isto é essencial para Sião. Este é todo o propósito do Novo Testamento, e esta é a finalidade desta Carta aos Hebreus. Esta é a verdadeira filiação. Agora, nós não gostamos muito dessa idéia; não gostamos desta linguagem, mas nos Judeus, nos verdadeiros Judeus, havia este elemento dentro deles: de “seletividade”. Você não gosta desta linguagem, você gosta? Seletivo, algo separado, algo diferente, algo que não é geral, mas particular. Uma consciência trabalhada no sentido de que somos e escolhidos para alguma coisa, que chamamos de destino. Somente isso pode nos manter seguindo em frente através da disciplina, através do sofrimento, da adversidade, da perplexidade.
Você já não passou pela mesma situação que eu, mais do que uma ou duas vezes, por uma situação onde tenha se desesperado. Se você fosse deixado entregue a si mesmo, já teria desistido, já teria ido embora, e tomado um outro caminho, e até mesmo lavado as suas mãos a respeito do Cristianismo. Você nunca foi pressionado? Bem, se ainda não, muito bem, graças ao Senhor; mas existe tal pressão. E até mesmo Paulo, com toda a sua maravilhosa experiência e conhecimento do Senhor, chegou num ponto onde disse: “fomos sobremaneira pressionados mais do que podíamos suportar, ... de modo tal que até da vida desesperamos.” 2Cor. 1.8 Paulo? Você se desesperou?! Logo você que está sempre dizendo para as pessoas não se desesperarem. Você escreveu sobre o Deus da esperança, e você me diz que se desesperou? E você disse para as pessoas ficarem por cima, no topo, e você disse: “Fui pressionado além da medida”. Sim, muito bem, talvez vocês ainda não saibam disso tudo, ou talvez saibam apenas um pouco a respeito, mas os filhos de Sião são realmente sustentados por algo. E é este algo indefinido que chamamos de “destino”. Existe algo que nos mantém, que não nos deixa ir. Existe algo que nos segura, até mesmo quando dizemos que vamos desistir. Não podemos ir. Até mesmo quando chegamos às profundezas do desânimo, não conseguimos ir embora. Não podemos. Decidimos ir, mas não podemos. Não, isto não é algo para ser analisado e colocado dentro de um sistema de ensino, de uma doutrina, mas é isto é uma profunda realidade que nos sustenta. Somos filhos do destino, “chamados de acordo com o Seu propósito”. Oh, se você quiser um pouco de estudo Bíblico, gostaria que seguisse adiante e sublinhasse esta palavra “conforme, de acordo, de acordo com” É uma palavra maravilhosa que está com Paulo. Tudo é conforme alguma coisa. Sião foi eleita, escolhida, separada, feita distinta, por causa do seu destino _ seu grande propósito: e havia isto em sua própria constituição, em seu próprio sangue, um senso de que “existe algo mais, para o qual fomos chamados”.
Agora voltemos para os profetas. Eles estavam grandemente preocupados com Sião, por causa do destino de Sião. Oh, quão afadigados eles ficavam por causa de Sião, e, naturalmente, no caso deles, seus fardos e suas preocupações era por causa da restauração de Sião. Sião tinha fracassado, tinha cessado de ser aquilo para o qual fora chamado; aquilo que Deus havia planejado. E assim, os profetas estavam preocupados pela sua restauração, e pelo seu testemunho. Este é o ministério profético. Oh, ministério profético. O que você quer dizer? — Revelação? Prever os eventos? Muito bem, se você preferir assim, ok. Mas a real essência do ministério profético é a restauração da plenitude de Jesus Cristo, que tem sido perdida. É uma restauração e uma recuperação do testemunho de Jesus na Igreja. Este é o verdadeiro ministério profético, e não ponha o ministério profético abaixo disso. O dom da profecia. O que é o dom da profecia? Apenas revelação? Isto tanto pode haver como não, e ainda assim continuar a ser o dom de profecia. O dom, a função, a unção de profecia é a recuperação do pleno testemunho de Jesus; o ministério que não tem isto como objetivo claro, forte e definido, não é ministério profético. Os profetas se ocupavam com isso. Leia Isaías 43 novamente à luz do que foi falado.
Bem, agora estamos próximos do final, nesta manhã. E, novamente, Sião é a corporificação dos valores espirituais de Jesus Cristo. Sublinhe palavra “valores espirituais”. Prove tudo por meio de seus valores espirituais. Prove tudo não do ponto de vista pragmático, absolutamente, mas do ponto de vista espiritual, quer dizer, seu valor eterno. O ministério de qualquer pessoa, o meu próprio, ou o de qualquer outra pessoa, não vai ser julgado pelo número de convenções ou reuniões nas quais falamos, e pela quantidade de ensino Bíblico que damos _ jamais será julgado por isso. Entenda isto. Você pode ter a sua agenda cheia de compromissos, pregações; você pode ser um professor de Bíblia muitíssimo ocupado; e pode não ter tempo pra mais nada; contudo, com toda esse resultado, seu ministério não será julgado, caro amigo, pelo quanto você tenha feito nesse sentido. O ministério será julgado por seu valor eterno, por seu valor espiritual; qual é o valor espiritual quando esta vida se for, quando eu for embora, quando você for embora, quando todos os professores se forem, e chegarmos no Céu e descobrirmos que aquilo que realmente foi considerado em nossas vidas está lá, nas pregações, nos ensinos e conferências. “As coisas que se vêem são temporais, mas as que não se vêem são eternas”. E este é o ponto de vista de Sião, a essência do valor espiritual de tudo. Estão vocês, caro pregadores, professores, realmente comprometidos de coração, a tal ponto que tudo em seus ministérios tenham um valor espiritual, um valor eterno? Não o discurso! Não, não é se o meu discurso é um sucesso, se é aceito, ou não. Mas qual o valor eterno e espiritual, do ponto de vista Celestial e Eterno. Certamente a nossa ambição deve ser aquela quando tudo aqui se for, quando não houver mais conferências, nem ministérios e discursos, e todos nós estivermos reunidos lá em cima, a nossa ambição é a de encontrar lá pessoas que digam: “Olha, eu não estaria aqui se não fosse aquilo que o Senhor fez através do seu ministério”. É isto, não é? Oh, se concentre nisto, pois Sião é, deixe-me repetir, a corporificação dos valores espirituais. Não um lugar, não uma seita, não alguma coisa temporal. Isto não é Sião. Mas é o valor concentrado e intrínseco de Jesus Cristo. Isto é Sião.
Sobre qual nota devo terminar esta manhã? Bem, com tudo isto em vista, naturalmente, a nota correta seria o zelo de Deus por Sião. Os profetas compartilharam deste zelo de Deus por Sião. O Senhor disse: “Zelei por Sião com grande zelo, e com grande indignação zelei por ela. Voltarei para Sião, e habitarei no meio de Jerusalém;” Onde está o coração de Deus? Não está em qualquer expressão temporal da antiga Sião, isto é, o “Não”. Mas o zelo de Deus, o Seu interesse, tem relação com os valores reais, intrínsecos e espirituais de Seu Filho Jesus Cristo. Ele está concentrado nisso. São esses valores espirituais que Ele irá procurar. Isto deve nos encorajar no ministério, especialmente. Veja, as pessoas podem nos repudiar, podem duvidar de nós, e ir embora, abandonando-nos. Tudo bem, esta disciplina é muito dura. Mas espere um pouco, talvez em algum momento na vida dessas pessoas, elas irão voltar, ou irão confessar: “Veja só, eu obtive algo de você que foi a minha real salvação. Eu não reconhecia isso naquela época, mas sei agora o que você estava dizendo, o que você estava fazendo, era algo que acabou sendo a minha libertação, minha salvação, no tempo da angústia”. Bem, é dessa forma. Deus irá procurar pelos valores espirituais, e você deve estar mais interessado neles do que em construir algo grande aqui neste mundo. É nisto que está o Seu zelo. Mais cedo ou mais tarde a Sua ira será mostrada de Sião. E então, os inimigos terão que se curvar, terão que se render. Assim como na eternidade, “todo joelho se dobrará, e toda língua confessará”. Todos os inimigos de Cristo vão ficar bastante humilhados. Deus irá bramar de Sião. Bem, fiquemos bem certos de que isto é Sião, e é neste sentido que: “Chegastes a Sião”. Vamos deixar as coisas dessa maneira, por ora. O Senhor é quem interpreta. Oremos: Nós oramos, Senhor, que esta hora possa ser usada por Ti para produzir aqueles valores essenciais e eternos. Que não seja apenas uma hora de ministração, mais ou menos apreciada, mas que possa haver algo trabalhado, algo plantado, algo colocado dentro de nós, que irá aparecer no Céu e em glória, como o Divino decreto, a Palavra, a Palavra de Deus, que produziu algo. Assim, ajuda-nos. Sela esta hora; perdoa todos os erros e faltas humanas, e faça aquilo que for do Teu próprio interesse, em Teu nome, Amém.
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