por T. Austin-Sparks
Reunião 1 – Sendo Cartas Vivas
23 de Fevereiro de 1957 em Tuo Yuan, Taiwan.
Bem, caros amigos, estamos muito felizes em vir e ter um pouco de comunhão com vocês. Pensamos que é muito maravilhoso vocês terem saído nesta manhã chuvosa para nos encontrar aqui, e desejo que o Senhor os agracie com um pouco da palavra dele mesmo, assim, vou passar a vocês algo que está em meu coração. Algo que vem da segunda carta de Paulo aos Coríntios, capítulo 3 e os seis primeiros versículos:
"Porventura começamos outra vez a louvar-nos a nós mesmos? Ou necessitamos, como alguns, de cartas de recomendação para vós, ou de recomendação de vós? Vós sois a nossa carta, escrita em nossos corações, conhecida e lida por todos os homens. Porque já é manifesto que vós sois a carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração.
E é por Cristo que temos tal confiança em Deus; não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus, o qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica. 2 Coríntios 3:1-6."
O apóstolo Paulo foi um dos maiores escritores de cartas da história. Duvido que algum escritor de epístolas tenha tido tão grande influência quanto ele teve. Ao longo de todos esses séculos, as pessoas têm lido as cartas Paulinas, e aqui estamos nós nesta manhã lendo-as novamente. Paulo foi um grande escritor de carta e ele sabia alguma coisa sobre escrever cartas; sabia como elas deviam ser. E devemos lembrar que todos os escritos de Paulo foram em forma de cartas. Paulo nunca se assentou para escrever um livro sobre algum assunto; ele somente escreveu cartas. Agora, deve haver alguma razão do porque de suas cartas serem tão frutíferas. Por que as cartas de Paulo se mostraram ser tão úteis para um tão grande número de pessoas? Apenas vou mencionar uma ou duas razões aqui esta manhã.
1. Preocupação Espiritual
Antes de tudo, as cartas de Paulo corporificavam uma grande preocupação espiritual pelas pessoas. Paulo carregava as pessoas em seu coração. Ele não estava interessado apenas em fornecer informação a elas; ele sentia que sua própria vida estava ligada a vida delas, e o bem-estar delas era uma questão do maior interesse do apostolo. E, quando ele dizia “Vós sois cartas vivas”, ele queria dizer isso também a nosso respeito.
O que ele queria dizer era o seguinte: que, se vamos ser valiosos como cartas vivas, então, o mesmo deve ocorrer conosco; o valor de nossas vidas deverá estar de acordo com a nossa real preocupação com as pessoas. Se vocês lerem as cartas de Paulo, verão como ele carregava as necessidades das pessoas em seu coração. Se aqueles irmãos estavam em dificuldade, Paulo se sentia como ele próprio estivesse em dificuldade. Se eles tinham problemas, ele assumia aqueles problemas como sendo seus. Ele vivia a experiência das pessoas para as quais ele escrevia.
Agora Paulo disse aqui, “Vós sois cartas vivas” e, se as nossas vidas devem ser valiosas, como eram as cartas de Paulo, precisamos começar a partir desta grande preocupação com as pessoas. Outros irmãos não são apenas outras pessoas; eles são pessoas com as quais precisamos ter uma grande preocupação; devemos sentir os problemas deles, tornando-os nossos problemas. E, se temos um problema, sempre tentamos encontrar uma solução para ele; procuramos por toda a parte uma solução para o nosso problema. É desta maneira que Paulo se sentia em relação aos problemas e dificuldades dos irmãos. Seu relacionamento com eles era a nível de coração, a ponto de ele dizer, “Vós sois cartas vivas; cartas de Cristo”. E, se nós, como cartas vivas, devemos ter algum valor, e, se temos que ajudar as pessoas como Paulo as ajudava, e também tem ajudado a nós, isso somente será possível se os nossos corações estiverem realmente preocupados com a vida espiritual dos nossos irmãos.
2. Suprindo uma Necessidade
Agora, há uma segunda coisa a respeito das cartas de Paulo: elas eram sempre escritas com o objetivo de tentar suprir alguma necessidade particular. Se vocês lerem todas as cartas de Paulo, verão que, em cada uma delas, ele estava tentando suprir uma necessidade particular. Numa igreja a necessidade era uma, e, noutra, era outra, e, assim, ele escrevia as suas cartas para suprir aquelas necessidades. Ele não apenas escrevia um montão de coisas de forma geral, mas estava lidando com algo especial, e podemos trasnportar isso para essas palavras sobre ser cartas vivas.
Nossas vidas devem ser devotadas a essas necessidades particulares. Qual é a necessidade desses irmãos em particular? Qual é a necessidade daquele filho de Deus? Devemos tentar suprir as necessidades deles. Vocês podem ver como o Senhor Jesus fez isso. O Senhor Jesus estava sempre tentando alcançar as pessoas em particular. Podemos nos lembrar de muitos indivíduos. Havia Nicodemos; havia a mulher de Samaria; havia o homem coxo de Betesda, e muitos outros. O Senhor Jesus não ficava simplesmente pregando para um montão de necessidades genéricas; o foco dele era a necessidade específica, e é isso que Paulo faz em suas cartas.
Devemos ter um interesse específico nas pessoas; na necessidade particular deste irmão ou daquela irmã. Bem, isso é o que Paulo fazia em suas cartas, e ele dizia “Vós sois cartas vivas”. Se a sua vida é para ter valor, então a sua vida deve ser desta maneira.
3. Uma Expressão do Homem
Então, uma coisa mais sobre as cartas de Paulo: Paulo não obtinha os assuntos que ele colocava em suas cartas de livros. Nós acabamos de vir da biblioteca da congregação de vocês, e há muitos livros bons lá. Espero que eles continuem sendo muito úteis, mas Paulo não precisava recorrer a livros, a fim de conseguir material para colocar em suas cartas. As cartas eram a expressão de sua própria vida. Ele próprio estava em suas cartas.
Você sempre conhece um homem por sua obra. Você irá conhecer o caráter do dono da livraria por meio daquilo que ele vende. Você irá conhecer o tipo da pessoa através da obra dela. Por meio da obra que ela faz, você consegue enxergar a própria pessoa. Se você foi a uma loja e a pessoa lhe vendeu algo, e quando você chega em casa e descobre que o produto não era bom, o que você irá dizer? Você não apenas irá dizer “Isto não é bom; aquele homem é uma pessoa má por ter me vendido isto”, você também irá dizer que aquele homem é responsável por aquilo que ele lhe deu; e é isso o que temos aqui. O próprio homem está nessas cartas.
Quando você lê essas cartas, você sabe que tipo de homem ele é. E é isso o que Paulo quer dizer com “Vós sois cartas vivas”. Não se trata apenas de você obter as coisas de um lugar e repassá-las às outras pessoas... não apenas os livros que você tem lido ou as mensagens que tem ouvido, mas de você dar-se a si próprio às pessoas; você é a carta. Não é apenas o que você dá, mas de você mesmo ser a mensagem. É por isso que as cartas de Paulo são tão valiosas. Naturalmente elas não estão apenas dando uma mensagem, mas sim a própria pessoa que as escreve.
Urgência e Integridade
Vou dizer apenas uma outra coisa, e, então, me assentarei. Essas cartas de Paulo são todas importantes. É como se elas tivessem acabado de serem escritas. Não são coisas que têm sido mantidas encobertas por um longo tempo; são a expressão de um sentimento de uma necessidade muito real naquele momento. Vocês entendem, elas ficaram corretas até o momento; tiveram que ser escritas para atender a situação; deve atender imediatamente. Havia uma urgência sobre esta questão. Não acho que Paulo escrevia uma carta e, então, colocava-a numa gaveta de sua mesa, e a deixava lá por uma semana ou um mês, e, após algum tempo, tirava-a de lá e dizia, “Bem, talvez eu envie esta carta”. Mas não, Paulo escrevia sua carta e, então, entregava-a ao mensageiro, e dizia, “Entregue isto para eles o mais rápido que você puder, isto é muito urgente". Havia sempre isto sobre as cartas de Paulo.
Agora, novamente ele dizia, “Vós sois cartas vivas”. Isto deve ser o Espírito em sua vida. Esta é uma mensagem urgente. Não devemos deixá-la para amanhã ou para a próxima semana; devemos estar neste negócio agora. Assim, é isto que torna as cartas de Paulo tão valiosas, e eu falei no início o que Paulo quer dizer em suas cartas, e essas são algumas coisas que devem ser verdadeiras a nosso respeito, na condição de cartas vivas de Cristo.
Eu estava falando para os amigos em Manila outro dia que, quando estive aqui em Taiwan no último ano, e vi os irmãos e irmãs aqui usando suas jaquetas pela primeira vez, fiquei muito impressionado e, então, alguém me ofereceu uma para que eu vestisse. Disse, “Não, sinto muito, não posso usar isto”. Eles olharam para mim e pensei que ficaram se perguntando se eu estava com vergonha de usá-la. Eles esperaram por uma explicação. Então disse algo do tipo: “Se eu colocar esta jaqueta, estarei dizendo algo que não é verdadeiro, porque eu não conheço o idioma. Eu não sei o que está escrito na jaqueta, assim, suponha que alguém chegasse e me perguntasse: “O que está escrito na sua jaqueta?” Teria que responder ‘eu não sei’. Agora, uma carta viva não pode ser dessa forma. Não nos é permitido dizer coisas que não compreendemos, ou assumir uma missão onde não haja experiência de vida real em nós. Devemos conhecer aquilo que estamos falando, e as pessoas sabem se nós conhecemos aquilo do qual falamos. E, suponha que alguém chegasse para mim, quando estivesse usando esta jaqueta, eu teria que correr, a fim de evitá-lo, porque eu não sei o que diz aquilo que estou usando.
Cartas vivas não são apenas pessoas que vestem algo; uma carta viva é alguém que conhece aquilo que está lá no interior. Que o Senhor possa nos tornar cartas vivas.
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