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O Braço do Senhor

por T. Austin-Sparks

Capítulo 9 - Reintegração de Todas as Coisas Por Intermédio da Cruz

Neste capítulo final faremos algumas outras referências adicionais às profecias de Isaías. Procuraremos, em primeiro lugar, resumir, ou rever, todo o assunto que estivemos considerando, e depois apresentar algumas reflexões adicionais que surgem das cartas aos Efésios e aos Colossenses.

Gostaria que você traçasse uma imagem mental. Imaginemos, em primeiro lugar, a Carta aos Romanos colocada como pano de fundo e, depois, sobreposta a ela, uma figura da Cruz. Vimos que a carta aos Romanos apresenta a Cruz como o instrumento de Deus para preparar o terreno para a edificação de Deus, proporcionando o lugar para o alicerce daquele grande edifício que sempre esteve no Seu pensamento e na Sua intenção - a Igreja.

Romanos

A Carta aos Romanos se inicia abordando muitas coisas sobre as quais Deus não edificará - sobre elas Ele não pode construir. À medida que Deus examina o cenário humano, com o objetivo de lançar os alicerces para Sua Igreja, Sua gloriosa Igreja, Ele encontra as coisas numa condição tão confusa, má, falsa e errada, que Ele diz: 'Não posso estabelecer Meu alicerce sobre isso; devemos limpar tudo isso. Devemos queimar, consumir e abrir uma grande clareira para a fundação.' E assim, na Carta aos Romanos, a Cruz é introduzida e apresentada como aquilo que, por um lado, dispõe de todas essas coisas. E em que estado estão! Que condição terrível é apresentada nos primeiros capítulos dessa carta! A Cruz é colocada ali para lidar com tudo isso, para se livrar e consumir tudo. É como o grande altar de bronze com seu fogo consumidor, levando tudo a julgamento e não deixando nada além de uma clareira, um vazio, esterilidade.

Mas então, do outro lado, vemos Deus lançado o Seu fundamento, nos capítulos restantes daquela Carta, quando surge uma nova perspectiva. Tudo agora é possível para Deus. Encontramos no capítulo 8 tanta coisa dita sobre os eternos conselhos e presciência de Deus, Seus maravilhosos pensamentos e concepções na eleição, predestinação e adoção em conformidade com a imagem de Seu Filho, vemos a criação redimida da corrupção; os filhos de Deus libertados da escravidão. Tudo agora parece ter se concretizado, pois a Cruz abriu o caminho.

Essa, então, é o primeiro item na imagem mental que peço que você desenhe: a Cruz, como o meio de Deus para assegurar o fundamento para todo o resto.

1 Coríntios

A partir dessa Cruz você desenha linhas radiais. A primeira linha chega à Primeira Carta aos Coríntios. Aqui a Cruz é aplicada – não nas condições do mundo, nem nos que estão fora de Cristo – mas às condições prevalecentes entre os crentes que não correspondem à Cruz. O Apóstolo traz o significado da Cruz para o homem natural, o homem carnal, e todas as suas obras, sobre tudo o que resultou da presença dele entre o povo do Senhor - as divisões, e toda aquela situação horrível no Igreja é descrita na Primeira Carta. Ele diz: “Quando fui ter convosco, decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado” (1Co 2:1,2). Assim, a primeira “irradiação” de Romanos é dirigida para todas as condições dentro da igreja que não estão de acordo com o significado da Cruz. Deus não pode prosseguir com a edificação até que essas coisas sejam resolvidas.

O Apóstolo diz aos Coríntios naquela Primeira Carta que o fundamento já está lançado: “Lancei o fundamento como prudente construtor; e outro edifica sobre ele. Porém cada um veja como edifica.” (1Co 3:10). Como já apontamos, essas coisas que encontramos naquela carta, são as coisas para as quais Deus diz: 'Não, você não deve colocar isso no Meu fundamento. Minha fundação merece algo melhor que isso. Não podemos ter essas coisas aqui – elas apenas irão desorganizar tudo mais uma vez e tornar necessário que passemos por todo o processo de consumir tudo novamente. Porque a obra de todo homem que não estiver de acordo com a Cruz se transformará em chamas e fumaça - não restará.’

Esse, então, é o primeiro alcance da Cruz a partir de Romanos, tocando nas condições entre o povo do Senhor que não estão de acordo com o que Deus entende pela Cruz. Deus diz 'Não' a tudo isso. 'Não vou usar isso em Meu alicerce; Não vou construir com isso. Livre-se disso e então prosseguiremos com a construção. Como vimos no capítulo anterior, essas coisas foram tratadas pelos próprios coríntios. O fogo queimou entre eles – o fogo do arrependimento, do autojulgamento, da limpeza, do coração quebrantado (2Co 7:11). Algo aconteceu e eles lidaram com tudo isso.

2 Coríntios

A segunda linha radial conduz à Segunda Carta aos Coríntios. Temos a grande restauração do testemunho na igreja em Corinto – na localidade, na cidade e no mundo. O testemunho que foi manchado e arruinado agora pode ser restaurado. Quando Deus encontra esse estado de coração e de espírito - quebrantamento, humildade, contrição, muito abatimento diante Dele, 'tremor diante da Sua palavra' (Is 66:2) - Ele pode prosseguir com o desenvolvimento do testemunho no mundo. Isto é, Ele agora pode edificar. Quando Ele tem essas condições, as coisas começam a acontecer exteriormente – e isso não requer um grande esforço, elas simplesmente acontecem – porque temos a expressão do poderoso poder dinâmico de Deus.

O Apóstolo diz naquela carta: “Foi Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a luz” (ou, ‘Haja luz’, na primeira criação), que “resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo.” (2Co 4:6). Alguns versículos antes Paulo disse: “Nós... contemplando... a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem” (3:18). Este é o testemunho: quando as coisas são tratadas interiormente, o brilho é espontâneo. É o resultado de uma obra profunda e silenciosa de Deus. Quando Deus proferiu Seu decreto: “Haja luz!” em meio ao caos, não creio que tenha havido muito barulho a esse respeito. Nunca é necessário que haja um grande barulho quando Deus exerce Seu poder. Ali “está velado Seu poder”, usando a frase de Habacuque (Hc 3:4). Mas isso não indica a minimização do Seu poder. Deus só precisa falar, e coisas imensas podem acontecer. Ele apenas disse: 'Que haja luz!' - mas observem a força e o poder da luz nesta criação. Quão incrível é a luz! - e apenas com uma palavra. Isso também é simbólico.

Mas aqui em Corinto a luz brilha quando Deus tem as condições corretas; e é assim que vai acontecer. Não é necessário que haja o grande barulho da publicidade, propaganda, organização, da agitação e da atividade febril. Se o testemunho estiver presente, as pessoas saberão e sentirão. Se as condições forem adequadas, algo acontecerá. E se não há nada acontecendo, então é melhor olharmos para as nossas condições.

Gálatas

A terceira linha que irradia da Cruz, como vimos no capítulo anterior, leva-nos à Carta aos Gálatas, onde nos é mostrada a vida resultante no Espírito. A Cruz produz uma vida no Espírito: ela produz um Cristianismo verdadeiro e espiritual, distinto de um tipo de Cristianismo meramente profissional, formal ou ritualístico que está totalmente do lado de fora. Esta coisa poderosa, o verdadeiro cristianismo espiritual, uma vida no Espírito: quão real e quão eficaz é! É a isso que chegamos quando chegamos à Carta aos Gálatas. Essa epístola nos diz que a Cruz resulta numa vida no Espírito, e que o verdadeiro Cristianismo é algo espiritual.

'Efésios' e 'Colossenses’

Com esse breve resumo do que aconteceu, vamos compartilhar alguns pontos adicionais sobre as epístolas gêmeas, “Aos Efésios” (assim chamados) e “Aos Colossenses”. É bastante evidente que são epístolas gêmeas: você não pode lê-las sem descobrir que está cobrindo em grande parte o mesmo terreno, com apenas uma ênfase diferente em cada uma delas. Nessas epístolas chegamos a coisas tremendas.

Notemos, em primeiro lugar, que nestas epístolas, como acontece com as demais, a Cruz é o fundamento. Em Efésios, somos informados de que ‘nós, que estávamos mortos em ofensas e pecados, fomos vivificados e ressuscitamos juntamente com Ele’ (Ef 2:1,5,6): a Cruz está ali. Na Carta aos Colossenses, lemos sobre "... o despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo; tendo sido sepultados, juntamente com ele, no batismo" (2:11,12) - aqui você tem o Cruz novamente. A Cruz é básica, esse é o ponto. É o fundamento trazido de Romanos.

Então, ao perceber isso, você se depara com podemos dizer que são as duas maiores coisas que já foram reveladas por Deus. São coisas tão maravilhosas que, se realmente as virmos, não como na Bíblia como uma leitura, mas como uma realidade no coração, algo certamente acontecerá conosco.

Você já se deparou com algo na Palavra de Deus que simplesmente te maravilhou e arrebatou? Talvez possa ilustrar isto com um pequeno incidente engraçado que aconteceu durante uma ministração no Extremo Oriente. Certo dia, estava falando em uma reunião - é claro, com um intérprete - quando de repente o querido irmão ao meu lado, que estava interpretando para mim em chinês, teve acessos de riso incontroláveis! Lá estava ele - simplesmente não conseguia parar de rir: e então as pessoas perceberam e começaram a rir também! Bem, este querido irmão não conseguiu parar; ele tentou e se esforçou, mas quanto mais lutava, mais parecia perder o controle. Eu não tinha consciência de ter dito algo extraordinário – pelo menos; nada que pudesse gerar tanta alegria. Tive que esperar e me perguntar o que estava acontecendo - me perguntando o que havia dito para causar essa reação. Um pouco mais tarde, quando ele já havia se recuperado um pouco, e já tinha passado, o riso voltou, e ele teve o acesso novamente; e isso aconteceu mais de uma vez.

Então, depois, quando fiquei a sós com ele, lhe disse: ‘Irmão, o que foi que eu disse? o que disse para fazer você ficar assim, e todas as pessoas também? Disse algo tão escandaloso e engraçado para você? Ele disse: 'Não, irmão, não, nada disso. Era algo que nunca tínhamos visto antes, só isso, nunca tínhamos visto isso antes!’

A questão é esta: é possível ver algo na Palavra de Deus que te arrebata – é tão novo! O Senhor livre-nos de nos tornarmos tão familiarizados com tudo, que a Palavra nunca provoca nem desperta nada em nós. Deveria acontecer conosco o mesmo que aconteceu com aqueles queridos amigos chineses. Mas isso é incidental. Quando chegamos a essas cartas, se tivermos os olhos realmente abertos, veremos coisas que são calculadas para nos tirar o fôlego, para nos tirar arrebatar: pois são realmente maravilhosas. Talvez quando eu as mencionar, eles sejam tão familiares que não irão mexer com você; mas não posso em nenhum momento refletir sobre elas sem ficar tremendamente comovido. A linguagem delas é realmente familiar, mas que o Senhor nos traga novamente algo do real impacto e significado dessas palavras. Vejamos então qual é a chave e o resumo desta carta, que se chama Carta aos Efésios.

Efésios: “Todas as coisas em Cristo”

Em meio a toda a plenitude maravilhosa que temos nesta carta – e é realmente uma carta muito completa; quase todas as frases são além da nossa compreensão - temos um pequeno fragmento, que resume toda a carta; e realmente revela do que se trata e o que ela significa. É sempre muito útil uma coisa assim, abrangente. Aqui está: ”…o mistério da sua vontade...que propusera em Cristo, de fazer convergir nEle, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu, como as da terra; nele, digo...” (Ef 1:9,10). ‘Convergir todas as coisas em Cristo’. Essa palavra “convergir” talvez não transmita completamente o que o Apóstolo realmente quis dizer e estava dizendo. Ela vai até um limite. Talvez fosse melhor dizer: “reunir (ou melhor ainda: subordinar, agrupar) todas as coisas em Cristo”.

Desintegração Humana

Quando o pecado entrou por intermédio de Adão, um grande processo de desintegração se iniciou. Em primeiro lugar, essa desintegração começou no próprio homem: ele já não era uma entidade única, mas se tornou uma personalidade dividida. Cada filho de Adão é uma personalidade dividida; tem uma guerra civil na sua própria natureza e constituição. É um homem dividido, que está em conflito consigo mesmo. Isso não é verdade em relação a todos nós? Conhecemos o suficiente sobre nós mesmos para saber que não há nada em nossa natureza e constituição que remeta à harmonia. Existe uma guerra dentro de nós: em nossa constituição e temperamento. Nós estamos quebrados; divididos; desintegrados. Isso aconteceu no próprio homem.

E então aconteceu isso aconteceu entre os dois primeiros – e únicos – o homem e sua esposa. É possível discernir os elementos de desintegração e ruptura entre eles: o homem começa a culpar a mulher, e isso é o início de uma divisão doméstica. Havia uma unidade e harmonia maravilhosas; eles eram “uma só carne”, diz (Gn 2:24), mas agora algo aconteceu e eles não são mais assim. Quando foram expulsos do jardim, sem dúvida estavam culpando uns aos outros, dizendo: 'Isso é tudo culpa sua!' Estamos familiarizados com esse tipo de coisa – recriminações e assim por diante. A divisão surgiu; temos uma tensão na vida.

O que dizer da família que foi gerada deles? Temos Caim e Abel, os primeiros filhos, envolvidos em divisão, desintegração, até ao ponto do assassinato. E fora da família, isso se espalhou para a raça, até que se seguiu a grande dispersão, a divisão da raça em muitas, muitas partes, com toda a sua diversidade de línguas, como a temos hoje. A raça inteira está despedaçada, numa condição de total desarmonia. Prosseguindo, antes de sair do Antigo Testamento, vemos toda a raça dividida em duas seções irreconciliáveis, judeus e gentios, odiando-se mutuamente com grande amargura. O judeu não quer relação nenhuma com os gentios, chama os gentios de “cães” – coisas impuras – e não se associa com eles. As nações gentias reagem contra os judeus, como sabemos que sempre fizeram e continuam a fazer nos dias de hoje. O estado atual da raça humana é de quebrantamento, dispersão, discórdia e ódio, brigas e contendas, conflitos e guerras. Tudo está em pedaços, e todas as peças estão umas contra as outras. Não há harmonia, nem unidade, nem integração na raça humana.

O Segredo de Deus

Mas Deus tinha um segredo. Ele sabia de tudo isso, sabia o que ia acontecer e o que estava por vir, e Ele planejou Sua própria maneira de enfrentar esse problema. Deus tinha um segredo em Seu coração sobre como resolveria essa situação terrível. Este segredo é o que Paulo, nesta e em outras epístolas, chama de “o mistério”. Como Deus faria isso? Ele iria ‘reunir todas as coisas em Cristo'. Ele faria de Seu Filho o Centro e Esfera integradores de uma nova criação, na qual todas essas diversidades e conflitos nunca mais seriam encontrados. Este é o resumo desta Carta aos Efésios: “reunir todas as coisas em Cristo”. Afirmo que isso é algo que nos emociona, e não importa quantas vezes já tenhamos o ouvido antes.

E assim, nesse contexto, três coisas vem à luz.

Em primeiro lugar, vemos a Cruz de Cristo. Você percebe aqui que Paulo diz: “destruindo por ela [a cruz] a inimizade” (2:16). Temos muitas concepções e ensinamentos sobre a Cruz, mas aqui vemos algo maravilhoso: na Cruz a inimizade foi dominada e destruída. Se houver uma obra da Cruz em nós, qualquer divisão cessará, seja ela nacional, internacional, pessoal, social ou mesmo cristã. A Cruz é o instrumento para tratar com isso – e ela vai de fato resolver essas questões. Se a Cruz realmente tocar o mais profundo do nosso ser, toda a situação, tanto em nós como entre nós e os outros, mudará. A Cruz opera de forma que nós não mais nos encontraremos no terreno natural. Nós estaremos no terreno celestial e espiritual, no terreno de Cristo.

Em segundo lugar, vemos que o próprio Cristo é o ponto focal e a esfera disso. Encontramo-nos “em Cristo” – esta é a grande afirmação: “reunir todas as coisas em Cristo”. Observe quantas vezes aquela essa pequena expressão “em Cristo” é usada: tudo está “em Cristo”. Ele é o centro e a esfera desta maravilhosa nova integração. “Em um só Espírito”, diz o Apóstolo, “todos nós fomos batizados em um corpo” (1Co 12:13).

Em terceiro lugar, como resulta claramente desta carta, a Igreja é o vaso de manifestação disso tudo. O segredo de Deus não era apenas que Seu Filho seria o ponto focal, mas que a Igreja deveria ser o vaso no qual esta unidade deveria ser manifestada. Que tragédia que isso não aconteça mais! E, no entanto, como disse, onde obtemos uma verdadeira expressão da Igreja, é isso que encontramos - todas as coisas em desintegração do lado de fora e a poderosa integração do amor Divino dentro. Vemos um testemunho real do Corpo de Cristo.

Estamos muito familiarizados, é claro, com essas frases e essa terminologia. Mas é maravilhoso perceber que, na plenitude dos tempos (ainda não atingimos a “plenitude dos tempos”, mas penso que estamos chegando muito perto dela), Deus tem o propósito de reunir – não geográfica e fisicamente, mas em uma gloriosa unidade de espírito – todas as coisas em Cristo. Deus se determinou a fazer isso, e será um dia maravilhoso quando esse propósito for cumprido.

‘Destruindo a inimizade pela cruz’ (Ef 2:16). Querido irmão, querida irmã, preste atenção nisso. Se houver alguma inimizade entre você e outro irmão ou irmã em Cristo, isso é uma negação da Cruz; é uma negação de Cristo e é uma negação da Igreja. Isso é muito sério.
Você tem alguma inimizade com outro irmão? ou outra irmã? A Palavra diz aqui que na Cruz a inimizade foi destruída! Onde está a Cruz - onde está Cristo - onde está o Espírito - onde está a Igreja - se ainda estiver presente entre nós aquilo que a Cruz deveria ter eliminado, sim, e na realidade já eliminou? Isso não tem lugar entre nós.

Na grande oração que Paulo faz no terceiro capítulo de Efésios (vs 14-19), ele diz: “Me ponho de joelhos diante do Pai...” Então somos uma família! Aí percebemos o cerne das coisas. Qual é a principal característica de uma verdadeira paternidade e de uma verdadeira família? É o que Paulo diz aqui – é o amor. Ouça o que ele diz: "... e, assim, habite Cristo no vosso coração, pela fé, estando vós arraigados e alicerçados em amor, a fim de poderdes compreender, com TODOS os santos" - observe que - “a fim de compreender, com todos os santos qual é a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento...” Vemos um amor em dimensões tamanhas, que é capaz fazer isso, e que pode alcançar esse fim de reunir juntos todos os quebrantados em Cristo. Isso só será realizado por esse amor poderoso, muito poderoso, com sua largura, seu comprimento, sua altura e sua profundidade. Esse amor é grande o suficiente para fazer isso; mas nós precisaremos ser fortes, com todos os santos, para compreender isso. Apreenda esse amor e Deus alcançará o Fim que Ele propõe.

Colossenses: A 'plenitude' restaurada

Só poderemos passar brevemente pela segunda destas “epístolas gêmeas” – a Carta aos Colossenses. Qual é a grande palavra, ou declaração, contida nessa carta? É esta: “porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude” (Cl 1:19); “também, nEle, estais aperfeiçoados” (Ef 2:10). O que aconteceu?

Em primeiro lugar, no início da criação, o grande Oleiro criou, moldou, por assim dizer, um belo vaso. E quando Ele se afastou e olhou para ele, afirmou: 'É muito bom.' E Ele encheu aquele vaso com Sua plenitude – e com que plenitude Ele encheu o vaso desta criação! Quão cheio está o vaso desta criação, ainda hoje, em sua condição atual – cheio da beleza e da glória de Deus! Mas no início estava cheio de beleza e glória imaculada. E então, um grande inimigo entrou e desferiu um golpe naquele vaso e o despedaçou: toda aquela plenitude divina e espiritual vazou – ela se foi; e em seu lugar encontramos, em comparação com o que já foi, apenas desolação e vazio.

Agora o Grande Oleiro retorna, para 'fazer dele outro vaso' segundo bem lhe pareceu (Jr 18:4). Aqui está o vaso – a Igreja. Este é o vaso do Senhor: um belo vaso, uma “igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito” (Ef 5:27). Ao olhar para ela de acordo com Seu próprio pensamento e Seu próprio ideal, ponderando tudo o que Ele pretende e tudo o que Ele realizará através dela, Ele afirma: 'Uma Igreja gloriosa! Isso é muito bom.' E nesta Carta aos Colossenses vemos o vaso refeito, agora cheio de toda a plenitude. O vaso está consertado, todos os seus fragmentos estão reunidos; não podemos rastrear as rachaduras e as junções; esta Igreja como Ele a tem aqui é mais uma vez um belo todo; e agora Ele o enche novamente com toda a Sua plenitude. “Para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus.” (Ef 3:19), é a oração do Apóstolo. “Nele, habita, corporalmente, toda a plenitude.... e nele, estais aperfeiçoados” (Cl 2:9,10). É assim que deve ser.

Uma coisa deve ser grifada: embora este seja um processo que Deus está buscando realizar, seja o fim para o qual Ele está trabalhando, devemos lembrar que a realização desta grande e gloriosa consumação - esta 'reunião' novamente, de todas as coisas em Cristo, este enchimento do vaso “reunido” com toda a Sua plenitude – requer, e deve ter, um trabalhar contínuo da Cruz. Esse é o desafio de tudo o que vimos nas páginas anteriores: o desafio da Cruz em tudo, em relação ao grande propósito de Deus.

Esta reintegração, se for permitido ao Senhor fazer o que Ele deseja, será efetuada por meio da Cruz. Se houver algo contrário à integração, à unidade, será sempre atribuído a algo que resistiu, ou está resistindo, à obra da Cruz. Isso se aplica às nossas próprias vidas e às nossas assembleias. Se há algo que ainda representa desintegração, divisão, cisma, se as coisas estão quebradas, não são uma só entidade e um todo, isso pode ser atribuído a uma falha em permitir que a Cruz faça o seu trabalho em alguma direção.

Essa é a única e abrangente explicação para isso explicação. Se a Cruz realmente fizer o seu trabalho, esta integração será um resultado espontâneo.

O caminho da unidade não é o caminho de consertar as coisas a partir de fora – o caminho da unidade é resultado da obra da Cruz na vida. Quando a Igreja realmente permite que a Cruz atue na sua própria constituição, o problema da divisão se resolve. E se existe pobreza espiritual, se existe escassez, se existe limitação nos nossos recursos espirituais, e não estamos conhecendo essa plenitude, é pelo mesmo motivo. Se a Cruz opera, a medida aumenta, de forma bastante espontânea: sempre acontece dessa maneira, quando você tira do caminho coisas que são contrárias a Cristo.

Conclusão

E assim terminamos onde começamos. “A quem é revelado o braço do Senhor?” Se tivermos algum interesse ou preocupação em conhecer Deus conosco e por nós em poder, em apoio, em proteção, libertação e socorro, este é o caminho. A resposta a essa pergunta de Isaías 53 se encontra nesse mesmo capítulo: é revelada a Este que vai até Cruz, que experimenta a Cruz; Àquele que deixa tudo aos pés da Cruz; que desce em vergonha e desonra na Cruz; que perde tudo o que é seu na Cruz: a Ele é revelado o braço do Senhor. E isso é revelado também a todos aqueles que seguem esse caminho junto com Ele. A história é a grande prova disso que estou dizendo. Ao longo da história, o braço de Deus foi, e sempre será, estendido a favor de Seu Filho e a favor de todos aqueles que estão com o Seu Filho como homens e mulheres crucificados - igrejas crucificadas - uma Igreja crucificada.

Há uma passagem da qual todos gostamos muito: “Seus olhos [do Senhor] passam por toda a terra, para mostrar-se forte para com aqueles cujo coração é totalmente dele” (2Cr 16:9). A Cruz é o instrumento para testar se nossos corações são perfeitos para com o Senhor, ou se temos interesses pessoais, mundanos, e interesses divididos. Essa palavra 'perfeito' significa 'completo' ou 'todo': o Senhor se mostrará poderoso em favor daquele cujo coração é completo para com Ele. E onde poderíamos encontrar uma personificação maior de alguém cujo coração estava completo para Deus, do que no Senhor Jesus naquela cruz?

Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.