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A Escola de Cristo

por T. Austin-Sparks

Capítulo 7 – Aprendendo sob a Unção

Leitura: Mt 11:29; Jo 1:51; Mt 3:16; Jo 1:4; Rm 8:2; 2Co 3:16-18.

Na Escola de Cristo o Espírito Santo é o grande Mestre, e Cristo a grandiosa lição. Nessa escola não aprendemos coisas, objetivamente, mas recebemos um ensino subjetivo por meio da experiência, quando Cristo passa a ser parte de nossa vida interior. Esta é a natureza desta Escola.

O SIGNIFICADO DA UNÇÃO

“Vereis o céu aberto”. “E eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba, vindo sobre ele” [Mt 3:16]. Qual é o significado da Unção do Espírito Santo? Nada mais e nada menos do que o Espírito Santo assumindo Seu lugar como absoluto Senhor. A Unção representa a liderança absoluta do Espírito Santo. Isso implica que qualquer outro senhorio é deixado de lado: o senhorio de nossa vida, de nossas mentes, de nossas vontades, de nossos desejos. O senhorio de todo e qualquer interesse ou influência dá lugar ao senhorio incondicional e único do Espírito Santo. A unção jamais poderá ser conhecida ou experimentada sem que isso ocorra. Por isso o Senhor Jesus desceu às águas do Jordão experimentando simbolicamente a morte, assumindo o lugar do homem. A partir daquele momento, o Senhor não mais ficaria debaixo do governo de Sua própria vida, em todos os sentidos, mas ficou completamente sujeito ao Espírito de Deus, em cada detalhe. A sepultura do Jordão estabeleceu o fim de todo e qualquer outro senhorio independente. Quando vislumbramos a vida espiritual de Cristo nos Evangelhos, vemos Ele permaneceu constantemente nessa posição. Ele estava sujeito à muitas influências poderosas, que visavam governar Seus movimentos. Algumas vezes a própria força de Satanás tentava influenciá-lo a fazer certas coisas em causa própria ou prolongar a sua vida física. Outras vezes Satanás se disfarçava por trás da argumentação e persuasão dos amados discípulos, quando tentavam impedi-lo de seguir por certos caminhos, ou buscaram influenciá-Lo a preservar a Sua própria vida, evitando certos sofrimentos. De várias formas, o Senhor sofreu diversas influências de todas as direções, e muitos dos conselhos pareciam tão sábios e bons. Por exemplo, Ele recebeu certa pressão com relação a Sua ida à Festa dos Tabernáculos: ‘Todos estão indo à festa, se não for, prejudicará a Sua missão. Se realmente deseja levar adiante Sua causa, deve aceitar as regras estabelecidas pela religião, caso contrário sofrerá perda. Assim diminuirá Sua influência, Sua vantagem!’ [Jo 7:2-4]. Esse é um forte apelo para quem tem um encargo Divino em seu coração e o sucesso pode ser muito importante. Essas foram as influências que Ele recebeu. Mas ainda que Satanás tenha vindo de todas as direções por meio de suas astúcias e insinuações, por meio dos discípulos amados mais íntimos, qualquer que fosse o argumento, Jesus não se desviou um milímetro sequer de Seus princípios. “Estou debaixo da Unção, estou comprometido com a absoluta soberania do Espírito Santo e não posso Me mover, custe o que custar. Pode até custar a Minha vida, Minha influência, Minha reputação, tudo o que mais amo, mas não posso Me mover, a menos que saiba do Espírito Santo que essa é a vontade do Pai, não a Minha, nem a de outra pessoa”. Assim, Ele deixava qualquer coisa de lado, até que soubesse em Seu espírito o que o Espírito de Deus testificava a respeito. Ele viveu de acordo com esta lei, este princípio da absoluta autoridade, governo e senhorio da Unção, e foi para isso que Ele a recebeu.

Este é o significado da Unção. Você deseja a Unção do Espírito Santo? Por que você deseja recebê-la? A Unção é algo que você deseja muito? Com que finalidade? Para ser usado, ter poder e muita influência, para ser capaz de fazer muitas maravilhas? A primeira coisa que a Unção significa e seu sentido mais preeminente é que debaixo dela nós não poderemos fazer absolutamente nada, mas apenas aquilo que a Unção nos dirigir. A Unção tira todas as coisas de nossas mãos. A Unção se encarrega da nossa reputação, se encarrega do propósito de Deus, a Unção assume o controle de tudo. A partir do momento que a recebemos, tudo passa para as mãos do Espírito Santo. Devemos lembrar que, se desejamos aprender Cristo, este aprendizado ocorre pelo trabalho do Espírito Santo em nós, o que significa que nós devemos tomar o mesmo caminho que Cristo seguiu, em princípio e em lei.

Então percebemos que não estamos muito longe no Evangelho de João, que particularmente é o Evangelho espiritual da Escola de Cristo, quando ouvimos Jesus dizer: “o Filho nada pode fazer de si mesmo" [Jo 5:19]. “As palavras que eu vos digo não as digo por mim mesmo” [Jo 14:10]. As obras que faço não são minhas; “o Pai, que permanece em mim, faz as suas obras” [Jo 14:10].

“O Filho nada pode fazer de si mesmo”. Como podemos ver, existe o lado “negativo” da Unção enquanto o lado positivo pode ser resumido em apenas uma coisa: no Pai. Talvez esse seja um conceito um pouco diferente daquele que temos recebido sobre a Unção. Ser ungido pelo Espírito Santo! Quem maravilhas se seguirão, que vida maravilhosa essa será! Mas o primeiro aspecto sobre a Unção é que nós seremos aprisionados ao Senhorio do Espírito de Deus, ao ponto de que se Ele nada fizer, nada acontecerá. Nada! Esta não é uma experiência nada agradável, se a nossa vida natural estiver fortalecida e dominando. Por isso o Jordão precisa ser atravessado antes de recebermos a Unção. Deixar de lado a nossa força natural e a vida do ego de lado é uma necessidade, considerando que a unção traz consigo o absoluto senhorio do Espírito Santo.

Podemos perceber essa questão em 2 Coríntios 3:16: “Quando, porém, algum deles se converte ao Senhor, o véu lhe é retirado", quando o Senhor é o objeto em vista, “o véu lhe é retirado… E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito” [vs 18], ou podemos dizer ‘o Espírito que é o Senhor’. Estamos na Escola e podemos ver e aprender Cristo, sendo transformados à Sua imagem debaixo do Senhorio do Espírito Santo. “Quando, porém, algum deles se converte ao Senhor”, ou seja, quando o Senhor se torna no nosso objetivo! Mas no nosso caso, que somos cristãos muito devotos e sinceros, que longo tempo leva para considerarmos o Senhor como nosso único alvo! Será que dizer isto é algo terrível?

Nós dizemos que amamos o Senhor; sim, mas também amamos preservar a nossa vida particular, e não desejamos que ela seja frustrada. Será que algum de nós já alcançou aquele ponto de realização espiritual onde não temos mais qualquer dificuldade com o Senhor? Nós ainda nos encontramos frequentemente em situações em que acreditamos que é do interesse do Senhor tomar certa direção, e Ele não nos permite fazer aquilo, então passamos por um momento difícil, nos traímos completamente. Nossos corações estão mais envolvidos na situação do que imaginávamos. Não foi fácil, nem simples para nós dizer: ‘Muito bem, Senhor, gostaria que Tu me permitisse fazer tal coisa, mas me deleito apenas em fazer a Tua vontade!’ Ficamos desapontados quando o Senhor não nos permite fazer aquilo que desejamos, ou quando o Senhor retarda as coisas e precisamos esperar. Se pudéssemos conseguir isso logo! Não é verdade para a maioria de nós? Sim, é verdade! Nós agimos dessa maneira, e isso apenas significa que, afinal de contas, estávamos enganados e o Senhor não é o nosso único objeto como imaginávamos. Temos outros objetivos paralelos e associados ao Senhor, ou seja, existem outras coisas que queremos ser ou fazer, lugares para onde desejamos ir e coisas que ambicionamos e desejamos possuir. O Espírito Santo sabe tudo a esse respeito. Nesta Escola de Cristo, onde o objetivo de Deus é Cristo, somente Cristo, a própria unção indica que é Cristo quem deve ser o Senhor, pelo Espírito. A Unção assume esta posição. Isto foi verdade em Cristo, e deverá ser verdade em nós.

“SENHORIO" E "SUJEIÇÃO”

Se desejarmos alcançar a plenitude de Sua glória e ser tornados em instrumentos qualificados para o governo no Seu Reino, precisaremos conhecer o caminho de nossa graduação nessa Escola de Cristo. A única forma de aprendermos a respeito desse governo Divino, celestial e espiritual, que é o propósito do Senhor para os santos, é nos sujeitando ao Espírito Santo. A palavra ‘sujeição’ no Novo Testamento é bem interessante. Penso que ela tem sido adotada de forma errada, e o sentido dado a ela é muito desagradável. A idéia de sujeição ou submissão normalmente se relaciona à ser oprimido, subjugado, suprimido. “As mulheres sejam submissas ao seu próprio marido”. Isto é interpretado assim: ‘Você deve ficar por baixo’. Mas essa palavra não significa isso, absolutamente.

Como a palavra grega para submissão, ou sujeição, deve ser interpretada? Bem, escreva o número 1, e em seguida, escreva submissão. Como traduzir isso? Você não colocará outro número abaixo dele, a palavra submissão significa ‘colocar ao lado ou após’. O número 1 é o primeiro, ele fica na frente de tudo o que vem depois, governa e dá valor a todo o resto. Submissão significa que Cristo, em tudo, deve ter a preeminência. Nós viemos depois, e tomamos o nosso valor a partir dEle. Isso não equivale a ser anulado, mas receber todas as coisas dEle como o primeiro, e nunca desfrutaremos desses benefícios até conhecer a submissão a Cristo. Viemos depois, tomamos o segundo lugar e recebemos todo o benefício de quem veio primeiro; recebemos valor ao assumir certa posição.

A Igreja não está sujeita a Cristo no sentido repressivo nem está debaixo do Seu calcanhar, mas simplesmente veio depois dEle, está ao Seu lado para que Ele tenha a preeminência, e a Igreja, Sua Noiva, desfruta de todos os benefícios da posição dEle. A Igreja de fato está em segundo lugar, mas quem se importa com esse segundo lugar se vai receber todos os valores do primeiro ao tomar essa posição? Isto é sujeição. O plano do Senhor para a Igreja é que ela tenha tudo. Mas como ela vai receber isso? Não assumindo o primeiro lugar, mas tomando o lado do Senhor, e em todas as coisas deixando que Ele tenha a preeminência. Isto é sujeição, submissão.

O senhorio do Espírito não é algo desagradável, que nos despoja, tira tudo de nós, ao ponto de não ousarmos sequer nos mover. O senhorio do Espírito nos traz para dentro de toda essa plenitude de Cristo. Mas nós devemos primeiramente aprender o sentido desse senhorio, antes de chegarmos a essa plenitude. É da plenitude de Cristo que recebemos.

O problema sempre foi, desde os dias de Adão, que o homem não deseja receber a plenitude de outra pessoa, mas deseja a sua própria, deseja ter tudo em si mesmo, e não em outra pessoa. O Santo Espírito remove essa base e diz: É a plenitude de Cristo, está Nele. É Ele Quem deve ter o lugar de absoluto senhorio, antes de podermos conhecer a Sua plenitude. Ja discorri o suficiente sobre o significado da unção. Você compreendeu? Que o Senhor nos dê graça para aceitar o significado do Jordão para podermos desfrutar de um céu aberto e assim receber da unção que nos traz toda a plenitude celestial. Mas isto representa o total senhorio do Espírito.

A lição no. 1 é o exame preliminar para entrar nessa escola. Nunca iremos entrar na Escola de Cristo enquanto não aceitarmos o senhorio do Espírito Santo. Essa é a razão porque muitas pessoas não conseguem ir muito longe no conhecimento do Senhor. Elas não aceitam as implicações da unção, jamais desceram no Jordão. O progresso dessas pessoas em sua aprendizagem é muito lento e pobre. Encontre uma pessoa que realmente conhece o significado da Cruz e do Jordão, que é a abertura do caminho para o senhorio do Espírito, e verá um crescimento rápido, um desenvolvimento espiritual acima da média. Essa é uma verdade, e esse é o exame preliminar.

A PRIMEIRA LIÇÃO NA ESCOLA DE CRISTO

Uma vez na Escola de Cristo, se inicia a primeira lição. Essa lição nada mais é do que uma reiteração de tudo que já mencionamos. A primeira lição que o Espírito Santo nos ensina nessa Escola é a singularidade de Cristo, mostrando-nos como Ele é diferente de nós. Apesar de se tratar da lição inicial, ela não se restringe aos estágios iniciais dessa escola, deve ser aprendida ao longo de nossa vida. Faça uma nova leitura do evangelho de João tendo isso em mente. Veja como Cristo é diferente das demais pessoas, inclusive de Seus discípulos! Siga para os demais evangelhos com esta mesma mentalidade. Debaixo da direção do Espírito Santo, essa leitura será proveitosa em seu aprendizado. Como o Senhor é diferente! Isso é atestado diversas vezes. “Vós sois cá de baixo, eu sou lá de cima” (Jo 8:23). Essa é uma grande diferença que se tornou num conflito com o passar do tempo. Vislumbramos constante contraste de julgamentos, de mentalidade, de ideias, de valores, uma total discordância entre Ele, as pessoas, e até mesmo os discípulos que com Ele permaneceram. A natureza do Senhor é diferente, celestial, Divina, única. Sua mente é celestial. Todos tinham uma mentalidade terrena, e não havia nenhuma correspondência entre eles e o Senhor, apenas um grande abismo. O Senhor é peculiar.

Então percebemos que estamos em enorme desvantagem. Somos absolutamente diferentes do Senhor. Mas a natureza e o significado desta Escola é exatamente este. Como este problema poderá ser solucionado? O Senhor constantemente se referia a um tempo em que Ele estaria em Seus discípulos e Seus discípulos estariam nEle, e quando isso acontecesse, haveria uma nova realidade interior totalmente diferente da ditada pela constituição natural exterior. Isto equivale a dizer que Cristo estaria dentro deles. A partir desse momento, mesmo convictos que determinada ação seria correta, eles perceberiam que alguma coisa lá dentro não os permitira. Em outras ocasiões, pensariam que a atitude sensata seria não agir, mas em seu interior Cristo diria: ‘Prossigam!’ Enquanto o homem exterior afirma: ‘É loucura! Me dirijo para um desastre!’, o homem interior diz: ‘Você precisa fazê-lo!’ O homem interior e o homem interior não conseguem se reconciliar. Cristo agora está lá dentro, e Ele é completamente diferente de nós. Nossa aprendizagem consiste em aprender a segui-Lo, a seguir o Seu caminho. “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me” [Lc 9:23]. Negar a nós mesmos: nossos argumentos, julgamentos, o senso comum. Siga-Me! Essa é a demanda recorrente de Cristo. Alguns homens cometeram as maiores loucuras do ponto de vista desse mundo e foram vindicados. Não sugiro que você saia por aí cometendo loucuras. Me refiro à autoridade do Senhor e também a essa diferença entre nós e o Cristo residente em nosso interior. Esta é a primeira lição que o Espírito Santo ensinará a qualquer um que chegar na Escola de Cristo: essa grande diferença, essa divisão. Cristo é uma coisa e nós somos outra, e jamais poderemos nos assegurar de estamos do lado certo, se não submetermos tudo a Ele.

Por isso a oração é tão importante na vida de um filho de Deus, e é por isso que a oração foi uma característica tão proeminente na vida do Senhor Jesus quando vivia neste mundo. A vida de oração do Senhor Jesus é o maior de todos os enigmas, num certo sentido. Ele é o Cristo, o Filho de Deus, está debaixo da Unção do Espírito Santo, é irrepreensível, ainda assim, precisou passar uma noite inteira em oração depois de um árduo e longo dia de trabalho. Frequentemente O encontramos em oração. Por que Ele precisou orar? Porque haviam muitas influências operando no sentido de atrair Seu foco e obediência, e Ele precisava Se manter constantemente alinhado à Unção, em harmonia com o governo do Espírito. Ele não decidia nada por Si mesmo. Se Ele precisou fazer isso, que dirá nós? Nós não estamos no mesmo patamar dEle, não somos irrepreensíveis. Nossa natureza se opõe violentamente contra Deus, contra a Sua vontade. É ainda mais importante para nós mater uma vida de oração, quando é concedida ao Espírito Santo a oportunidade de nos manter na direção certa, em conformidade com o propósito Divino, dentro do tempo e do caminho do Senhor.

Se existe uma coisa que um filho de Deus vai aprender debaixo do senhorio do Espírito Santo é como somos diferentes do Senhor. Mas, louvado seja Deus, nesta dispensação, se realmente somos filhos de Deus, sabemos que Cristo está dentro de nós. Este é o segundo estágio dessa revelação, da compreensão dessa “diferença entre nós e o Senhor”. No primeiro estágio passamos a ter a convicção desse fato. Vamos aceitá-lo? O Senhor Jesus é uma pessoa completamente diferente de mim, e até mesmo quando penso estar correto, nunca poderei depositar minha confiança no meu próprio senso de justiça, até que tenha submetido minha justiça a Ele! Isto é radical, mas necessário. Muitos de nós tem aprendido essa lição. Não estamos falando de um livro, mas de uma experiência. Muitas vezes ficamos convictos de que estávamos certos e prosseguimos de acordo com nosso próprio julgamento até nos desapontarmos, adentrando uma terrível neblina de perplexidade e confusão. Dentro do nosso conceito estávamos totalmente certos, e nem percebemos onde fomos parar! Quando refletimos um pouco mais a respeito diante do Senhor, nos perguntamos: ‘Quanto tempo esperei no Senhor e pelo Senhor com essa questão?’. Será que não nos precipitamos um pouco com o nosso senso de justiça? Podemos recorrer novamente ao exemplo de Davi e da arca. A intenção de Davi em trazer a arca para Jerusalém estava correta, e ele compreendeu o propósito de Deus em relação a isso. Não temos dúvida que Deus queria trazer a arca para Jerusalém, mas Davi trabalhou nessa ideia com grande entusiasmo, construindo um carro. Essa boa intenção, essa boa ideia aliada a um espírito devoto foi o que colocou Davi num sério problema. O Senhor feriu Uzá, que morreu diante do Senhor. A arca permaneceu na casa de Obede-Edom. Tudo isso aconteceu porque um homem teve uma boa ideia, mas não esperou no Senhor. Sabemos o que aconteceu a seguir. Davi disse para os líderes dos levitas: “Santificai-vos, vós e vossos irmãos, para que façais subir a arca do Senhor, Deus de Israel, ao lugar que lhe preparei. Pois, visto que não a levastes na primeira vez, o Senhor, nosso Deus, irrompeu contra nós, porque, então, não o buscamos, segundo nos fora ordenado” [1Cr 15:12,13]. A instrução estava ali o tempo todo, mas Davi não esperou no Senhor. Se Davi tivesse levado seu piedoso entusiasmo ao Senhor com tranquilidade, Ele o teria guiado conforme a instrução que já havia dado a Moisés. Como efeito, o Senhor lhe diria: ‘Sim, mas lembre-se da forma como a arca deve ser carregada’. Não teria ocorrido morte, nem atraso, e as coisas teriam corrido bem.

Sim, nós podemos ter uma boa idéia, mas precisamos submetê-la ao Senhor, para nos assegurarmos de que não se trata de uma idéia exclusiva nossa, mas que aquilo foi algo da mente do Senhor gerado em nós. É muito importante aprender Cristo, pois Ele é completamente diferente de nós.

Isto divide os cristãos em duas categorias. Existe um grupo mais amplo de cristãos que consideram Cristo algo objetivo, exterior. Tudo se resume em adotar um modo de vida cristão, fazer muitas coisas que não se fazia anteriormente. Essas pessoas vão à reuniões, à igreja, lêem a Bíblia, fazem muitas coisas que não costumavam fazer, e também deixam de fazer algumas coisas que outrora faziam. Tudo é uma questão de fazer ou não fazer, de ir ou não ir, de ser um bom cristão exteriormente. Esta é uma categoria abrangente, com seus vários graus de luz e sombra.

Existem outros que estão nesta Escola de Cristo, e para eles a vida cristã se trata de algo interior, um caminhar com o Senhor, conhece-Lo, saber o que está no Seu coração, num grau maior ou menor. A natureza dessa vida é um caminhar vivo com o Senhor nos corações. Existe uma enorme diferença entre essas duas categorias de cristãos.

A LEI DO ESPÍRITO OU INSTRUMENTO DE INSTRUÇÃO

Como o Espírito Santo faz essa diferença conhecida? Isso porque o Espírito não fala conosco por meio de uma linguagem audível, não ouviremos uma voz dizendo: ‘Este é o caminho, andai nele!’ Então, como poderemos saber qual é o caminho? Bem, isso é o que o apóstolo Paulo chamou da “lei do Espírito da vida em Cristo Jesus”. “A vida estava nele e a vida era a luz dos homens” [Jo 1:4]. Como saberemos, seremos iluminados em relação à essa diferença tão crucial entre os nossos caminhos, pensamentos, sentimentos, e os caminhos Senhor? Como obteremos luz? A vida era a luz. “Quem me segue não andará nas trevas; pelo contrário, terá a luz da vida”. (Jo 8:12). “Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte” (Rm 8:2). Aí está o instrumento do Espírito, se posso chamá-lo assim, para a nossa aprendizagem: é a vida em Cristo. Isto quer dizer que nós conheceremos a mente do Espírito a respeito das coisas quando detectamos e discernimos a vida, a vida Divina, o Espírito da vida. Se estivermos vivos para o Senhor, então sabemos quando o Espírito não está de acordo com alguma coisa por meio de um senso de morte, sentiremos morte naquela direção.

Ninguém pode nos ensinar isso por meio de palavras, de uma lição. Ainda assim, é algo que podemos experimentar. Conheceremos a mente do Espírito por meio das Suas reações, que por vezes são até violentas. Tomamos uma direção, por exemplo, e percebemos uma reação ruim. Insistimos em fazer alguma coisa e se ao menos parássemos por um momento e observássemos, seria claro que somos nós que estamos tentando realizar aquilo. Falta espontaneidade, que é a marca do Senhor. Sabemos que o Senhor não está envolvido, pois carecemos de senso de espontaneidade e de paz. Aquilo precisa ser forçado, conduzido, para acontecer. Imagino que cada um de vocês, que é um verdadeiro filho de Deus, sabe exatamente do que estou falando. Lembre-se de que a vida é o instrumento do Espírito para ensinar Cristo.

A marca de um homem ou mulher governado pelo Espírito é que eles se movem e ministram em vida, e essa vida flui a partir deles. Essas pessoas conhecem por meio dessa lei do Espírito onde o Senhor está envolvido, o que Ele busca e deseja. Nenhuma voz é ouvida, não se trata de uma visão, mas lá no espírito o Espírito da vida dirige, por meio da vida.

Como é necessário estarmos vivos diante de Deus em Cristo Jesus. Como é imprescindível para nós tomar posse dessa vida. Se Satanás puder nos oprimir com aqueles espíritos de morte, e levar nosso espírito a sucumbir nesse envoltório mortal, ele cortará imediatamente a luz e nos deixará cambaleando, não saberemos onde estamos, nem o que fazer. O inimigo sempre tenta fazer isso, e estamos num contínuo combate pela vida. Tudo isso está atrelado à realização do propósito de Deus relacionado a essa “vida”, e nela reside, potencialmente, a totalidade de todo propósito de Deus.

Assim como temos a vida de uma grande árvore entesourada dentro de sua semente, por isso, quando a semente brota, sabemos que a vida de uma grande árvore se iniciou, da mesma forma recebemos toda plenitude do poder de Deus nessa vida que recebemos em nossa infância espiritual, em nosso novo nascimento. Nessa vida eterna temos o propósito de Deus, e Satanás está do lado de fora, não apenas para tentar cortar nossa vida, mas para tentar impedir que os propósitos de Deus se manifestem por meio dela. O Espírito está sempre envolvido com esta vida, e Ele nos diz: ‘Cuidem dessa vida, não deixem que nada interfira em seu desenvolvimento'. Entendam que sempre que houver algo que venha a entristecer o Espírito, limitando a operação desta vida, devemos imediatamente recorrer ao precioso Sangue que se mantém como uma testemunha contra a morte, aquele Sangue Precioso, essa vida incorruptível, a testemunha no céu da vitória sobre o pecado e a morte, por meio da qual poderemos ser libertos das mãos de Satanás. Este precioso Sangue é o terreno onde devemos enfrentar tudo aquilo que entristece o Espírito e limita a operação da vida, que é o meio para conhecermos Cristo, neste vivo caminho, onde Cristo está sempre crescendo até chegar à plenitude. Que o Senhor nos ajude.

Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.