por
T. Austin-Sparks
Capítulo 9 - Iluminação Espiritual
Ao chegarmos a esse ponto no Evangelho de João, avançamos mais um passo na apreensão de Cristo. Veremos como, de uma maneira muito prática, a narrativa continua: “Caminhando Jesus, viu um homem cego de nascença” [Jo 9:1]. Frequentemente observamos que as coisas que ocorreram na vida de nosso Senhor não foram apenas acontecimentos, meros incidentes, detalhes de uma história, mas tudo era ordenado dentro do compasso de um soberano propósito. Assim como havia um elo espiritual entre a multidão sendo alimentada no deserto e o Senhor Jesus sendo dado como Pão da Vida, esse também é o princípio neste evento.
Esse caso do homem cego de nascença é marcado por características que nos levam para nossas profundezas. Sem dúvida, havia muitos cegos naquela parte do país naquele tempo, mas este, com um propósito especial em relação ao pensamento Divino, foi trazido ao caminho do Senhor Jesus. O mistério que envolve o seu caso é por demais profundo para nós. A pergunta dos discípulos trouxe uma quase impressionante conclusão: “Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?” [Jo 9:2]. Se eles foram vítimas de superstição, ou se estavam pensando naquela parte da lei Mosaica que falava em pecados sendo visitados sobre os filhos até a terceira e quarta geração, o fato é que essa pergunta propiciou a seguinte afirmação, que apesar de incompreensível, traz a esse problema um tremendo valor espiritual: “Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus” [Jo 9:3]. Desta forma, podemos ver que havia um objetivo para a condição deste homem, e esse objetivo governava um movimento soberano que o colocou no caminho de Cristo naquele momento. Todo o contexto confirma isso e lança uma muita luz ao acontecimento.
O Mistério da Cegueira de Israel
Notamos o fato significativo que vai ao cerne do assunto, que entre todos os cegos daquela região e ocasião, este homem havia nascido assim. Provavelmente uma coisa mais rara que a outra. Não é sem significado que esse caso em particular fosse de cegueira de nascença. Isso represente, em princípio, toda a verdade da vinda de Cristo como a Luz. A Palavra de Deus declara claramente e toma como certo que a toda raça é cega por natureza e está em trevas, e que, na melhor das hipóteses, o homem natural não pode ver o Reino nem as coisas do Espírito. Vimos no caso de Nicodemos que mesmo com toda a sua iluminação natural e religiosa, com toda a sua capacidade intelectual, com tudo o que ele era por natureza, ainda assim, o Senhor lhe disse: ”Se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus" [Jo 3:3]. Assim, o velho nascimento é cego, enquanto o novo é com visão. O homem, por natureza, na melhor das hipóteses, é incapaz de ver aquilo que se relaciona com o Reino de Deus. O homem nasce cego. Lembremo-nos de que essa afirmação foi, em primeiro lugar, destinado a Israel ou ao judaísmo. Esse é um daqueles embriões da verdada que será descortinado na carta aos Romanos. A cegueira de Israel é notória. Toda uma história trágica deles está envolvida nessa cegueira. Veio Aquele que poderia ter lhes dado visão, mas eles não acreditaram que estavam cegos, provando sua cegueira ao crucificarem o Senhor da Glória.
Da aplicação específica à Israel, a verdade é expandida para a raça, tornando-se uma verdade de aplicação universal. Esse fato universal é referido muitas vezes em escritos posteriores do Novo Testamento. Mas, à medida que prosseguimos com a história, ficamos cientes de que essa cegueira, embora certamente não seja parte da vontade governante de Deus, está conectada com Suas obras. "É necessário que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia" [Jo 9:4]. "...Para que se manifestem nele as obras de Deus". As obras de Deus, portanto, estão relacionadas ao estado natural do homem em sua cegueira. As obras de Deus são dirigidas para levar o homem ao lugar de iluminação e conhecimento espiritual.
Cristo e o Sábado Novamente
Há dois outros elementos importantes aqui. A cura do homem cego foi realizada no dia de sábado. Por ter sido feita no dia de sábado, despertou uma grande fúria entre os anciãos judeus. Todo o problema que se seguiu foi, em grande parte, relacionado a isso, ou pelo menos esse foi o pretexto – o fato da cura ter acontecido no sábado. As obras de Deus trazem aqueles que, por natureza, estão cegos e nas trevas para a iluminação e entendimento espirituais. Tais obras estão foram conectadas com o Dia de Sábado pelo Senhor Jesus. O Dia de Sábado, com tudo o que ele representa, deve ser visto como uma questão do próprio Cristo. Essa é a essência desse capítulo. Cristo é o Sábado de Deus: isto é, todas as obras de Deus são completas em Cristo. Deus chega ao Seu descanso em Seu Filho, e olha com prazer para todas as coisas em Cristo, dizendo: É muito bom. O "está consumado" do Calvário foi o estabelecimento da verdade espiritual do repouso Sabático no Senhor Jesus. Entrar na iluminação e entendimento espirituais é uma questão de entrar na obra consumada de Deus em Cristo. Falando de outra forma: é entrar na apreensão de Cristo como Aquele que consumou as obras de Deus.
As Obras de Deus
Um outro elemento importante é essa afirmação notável: "É necessário que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia". Essa é, sem dúvida, a melhor tradução. O “façamos” [no plural] traz consigo algo de grande importância e valor. O Senhor conecta-se com os Seus nas obras de Deus com vistas à iluminação daqueles que estão cegos e na escuridão. Com efeito, Ele está dizendo: Nós, eu e Meus cooperadores e parceiros, devemos realizar essas obras relacionadas à cegueira e trevas, para trazer a iluminação e o entendimento espirituais. Paulo foi comissionado a participar obras de Deus. Você se lembra que ele nos disse o Senhor lhe falou quanto à sua comissão: que ele deveria ir e estar diante de governantes, reis, gentios, e que o objetivo seria: "... para lhes abrires os olhos e os converteres das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus ..." [At 26:18]. Ele foi um obreiro, trabalhando em conjunto com Deus nos abrir dos olhos, para que as pessoas pudessem se converterem das trevas para a luz, e ele o fez po rmeio do Espírito. Em nossa vida espiritual, estamos desfrutando do benefício de tudo isso. Lembre-se de suas palavras na carta de Efésios 1:17-18: "para que... o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele, iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes...". Então, ele lista algumas das coisas que eles poderiam saber tendo seus olhos iluminados com o Espírito de sabedoria e entendimento. Nós, amados, somos chamados para a comunhão do Filho de Deus nesse ministério, e entramos diretamente nesse pequeno fragmento de João 9:4: "É necessário que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia", e obras de Deus são: "... para abrir os olhos deles". Assim, tudo está relacionado ao estado natural daquele homem, por ter nascido cego.
O Que é o Conhecimento de Deus
Uma verdade a respeito da iluminação e entendimento espirituais é que isso não vem por meio da apresentação da verdade. Podemos ter ouvido muito a respeito da verdade e estar bem informados sobre a doutrina, mas ainda podemos carecer de entendimento espiritual. O entendimento não vem de uma apresentação da verdade. Entendimento vem por um ato definido de Cristo em nossos corações. É uma obra a ser realizada. Não temos uma apreensão de Cristo meramente dentro de formulação de linhas doutrinárias. Uma apreensão de Cristo se dá por um toque vivo. Ele tocou, Ele ungiu seus olhos. Isso é um toque vivo. É um ungir dos olhos no nosso interior. Existem coisas ainda mais profundas, que podem ser tocadas à medida que avançamos. Mas reconheça essas palavras. Desejo enfatizar que a história de Israel chega ao seu ponto culminante neste capítulo; o fim deste capítulo é o ponto máximo da história de Israel como um povo cego, porque não havia neles a faculdade interior de entendimento espiritual, e ainda assim, eles possuíam todos os oráculos de Deus. A passagem tremenda de Dt 29:4 nos diz: "Porém o SENHOR não vos deu coração para entender, nem olhos para ver, nem ouvidos para ouvir, até ao dia de hoje". Sabemos que toda a Lei havia sido dada; e Israel recebeu uma tremenda apresentação das coisas Divinas naquele momento. Eles tinham trilhado por um caminho de maravilhosas manifestações de Deus; uma história muito cheia e rica de Deus se manifestando em palavras e atos; Deus fazendo-Se conhecido a eles. Agora, Moisés estava concluindo sua carreira; em muito pouco tempo ele cantaria sua canção, como registrado nos capítulos finais desse livro (Deuteronômio), e então seria sepultado por Deus. Juntando tudo isso, toda aquela história da manifestação de Deus a eles, Ele fez essa referência notável que está registrado no capítulo 29, versículo 4. Deixando a questão da responsabilidade de Deus nesse assunto, Moisés estava simplesmente considerando o fato de que, depois de tudo que passaram, eles ainda não estavam vendo. Depois de tudo, eles não estavam ouvindo. Vendo, não viam; e ouvindo, não entendiam; tendo tudo sido mostrado à eles, eles não conheciam em seus corações.
A história prosseguiu, séculos após Moisés, culminando em João 9. Com tudo o que se passou desde Moisés, todos os séculos de monarquia, todo o ministério dos profetas, em João 9, eles ainda estão cegos. Eles têm toda essa massa de verdade, mas nenhum entendimento, não tem olhos para ver, ouvidos para ouvir, nem corações para entender. Bem fez o livro de Provérbios ao estabelecer um alto valor para o entendimento. O entendimento é estimado acima do preço dos rubis. Que coisa tremenda é o entendimento espiritual. Note, ele vem por um toque vivo do Senhor Jesus, e é algo inestimável. Israel tinha que obedecer aos mandamentos; mas eles não tinham entendimento. Entretanto, o aspecto da nova aliança não é a obediência aos mandamentos vindos de fora, dados a nós, mas é ter revelação interior do Senhor. "Mas esta é a aliança que farei... Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração" [Jr 31:33 – ACF]. A revelação de Deus é o Cristo no interior. "Porque Deus... resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo" [2 Co 4:6]. Essa é a nova aliança, que não é mais uma questão de: “Tu deverás”, “não deverás”, para o crente. O cristão não é colocado debaixo da lei, no sentido de que ele está obrigado a fazer isso e aquilo, ou não fazer isso e aquilo. Não, o crente é verdadeiramente um filho de Deus, não mais governado por um sistema exterior de permissões ou proibições, mas por uma lei interior do conhecimento Divino da vontade do Senhor, na base de uma comunhão viva com Ele.
É uma bênção ver crentes manifestando o fato de terem, em seus próprios corações, um conhecimento do Senhor, de saber o que o Senhor quer que eles façam. Eles não fazem as coisas porque os outros esperam que eles façam, e não se abstêm de fazer certas coisas por causa do que os outros vão dizer. Eles estão conhecendo o Senhor em seus próprios corações. Essa é a prova de que eles entraram em comunhão viva com o Senhor Jesus, de que eles não estão mais debaixo a economia mosaica, mas no regime da habitação do Espírito Santo. Israel cegamente - isto é, no que diz respeito à sua visão espiritual - seguiu os mandamentos e as leis. O filho de Deus segue inteligentemente a vontade conhecida de Deus. Essa luz está conectada com Cristo como a Vida. Isso significa que é algo vivo. É a lei do Espírito da vida em Cristo Jesus que traz vida e paz, e é desse modo que conhecemos a mente do Senhor a respeito de qualquer coisa proposta. Vida e paz, se nossa comunhão com Ele estiver certa; vida e paz em nossos corações. Essa é a nossa luz. Se não tivermos vida nem paz em qualquer curso proposto, diante do Senhor, poderemos suspendê-lo por um tempo, e descobriremos que isso será justificado. O Senhor não mais nos fala diretamente sobre os assuntos: ‘sim, você deveria fazer isso ou aquilo’; e: ‘não, você não deveria fazer isso ou aquilo’. Ele agora fala por meio de leis espirituais, nem sempre verbalmente, e Sua fala, a fala do Espírito, é primeiro para o espírito, interpretada posteriormente pela mente. Ele fala em nossos corações e a linguagem do Espírito é vida, paz, descanso ou o contrário.
Nesse ponto, é necessário reconhecer aquilo que nos é dado pelo toque vital de Cristo em nossos olhos espirituais; isto é, o conteúdo da luz que recebemos. Bem, a resposta para isso é tão abrangente que, sem exageros, nos manteria aqui por muito tempo, porque incorpora tudo aquilo que nos acontecerá em nosso relacionamento com o Senhor.
Cristo – A Resposta para Todos os Problemas
Um ponto que vem à luz é relacionado ao propósito eterno de Deus para o homem; qual é nosso lugar na intenção original de Deus. Isso não é um assunto pequeno. As respostas para questões como "Por que eu existo?", "Para que existo?”, "Qual o motivo da existência da raça humana?" são reveladas na pessoa de Cristo. Se você apreender Cristo, terá entendido isso. A Encarnação é a resposta à indagação da causa da existência do homem. Veja Cristo, o Filho do Homem, e verá qual era o pensamento e intenção original de Deus para o homem. Na apreensão de Cristo obtemos as respostas às questões mais profundas do coração humano: "Por que existo?", "Por que corre a carreira?" - Cristo é a resposta! Mas algo se interpôs ao propósito original de Deus, da forma como havia sido primeiramente projetado, fazendo com que víssemos qualquer coisa, menos Cristo, na carreira. Vemos uma terrível distorção, uma deturpação horrenda; mas Deus não abandonou Seu propósito original.
A segunda revelação surge: Como? A partir de nada além de ruínas, Deus obterá Sua intenção. Assim, somos apresentados ao grande tema da redenção: Como? A resposta para essa segunda pergunta é Cristo. Ele se torna redenção para nós. A apreensão de Cristo é a resposta para a pergunta “Como?” em meio à toda essa destruição e ruína da raça humana. A apreensão e a compreensão vivas de Cristo respondem a isso. Como Deus fará isso? Olhe para Ele, O apreenda por meio da fé, e isso será feito em você, Deus o fez. "Portanto, se alguém está em Cristo, há uma nova criação" (2 Co 5:17 - margem V.R.). A semente da criação totalmente conformada a Cristo é plantada no novo nascimento.
Então, surge uma questão adicional. Tendo apreendido a Cristo como a resposta para o “Como?”, ainda estamos enfrentando o problema da imperfeição das nossas vidas. Nós ainda não somos perfeitos, ainda não alcançamos a perfeição. Por quais meios devemos alcança-la e como nos tornaremos perfeitos? Cristo é a resposta. "... Cristo em vós, a esperança da Glória" [Cl 1:27]. Cristo em vós, apreendido pela fé, é a base da nossa conformidade com a Sua imagem. "...Até ser Cristo formado em vós" [Gl 4:19]. Como somos conformados à imagem do Seu Filho? A resposta é Cristo, como uma realidade interior viva por meio do Seu Espírito.
E assim poderíamos continuar vendo o que é Cristo e o que a iluminação concernente a Cristo traz ao responder a todas as perguntas. Isto é o que quero dizer com o conteúdo da visão, iluminação e compreensão espirituais. Não é pouca coisa ter seus olhos abertos, e há um progresso infinito nisso. Devemos continuar vendo cada vez mais em Cristo, não apenas até o final deste curto espaço de tempo de nossa existência, mas além, onde a visão será perfeita, ainda permaneceremos explorando o significado de Cristo através das eras eternas, sempre encontrando algo novo e fresco no significado de Cristo. Essa é a minha esperança, no meu presente desespero. Tomo um fragmento das Escrituras, como "João", e não sei quantas vezes já li e procurei explicar, e começo de novo percebendo que não sei nada a respeito. Entrando numa esfera como esta, você só pode dizer: Oh, se alguém pudesse nos dar alguma luz a esse respeito! Então entendo que terei que começar "João" todo novamente, e toda vez que fizer isso haverá um desvendar mais completo do Senhor Jesus, e eu sei que ainda será assim, mesmo no final de toda minha vida. Nossa esperança é que entenderemos as Escrituras lá em cima. Nós O veremos como Ele é; mas agora, O vemos como que através de um vidro escuro. Há muitas coisas que quero saber, mas já é uma grande coisa conhecer seu início. É precioso ter nossos olhos abertos. Estar aqui neste pequeno caminho, com uma pequena medida de visão espiritual, olhando para o Senhor Jesus, é uma grande coisa para nossos corações. É uma bênção para o enriquecimento das nossas vidas. Você se sente mais forte quando o Senhor acrescenta um pouco mais de luz à luz que você já tinha antes. Visão, iluminação e compreensão espirituais são coisas muito reais. É um dom abençoado de Deus no Senhor Jesus, que vem por meio desse Seu toque vital sobre as faculdades interiores.
A Lei da Iluminação Espiritual
Agora devo apressar-me para tocar no assunto da lei da iluminação e compreensão espirituais. Há coisas profundas aqui, que podem não nos trazer muito proveito nesse momento. Coisas como esse barro que o Senhor fez, com o qual Ele ungiu os olhos desse homem. Parece-me haver uma sugestão aqui, mantendo o significado do corpo de Cristo. O Pai preparou-Lhe um corpo no qual Ele realiza Sua obra, e toda a obra do Calvário de Cristo foi feita a partir de um corpo físico. O nosso tomar, pela fé, no Espírito, do corpo de Cristo simbolizado pelo pão, deve ser para nós uma ministração espiritual daquilo que esse corpo representa como um triunfo da humanidade; trazendo-nos à comunhão com a Sua humanidade triunfante, estabelecendo um elo entre nós, no espírito, e a Sua humanidade vivida em vitória. A apreensão da humanidade absolutamente triunfante do Senhor Jesus pela fé é algo para nossos corações. Esse barro parece carregar esse mesmo significado; que é o toque, por assim dizer, da humanidade do Senhor Jesus sobre nós. É um elo vital entre Ele e o que Ele é como a Oferta de Manjares, a flor de farinha que dá virtude ao nosso homem espiritual.
Você se lembrará da Oferta de Manjares de Levítico, representando a perfeita humanidade do Senhor Jesus. Ela tinha que ser apresentada a Deus como uma oferta. Ela representa a apreensão espiritual das perfeições humanas do Senhor Jesus em Seu corpo enquanto esteve aqui na terra, formando um elo com Deus, resultando em valores espirituais para o ofertante. Você consegue entender isso? Bem, agora, há algo no toque espiritual da humanidade perfeita de Cristo em verdade e em espírito sobre nossas vidas; um contato vivo com Ele em relação àquilo que Ele é como o Homem triunfante sobre a morte. Eu disse que havia questões mais profundas que precisavam ser mais exploradas, e elas talvez sejam ampliadas à medida que nossa compreensão espiritual crescer. Vejo algo muito precioso nisso. Sou levado de volta à pergunta inicial: Por que comer a carne e beber o Sangue do Filho do Homem? Por quê? "Isto é o meu corpo, oferecido por vós" [Lc 22:19] Por quê? Agora, esse não é aquele corpo que recebeu nossos pecados, quando Ele foi feito pecado por nós, levando nossos pecados em Seu corpo no madeiro. O corpo oferecido é o corpo que triunfou sobre o pecado através da morte. Ele nos dá esse corpo e diz: "Tome, coma"; "se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos" [Jo 6:53]. Por quê? Para nos trazer, em espírito, em nossa vida humana, para dentro da comunhão com Ele no triunfo de Sua humanidade, tornando possível viver uma vida humana triunfante aqui; fazendo de Sua humanidade triunfante um princípio vivo para nós em nossas vidas humanas. Não é esse o princípio? Assim, as virtudes da humanidade perfeita do Senhor Jesus tornam-se fatores vitais para nosso crescimento e desenvolvimento espirituais. Um toque disso em nossos corações carrega consigo o valor da vida e da luz. Se ultrapassei sua capacidade de compreensão, perdoe-me, mas pergunte ao Senhor se há alguma coisa nisso para você, Ele te mostrará.
O Cristo Vivo ou A Tradição Morta
Rapidamente, vamos considerar a lei do entendimento espiritual. O que este capítulo, ou o contexto geral, mostra ser a lei da iluminação e entendimento espirituais? Bem, leia toda a história novamente; o início na abertura dos olhos desse homem e tudo o que se segue, ou que deriva dali, e você verá o que governa todo este assunto. Cristo estava fazendo isso como um sinal, lembre-se disso, um sinal no meio da cegueira espiritual, da cegueira generalizada de Israel. Aquele homem recebeu sua visão. Isso foi um sinal relacionado com aquela situação. Qual foi a questão levantada para esse homem no incrível conflito que se seguiu? Oh, que batalha surgiu sobre esse homem! Por que? Até mesmo seus pais foram logo dragados para dentro dela. Com medo de serem coniventes, eles temeram por suas vidas e não disseram o que sabiam. Eles não seriam francos e honestos, porque temiam as consequências. Por fim, esse homem foi expulso da sinagoga, foi excomungado. Por quê? Era Cristo ou a tradição. Essa era a questão. A questão toda era se Cristo seria o Senhor ou se seria assenhorado e dominado pela tradição morta. Aqui, como vimos, estavam todos os oráculos de Deus. Aqui estava toda a forma de doutrina, a tradição dos anciãos, aquilo que já estava estabelecido, fixado. Tínhamos os governantes eclesiásticos que regiam com base nessa tradição, mantendo-a para si mesmos e dando sua própria interpretação; sem vida, sem luz e mas ainda assim sustentando a verdade. Então Cristo, por outro lado, tinha tudo isso, mas tinha algo que eles não tinham - a vida e a luz. Ouça-o: "Foi dito... eu, porém, vos digo". Em nenhuma instância o Senhor contradisse Moisés, mas trouxe uma interpretação de Moisés. Se você olhar para o contexto, verá que o que Cristo disse estava remetendo ao princípio interior e não apenas à fraseologia exterior. Moisés disse: "Não matarás... Eu, porém, vos digo que todo aquele que sem motivo se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento..." Não uma contradição, mas uma interpretação. Isso está os conduzindo ao princípio. O princípio do assassinato é a ira. Se você feriu o princípio é tão culpado da questão como se tivesse cometido o ato em si. O ato está lá em princípio. É a autoridade viva de Cristo que está em questão, e a lei da iluminação e entendimento espirituais é o senhorio absoluto de Jesus Cristo sobre a mera tradição, que pode ser hereditariedade religiosa, treinamento, educação. Se estas duas coisas se chocam, e se nossas tradições, nossas aceitações, nossos sistemas religiosos não estão em comunhão com Cristo como vida e luz, ou se, por algum momento, se estabelecerem no caminho de uma caminhada viva com Deus; e se continuar com o Senhor Jesus significa que essas coisas devem ser deixadas para trás, bem, nosso entendimento e iluminação espirituais dependem disso.
Muitas pessoas não entram na revelação mais completa e não chegam a um rico conhecimento interior do Senhor, porque se apegaram à velha vida de tradições, não rompendo com ela; porque permitiram que o homem dominasse sua consciência e entendimento, em vez de dirigirem-se diretamente ao Senhor. Não devemos mais nos perguntar o que diz o rabino, a tradição ou Moisés, mas o que o Senhor diz para meu próprio coração? Toda a questão neste capítulo era se o Senhor Jesus seria o Mestre para esse homem, ou se ele iria romper com o Senhor Jesus e voltar para os fariseus, para a velha escola novamente. A lei de sua iluminação estava ali. Você pode dizer que ele foi iluminado antes que esta questão surgisse. Sim, mas era o sinal. Veja que o Senhor estava fazendo algo mais. O final do versículo 34 - "E o expulsaram" - seria o capítulo 10, versículo 1: "Em verdade, em verdade vos digo: o que não entra pela porta no aprisco das ovelhas, mas sobe por outra parte, esse é ladrão e salteador. Aquele, porém, que entra pela porta, esse é o pastor das ovelhas. Para este o porteiro abre, as ovelhas ouvem a sua voz, ele chama pelo nome as suas próprias ovelhas e as conduz para fora". Como? Porque eles ouvem a Sua voz! Todo esse assunto das ovelhas do Senhor só vem à luz quando eles expulsaram esse homem. Aqueles a quem os homens expulsam, o Senhor recebe, fazendo deles Seu próprio rebanho com base no conhecer, ouvir e entender a Sua voz. Aquilo de que eles saíram não ouve, vê, ou entende, é o reino das trevas. Esse homem foi expulso, e a partir desse momento o Senhor o buscou e começou a guiá-lo, em princípio.
Agora precisaremos da aplicação da verdade pelo Senhor. Não comece a aplicá-la de maneira mecânica. Estou enfatizando o princípio, não como aplica-lo. O princípio é que existem dois senhorios. Há o senhorio da tradição sem vida, uma ordem religiosa e um sistema, que pode ter tido uma origem correta e adequada em Deus, mas agora foi assumido e dominado pelo homem, e é usado, interpretado e aplicado pelo homem, e é isso que domina. Por outro lado, há o Cristo vivo e pessoal para a vida individual, para Governar o coração em todas as questões da vida espiritual. Qual destes dois será o Senhor? Te digo que são duas coisas diferentes. Podemos muito bem agradecer a Deus quando essas duas coisas podem ser consideradas como uma só. Isto é, Cristo pode ser um Senhor vivo dentro de um arranjo ordenado aqui; mas se as coisas estiverem como nesse caso, Cristo como um Senhor e a tradição religiosa como outro, então haverá um problema, uma crise. Aplicando o princípio, vejo que muito de nosso conhecimento do Senhor depende de nossa disposição de continuar com Ele, quando tal curso significa, muitas vezes, uma ruptura ou uma saída de alguma antiga tradição religiosa escravizante. Enquanto permanecermos presos a isso, seremos mantidos em uma limitação de conhecimento espiritual. A lei da revelação e do crescimento na revelação é uma caminhada pessoal, próxima e espiritual com o Senhor.
O Custo da Visão Espiritual
Muitos não pagarão o preço que está envolvido nessa questão. Para esse homem, houve um preço. Seus pais estavam em perigo. Sua família não estava muito satisfeita pela forma como esse homem a havia envolvido na situação. Sem dúvida, eles ficaram contentes por ele ter recobrado sua visão, mas desejavam que não tivesse sido exatamente da forma que foi, nesse dia e nessa relação em particular. Ele poderia ter recebido a bênção de alguma outra maneira que não fosse envolvendo tantos problemas com as autoridades.
A bela simplicidade desse homem nos atinge em toda a história. Eles discutem com ele, e falam sobre o Senhor Jesus como não sendo verdadeiro, etc. Ele diz: Ora, estranho isso aqui, um homem abre os olhos do cego, algo nunca visto desde a criação do mundo, e vocês dizem que aquele que faz uma coisa dessa está errado, é mau, é ruim? O homem tem um lindo conhecimento do Senhor e não consegue entender esse ponto de vista. Quando você tem luz, não consegue entender o ponto de vista das pessoas que tomam essa atitude. Mas isso lhe custou muito.
Há poucas coisas que têm um preço tão alto quanto a revelação espiritual. A revelação espiritual começará imediatamente a cortar certos relacionamentos. Muitas pessoas não continuarão contigo quando você receber revelação espiritual; elas não podem, porque não receberam essa revelação. Muitas pessoas tomarão atitudes, pensando que você acha que tem mais luz que os outros, que considera possuir algo superior aos demais e que acha sabe mais que os outros. Talvez, as portas que estavam abertas para você sejam fechadas e você não terá mais a aceitação dos velhos tempos. Você fica debaixo de suspeita. Você enfrentará o ataque aberto dos poderes das trevas e da cegueira. Aquela revelação que você obteve pela apreensão de Cristo será desafiada de todas as maneiras. Será algo custoso, e às vezes você vai se sentir como esse homem, como se tivesse sido expulso e agora está sozinho. Tenha bom ânimo se alguma vez isso acontecer com você. É nesse ponto que o Senhor começou a procurar pelo homem. "Jesus... encontrando-o" [Jo 9:35]. Sim, expulso, mas depois conduzido para fora [Jo 10:3], e o fato de ser conduzido para fora é porque: "Minhas ovelhas ouvem a minha voz". Conduzido para fora e para dentro [Jo 10:9].
Mas a grande nota, é claro, a conclusão final é a seguinte: foi quando o homem chegou à plenitude do significado de Cristo que a crise surgiu para ele, acontecendo tudo o que se seguiu. Ele passou pelas sombras, chegou até um Homem, um Profeta e, finalmente, foi expulso. Então, o Senhor disse a ele: "Crês tu no Filho do Homem?" [Jo 9:35] "Quem é, Senhor, para que eu nele creia?" [Jo 9:36] "Já o tens visto, e é o que fala contigo" [Jo 9:37]. O homem rendeu-se absolutamente, e então descobriu o significado de estar fora. Ele estava no caminho de uma plenitude maravilhosa. O grande clímax da revelação é quando realmente temos a apreensão espiritual de Quem é Cristo. Não um grande, bom e maravilhoso Homem que faz milagres, nem mesmo o Grande Profeta, mas o Filho de Deus. Tudo depende disso. Esse é o fim que o Senhor tem em vista, que devemos conhecê-Lo na plenitude de Seu Ser. Nós chegaremos a isso através de Sua humanidade. Nós O conheceremos como Filho do Homem no toque do barro, mas quando chegarmos por esse caminho, saberemos que Ele é mais do que isso, Ele é o Filho de Deus.
Sinto que, devido à abrangência e riqueza de detalhes, posso não ter sido tão claro quanto gostaria ao trazer essa verdade diante de vocês. Não se preocupem com todos os detalhes, mas tenham em mente duas coisas: O fato da verdade da iluminação e entendimento espirituais como sendo a vontade do Senhor para todos os Seus; um conhecimento interior e pessoal relacionado ao Senhor Jesus - uma apreensão de Sua Pessoa. A outra coisa é a lei, de onde saímos para seguir o próprio Senhor. Não permitamos que nada se interponha entre nós e o Senhor no governo de nossa vida espiritual; mas prossiga com o Senhor, seja qual for o preço. Conhecê-Lo em plenitude exige uma caminhada pessoal com o próprio Senhor, onde Ele é o Senhor, domina em todas as coisas, por mais respeitável que possa ser a tradição. É o próprio Senhor que deve governar e dessa forma cresceremos em entendimento.