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Cristo o Poder de Deus

por T. Austin-Sparks

Capítulo 4 – Cristo Crucificado, a Sabedoria de Deus e o Poder de Deus


Leitura: João 4:20,21,23,24; Efésios 4:23,24; Hebreus 12:9.

Faça só a ligação destas passagens. “Deus é Espírito e é necessário que os que O adoram O adorem em espírito e em verdade”. “O novo homem, que segundo Deus foi criado em verdadeira justiça e santidade”. “O Pai de nossos espíritos”.

No nosso assunto anterior (Capítulo 3) estávamos habitando no grande sistema de falsificação que tem sido lançado neste universo por aquele que é chamado o Enganador, e estávamos vendo como que ele tem falsificado todo o sistema celestial, desde a Cabeça Trina até as ordens dos seres espirituais e todas as formas de obra espiritual, e que não há nem uma coisa que seja verdadeiro de Deus e esteja em relação a Deus que não tenha sido imitado pelo Enganador; de modo que existem dois grandes sistemas: está o sistema Divino e está a falsificação, o sistema satânico. Também temos visto que Deus criou o homem apropriado para Seu próprio sistema, que Ele fez o homem numa maneira a qual estava perfeitamente adaptada ao Seu próprio governo e método Divino; e o homem, feito de acordo à mente de Deus, era supremamente e essencialmente um ser espiritual tendo uma alma e um corpo, mas primeiramente espiritual, porque seu espírito era seu ego essencial pelo qual ele estava unido a Deus. O qual é um Espírito, e que portanto, a comunicação de Deus com o homem era pelo seu espírito: tudo Divinamente espiritual era apreendido pelo homem através do seu espírito.

O Enganador, a fim de capturar o homem e segurar o sucesso de seu sistema – a falsificação do sistema de Deus – deve necessariamente tornar o homem apropriado para seus fins; de modo que no jardim houve, por assim dizer, uma interferência com o homem que, por causa da sanção do homem, resultou no homem tornando-se outro ser daquele que Deus tinha criado; um homem da alma com o espírito separado de Deus, e para com Deus, em morte; a alma em ascendência, e o homem um homem de alma em vez de espírito. Tudo no homem caído está no nível da vida da alma e opera ao longo da linha da alma em vez do espírito. Todo este mundo é constituído e organizado e funciona num nível de alma, “e o mundo inteiro jaz no maligno”.

O que temos ido procurando ver principalmente são duas coisas. Uma, que todos os enganos, desilusões, erros, têm seu assento e terreno de sucesso na própria natureza do homem, no que ele é adaptado à obra do Enganador. A alma é o assento e o terreno de toda decepção. E a outra coisa, que na Sua obra na Cruz, o Senhor Jesus levou toda a raça sob o juízo de Deus, para a morte, quando Ele derramou Sua alma até a morte; essa raça foi concluída, e ao fazer isso Ele cortou o terreno de debaixo dos pés do Enganador para qualquer nova obra de engano para aqueles que pela fé tomam suas posições em todo o significado do Calvário, daí a questão é a tremenda importância de nossa correta apreensão e obediência à verdade de que quando Cristo morreu – nós morremos, e do momento de tomarmos essa posição em Cristo crucificado sabemos que não poderemos, não ousaremos, não podemos viver após a carne, ou andar segundo a carne, ou viver meramente no nível da vida da alma, mas que doravante é após o espírito no poder do Espírito Santo. Onde você achará maior sabedoria do que esta? O universo está cheio de uma só pergunta: como você pode destruir o poder de todo este sistema de falsificação e o Enganador por trás dele? Ache a sabedoria que supere isso, ache a sabedoria que desfaça isso, veja toda a astúcia, toda a perspicácia, toda a esperteza, toda a sutileza diabólica deste sistema de engano, de falsificação, de erro, deste que é conhecido como o Enganador, quem tem enganado toda a raça e todas as nações, e onde você achará uma sabedoria que enfrente isso e com sucesso triunfe sobre isso e quebre seu poder, e livre o universo finalmente disso? A resposta é “Cristo crucificado, a sabedoria de Deus”. E em qual maneria essa suprema, transcendente sabedoria opera pela Cruz do Senhor Jesus? Nesta maneira, que em Cristo crucificado toda a raça em sua natureza caída é levada a cabo na morte e o terreno do Enganador é removido. Aí está a sabedoria de Deus manifesta em Cristo crucificado. Ó, que sejamos capazes de compreender isso mais plenamente, a maravilha da Cruz, a incomparável maravilha da Cruz. Podemos usar palavras tais como a “ingenuidade” transcendente de Deus na Cruz; alguém quase diria, a inteligência de Deus. É a palavra errada a usar para com Deus, mas aí está a sabedoria de Deus exibida.

O Alicerce da Verdade para o Povo de Deus

Ora, para dias de crescente engano, mesmo dentre o povo de Deus, o alicerce da verdade é a verdade de nossa união na morte, sepultura, e ressurreição com Cristo. Vamos passar a ver por um minuto o lado da ressurreição disto. Temos visto o grande poder e a grande sabedoria de Deus no lado da morte ao colocar de lado a raça, o homem, a natureza que é em essência habitação de Satanás. Isso não quer dizer que as pessoas são diabos encarnados. Não é disso que estou falando. Existe uma diferença entre isso e haver algo de Satanás lá na própria natureza da raça. Temos destacado uma coisa anteriormente, que existe tal coisa como o engano na própria natureza desta raça caída. A palavra de Deus diz “enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso, quem o poderá conhecer?” E os crentes que andam mais perto de Deus, sabem melhor quão desesperadamente perverso é o coração natural. Quanto mais ficamos perto de Deus mais detestamos a nós mesmos.

Ora, não havia engano no homem não caído. Isso não é de Deus. Não há engano na natureza Divina e não há engano no homem que é feito conforme Deus. Uma dessas características superlativas da Nova Jerusalém, que afinal de contas é apenas a designação da Igreja, é sua transparência, se diz ser clara como o cristal. Isso significa que tudo membranoso, enganoso, sutil, fingido, astuto, astucioso, terá sido absolutamente extirpado e purgado do povo de Deus, e eles serão absolutamente transparentes, claros como o cristal; não haverá nada escuro, sinistro, falso, insincero, sobre eles. É a raiz de Satanás, e isso está no homem natural, uma natureza que é em essência habitação de Satanás, e Deus não vai arrancar isso de nós, Ele vai nos tirar, e ter uma nova criação. É de tremenda importância que vejamos o significado da união na morte com Cristo; não apenas o que chamamos nossos pecados, mas nós mesmos. Mas no lado da ressurreição, a sabedoria e o poder de Deus são maravilhosamente exibidos. O que aconteceu outra vez no princípio, quando Satanás interferiu e o homem consentiu? O espírito pelo qual o homem estava unido ao Senhor num espírito caiu desse funcionamento de união, e para com Deus ficou morto. Esse foi o triunfo de Satanás. Agora, sobre esse fato todo o sistema de governo satânico acampou e foi construído – separação de Deus em espírito. Quando O Senhor Jesus ressuscitou dentre os mortos, Ele ressuscitou, amado, na mesma capacidade representativa para uma nova ordem, uma nova criação, como na Sua capacidade representativa para a velha ordem. Isto é, no lado da morte Ele representou pela aceitação voluntária de nosso pecado e levando sobre Si esta criação pecaminosa na Sua Cruz, Ele aceitou representativamente a posição da raça caída e saiu levando-a na Sua pessoa inclusiva para a morte. Na ressurreição Ele é o Primogênito dentre muitos irmãos, e em ressurreição Ele é representativamente a nova ordem de Deus. Você vê o que aconteceu? Na Cruz do Senhor Jesus, no momento dado, Cristo representando a velha ordem separada de Deus, Ele entrou nesse lugar, essa posição, esse estado de ser cortado de Deus, abandonado de Deus. Isso é por causa do que Ele está fazendo. Ele está assumindo o lugar de uma raça separada de Deus; Ele entrou nas profundezas, as terríveis profundezas do estado do homem separado de Deus. No poder da ressurreição, toda a força satânica, toda a sabedoria satânica foi quebrada no trazer de volta Cristo dentre os mortos, trazendo de volta alguém representando uma raça de um lugar de separação de Deus, e essa nova comunhão com Deus levou consigo, e implicou, o fato de que toda a obra de Satanás foi destruída. Isso é algo tremendo.

O poder de Deus, “e qual a suprema grandeza do Seu poder para conosco, os que cremos, segundo a operação da força do Seu poder…” Ele trouce Ele de volta na mais íntima comunhão e união; mas Ele tinha sido separado de Deus. Pode ter sido apenas em questão de um momento, mas se você soubesse algo sobre separação de Deus, real separação de Deus, embora seja por um momento, seria como uma vida inteira, amado, para alguém que teria conhecido comunhão com Deus ter, por um instante, uma separação de Deus – teria deixado você tão velho que seu cabelo ficaria branco; e o Senhor Jesus provou isso. Ele enfrentou isto. Ele como homem, foi para o lugar dessa separação de espírito de Deus, por um momento Ele perdeu Deus, porém, quando Deus trouce Ele de volta dentre os mortos na comunhão direta na Sua presença, significou que tudo que foi responsável pela perda da comunhão com Deus foi destruído. Agora união na ressurreição com Cristo, em Cristo, é exatamente isso “a suprema grandeza do Seu poder para conosco, os que cremos, segundo a operação da força do Seu poder, que operou em Cristo, ressuscitando-O dentre os mortos” - “para conosco, os que cremos”.

O Que Está Por Trás de nossa União com Cristo

Agora, muitos cristãos fazem a pergunta, e podem bem fazê-la, “O que isso significa?” “Não sei se estou consciente disso ser verdadeiro no meu caso. É isso algo futuro quando iremos ser ressuscitados dentre os mortos na ressurreição? Irá essa Escritura então a ser cumprida?” “A suprema grandeza do Seu poder para conosco, segundo a operação da força do Seu poder… ressuscitando-O dentre os mortos”, “é aí quando será?” Não, você pode não ter tido a consciência da suprema grandeza do Seu poder em proporção a essa operação da força do Seu poder, que operou em Cristo, ressuscitando-O dentre os mortos, mas eu lhe faço esta pergunta, “Você conhece algo de comunhão espiritual com Deus? Você sabe o que é união com o Senhor?” Se você sabe, amado, isso tem suscitado o exercício da suprema grandeza do poder de Deus. Você nunca entrou em união com Deus só no terreno do poder inteiro de Satanás sendo quebrado, e todo o resultado da obra de Satanás sendo colocada de lado. Nossa comunhão com Deus é uma coisa enorme. A vida espiritual, amado, não é uma coisa pequena. União na ressurreição com o Senhor Jesus, andar em novidade de vida, significa que Deus em Cristo pela Cruz tem feito uma coisa enorme. Ó, por uma correta estimativa da obra do Calvário. Ó, que venhamos com os nossos olhos abertos como estavam os do Apóstolo, para que nossa principal glória e nossa única determinação seja conhecer nada senão a Jesus Cristo, e Este crucificado”, e a “Cruz de nosso Senhor Jesus, pela qual o mundo está crucificado para nós, e nós para o mundo”. É por isso que Paulo se gloriava na Cruz. É por isso que Paulo determinou não saber nada senão a Jesus Cristo e Este crucificado, porque ele viu a coisa memorável que o Calvário representava no lado da morte e no lado da ressurreição. Agora, o Senhor nos teria espiritualmente nessa posição. O poder de Satanás está destruído logo que um crente fica no terreno de ressurreição, e se mantém lá, e se recusa a descer ao nível mais baixo da vida da alma, a vida do ego.

A batalha da vida do crente daí em diante, não é para atingir alguma posição espiritual, mas para manter uma posição espiritual que tem sido dada em Cristo: “Ele nos fez sentar nas regiões celestiais em Cristo”; não algo pelo qual lutar, mas o objetivo inteiro do inimigo é derrubar o crente desse lugar num nível mais baixo, e é por isso que o Apóstolo diz “nossa luta é nos celestiais” e que temos que “resistir firmemente, e, havendo feito tudo, permanecer firmes”. Isto é, em outras palavras – mantenha sua posição, a posição que é sua pela união na ressurreição com Cristo. Então, o inimigo está aí com uma tração, ou um pressurizador, ou um estratagema sutil, laço, armadilha, por qualquer um dos seus muitos métodos para tirar o crente da posição. Mas a Cruz representa para nós uma vida espiritual nos celestiais, onde o poder de Satanás é quebrado. Agora, isto é novamente em grande medida geral, e queremos sair, antes de encerrarmos, do geral para o mais específico; isto é, pôr toda esta verdade, esta grande verdade, em contato com assuntos práticos. Não que o que temos dito não seja prático, mas me refiro às coisas com as que estamos mais intimamente associados em nossas vidas; a verdade deve ser aplicada aí.

O Fundamento e Natureza da Comunhão com Deus

Por onde começa tudo em relação a Deus, e assim, em relação ao inimigo em sua falsificação? Começa na esfera de adoração. O princípio de tudo é adoração, em relação a Deus. Isto é, Deus tendo o lugar central e supremo de reconhecimento, ratificação, de governo: na nossa completa obediência, rendição, em cada parte e fase de nosso ser, Deus tendo direito supremo; adoração começa aí. É um relacionamento, não só um exercício. Não é algo que fazemos de maneiras e métodos específicos. É uma atitude da vida, um lugar que Deus tem na consciência inteira, isso é adoração.

Agora, se Satanás é para falsificar e tomar o lugar de Deus, adoração é seu objetivo. Com o primeiro Adão esse foi seu objetivo; afastar o homem de dar a Deus o lugar supremo, para que ele tome o lugar de Deus, ele suplantou Deus na reverência e o reconhecimento e a obediência do homem, e capturou adoração e se tornou “o deus deste século”. Quando o último Adão, o Segundo Homem, veio e entrou oficialmente, publicamente, na grande obra que Ele tinha vindo a fazer, a única coisa que o adversário procurou capturar foi Sua adoração. “tudo isto te darei se prostrado me adorares”. Ele revelou a si mesmo; ele mostrou sua mão; se ele pudesse fazer o mesmo com o último Adão como ele fez com o primeiro, ele teria derrotado o objetivo de uma nova raça.

Agora, é exatamente aqui que temos que ter luz. Temos lido João 4 do versículo vinte. A mulher está dizendo “Nossos pais adoraram nesta montanha, e vós dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar”. Jesus disse a ela, “Mulher, crê-me, a hora vem e já chegou, em que nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade”. Em espírito – uma 'e' pequena, não uma 'E' maiúscula. Ó, o que é isto? Isto representa um novo regime, uma nova ordem. Esta é a crise da Cruz na esfera de adoração, o básico. Mas o que aconteceu? Jerusalém era definitivamente, divinamente, ordenada como a sede de honra e adoração. Os samaritanos imitavam com templo e monte o sistema que estava em Jerusalém, adoravam o mesmo Deus; mas Deus trouce ao mundo esse sistema de adoração em Jerusalém, Ele projetou isso. Era um templo, um prédio, uma peça de arquitetura eclesiástica rebuscada com sacerdotes, com vestes e paramentos, incenso queimado, oferta de sacrifícios, fazendo orações, lendo as Escrituras, e muitas outras coisas; sim, Deus tinha trazido isso, e agora o Senhor Jesus estava pondo a coisa inteira de lado, e ao fazer assim, implicando tão claramente quanto qualquer coisa poderia ser implicada, que isto não é verdadeira adoração. É uma comparação que é quase ultrajante. “Nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai, mas os verdadeiros adoradores adorarão em espírito e em verdade”. “Deus é um espírito”.

Onde a Cristandade está perdida

O que aconteceu, então, se esta não é a verdade, qual é a verdade? É aí onde a Cristandade se perdeu. É a divisão entre alma e espírito. Nada mais do que um tipo, uma ilustração, um conjunto de símbolos. Deus nunca intencionou que isso fosse a coisa final, nunca intencionou que o homem fizesse disso uma coisa em si mesma, nunca intencionou que essa coisa continuasse indefinidamente. Foi introduzido para ilustrar e representar algo mais, e seu tempo de duração era até que o Senhor Jesus viesse; tudo apontava para Ele, levava até Ele, falava Dele e Sua Cruz na qual aquilo que era meramente da alma passaria, e aquilo que era do espírito entraria. Qual é a vida espiritual no assunto da adoração? Ó, não é arquitetura eclesiástica, não são paramentos, não são ordenanças, não são ritos. Eles passaram com o Calvário. Veja onde estamos hoje. O mantenimento desse tipo de coisa, amado, é por causa de uma falha em perceber o que o Senhor Jesus tem introduzido.

O que, então, é adoração espiritual? É ficar por trás de tudo isso e ver o significado espiritual. Esses sacrifícios eram trazidos e sacrificados sendo examinados e virados o mais cuidadosamente, se porventura houvesse um defeito, mancha, mácula, uma inconsistência, um elemento duplo, duas cores, dois tipos; e se alguma dessas marcas fossem achadas a coisa inteira era rejeitada, mas quando após a pesquisa e investigação nenhum defeito ou mancha pudesse ser achada, e o representante de Deus com os olhos aguçados de um especialista pudesse pronunciar sobre eles a palavra familiar “Tetelestai” - “é perfeito”, então eram oferecidos a Deus. E a verdade personificada no tipo era esta, que a única comunhão com Deus é na base das perfeições espirituais do Senhor Jesus, e adoração não é mais trazer sacrifícios de animais, mas trazer do coração uma apreciação da perfeição de Cristo. Isso é adoração. Os paramentos antigos eram somente tipos e figuras e ilustrações; o vestuário sacerdotal estava falando todo o tempo em tipo de uma justiça e beleza e glória que é a natureza do Homem-Deus, o Senhor Jesus, e que é dada, imputada e transmitida àquele que pela fé apreende Cristo; e que nós que estamos em Cristo, aos olhos de Deus, estamos vestindo vestes de beleza e glória e santidade. Por que, então, perpetuar um sistema. O Senhor Jesus descartou tudo isso na Sua Cruz, tudo se foi. Isso é o que Ele quer dizer ao adorar em espírito e em verdade. O templo outra vez, ou o tabernáculo; estes eram apenas tipos, falando dessa comunhão espiritual dos santos unidos a um Cabeça Exaltado, um Corpo, um Templo de Deus. As tábuas do tabernáculo alinhadas pelas faixas falam só dos santos com a justiça imputada e santidade e glória de Deus sobre eles, ligados juntamente num Espírito, um Corpo, com as “juntas e ligaduras”. O encaixe das pedras do templo lavradas na pedreira, de maneira que nem martelo, nem machado, nem qualquer outro instrumento de ferro se ouviu, só fala prenunciando as pedras vivas, edificados como casa espiritual, e que Deus agora habita, não templos feitos com mãos mas num corpo espiritual, os membros de Cristo unidos a Ele.

Por que, então, perpetuar algo que Deus dispensou na Cruz, e ficar com o inferior, falhar em alcançar o superior, o fato de que “nós que somos muitos somos um corpo”? Você vê onde as coisas estão perdidas hoje? Sei quão vasto isto é mas tudo isto tem a ver com adoração.

Agora perceba que quando há uma falha em reconhecer, conhecer o significado espiritual de tudo isto e entrar nisso, e se mantém o velho, você está ainda num nível de alma e você está aberto ao engano, e a coisa toda pode ser um horrível engano. E como o engano opera? (Sei que você tem que ser muito paciente comigo e está provavelmente sofrendo bastante, alguns de você, mas devo ser fiel). Como esse engano opera? Desta maneira, que muitos dos bons cristãos estão absolutamente em escravidão a um sistema tradicional que está cortando transversalmente a revelação Divina para eles. São seus sistemas tradicionais que estão simplesmente barrando o caminho para a revelação espiritual, e a Cruz do Senhor Jesus representa a liberdade no espírito para Deus levar à plenitude de Sua vida e luz. Esse é o propósito inteiro da carta aos Hebreus. Era para esse mesmo propósito; que aqui estava um povo que tinha recebido luz a respeito da verdadeira natureza da comunhão com Deus em Cristo, e que o Senhor Jesus tinha tomado o lugar do templo e o sacerdócio e os sacrifícios e as ordenanças, e mesmo do Sábado, e o Sábado não era mais meramente um ponto no tempo mas relacionado à Pessoa; Deus tinha alcançado Seu descanso em Cristo. Todas as obras de Deus foram terminadas em Cristo. Deus entrou no Seu descanso quando Cristo aperfeiçoou a obra de Deus na redenção na Cruz.

Agora isso não é mais um assunto de formas, cerimônias, ritos externos, prédios, sacerdotes, sacrifícios; é tudo Cristo. Eles viram isso; Ele chamou eles para saírem do religioso, formal, histórico, arraial tradicional, e isso trouce perseguição, ostracismo, isolação, solidão e todo tipo de coisas. O povo oficial religioso tornou as coisas muito difíceis para eles por causa disso. O preço a ser pago pelo que é verdadeiramente espiritual e celestial era, e é grande, e eles estavam perigosamente em risco de voltar à coisa velha, e a carta aos Hebreus foi justamente escrito para poupar eles desse perigo, e para mais plenamente lhes dizer acerca da grande mudança que tinha acontecido na Cruz, a obra do Senhor Jesus, que um sistema tinha passado, a representação terrena, e o outro, a realidade celestial tinha entrado, e você sabe como essa carta fala sobre o “modelo das coisas nos celestiais” e “as coisas celestiais em si” - e a carta chega à grande conclusão em “Mas tendes chegado à Jerusalém celestial, ao sangue da aspersão, a Jesus o Mediador de um novo pacto”, temos chegado a isso Nele.

Agora você vê o Cristianismo histórico como tal, Cristianismo tradicional como tal, pode ainda nos manter num nível de alma de adoração onde devemos ter um certo tipo de prédio com certos tipos de janelas, com um certo tipo de música, uns certos tipos de orações, certos tipos de pessoas e certos tipos de vestidos, e tudo isto para “ajudar” nossa adoração: tudo isto para fazer real nossa comunhão com Deus, é viver no terreno anterior ao Calvário e pode ser tudo alma, e pode estar obstruindo o caminho para a plena vida espiritual interior com Deus.

Para Conhecer o Senhor em Vida Devemos Ficar Livres das Mortalhas dos Sistemas Externos

Amado, é tão verdadeiro como qualquer coisa que tenho dito, que se você quer conhecer o Senhor vividamente em maior plenitude, você tem que ficar livre de todo controle externo da religião, você tem que ficar livre e aberto para o Senhor, você tem que ficar livre no espírito. Formalismo tem que sair e realidade e vida têm que entrar. Deve haver uma vida pessoal em Deus, e isso não é dependente de um lugar ou qualquer coisa fora de nós e à nossa volta; que é inteiramente dependente de nossa comunhão espiritual com Ele. Pode ser tão real, tão abençoador numa prisão sombria de Bedford (onde John Bunyan escreveu 'O Peregrino') infetada de ratos, como pode ser na catedral ornada mais deslumbrante. Ó, sim, uma das mais maravilhosas comunhões com Deus tem sido nos lugares mais improváveis. Você não precisa de ‘ajudas’ desse tipo quando você conhecê Deus. Sua vida está com Deus.

Agora lembre, essa carta aos Hebreus foi escrita antecipando algo. O Apóstolo sabia que em pouco tempo todo esse sistema judaico ficaria em ruínas. O Senhor Jesus o tinha profetizado, que não sobraria pedra sobre pedra. Seria disperso a todos os ventos. Não haveria templo, nenhum altar, nenhum sacrifício, nenhum festival, nenhum sacerdote; tudo cessaria e seria esmagado no cumprimento da predição Divina. O que aconteceria com este povo se a comunhão deles com Deus estivesse ligada a isso? Se iria. Se iria com o sistema, e Ele iria querer salvar eles dessa coisa que, estando ligada à terra, se iria, e introduziria eles em algo novo que pertence à salvação. Comunhão com Deus deve ser desse tipo, quer possamos ir para as reuniões ou não, nós ainda temos o Senhor; quer tenhamos boa música de alma ou não, temos ainda o Senhor. Nós não estamos nessa esfera. “Mulher, crê-Me, a hora vem em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis ao Pai”.

Tijolos e cimento não podem se comunicar com espírito. A alma do homem pode se comunicar com Deus somente através do veículo do seu espírito em união com Deus. Isso é o que o Calvário fez. É claro, você pode entender agora por que a mensagem da Cruz é inaceitável, e se você vai proclamá-la e representá-la, você ficará fora do arraial por causa deste forte apego a uma herança tradicional histórica, e também, a coisa terrível é esta, que Satanás tem tomado posse da representação Divina ou sistema típico para apropriar-se dele, quando Deus tem abolido isso, e aquilo que Deus introduziu para um propósito temporal ele o capturou para si mesmo para obscurecer a real natureza da comunhão com Deus.

Ora, ninguém pensará que estou dizendo que não há pessoas espirituais nesse sistema de coisas. Não estou dizendo isso, mas estou dizendo que se isso representa para eles a vida espiritual deles, e se eles devem ter isso, e se essa é a esfera na qual eles vivem, que eles não veem além disso e não estão livres disso como uma coisa em si mesma, então eles têm perdido o significado do Calvário, e eles acabam por perder todo o significado de Cristo crucificado, a sabedoria e poder de Deus. Lutar com principados e potestades, demanda mais do que um sistema de coisas externas.

Você observa que estamos diante de um assunto terrível, estamos diante de uma posição espiritual que é colossal e somente uma posição espiritual é adequada para isso, nada menos. Confio em que você tenha recebido luz suficiente para ver que o que tem sido dito é justificado. Não queremos estar numa posição menor do que a primeira melhor do Senhor para nós. Tenho certeza de que estamos preparados para pagar o maior preço para estar no primeiro lugar de Deus para nós, pela Sua graça. Que ele possa nos permitir estar dispostos a avançarmos com Ele, “deixando as coisas que para trás ficam e prosseguirmos”, ou para virmos aos Hebreus novamente, “prossigamos até a perfeição”. Os brinquedos, os livros de figuras, ilustrações, os símbolos, os tipos são para crianças que têm pouca inteligência; essas coisas são tiradas num determinado tempo quando Deus for – não a ter crianças – mas ter filhos, e existe toda a diferença entre os dois. E assim o Calvário dispensa o jardim de infância das coisas externas em relação a Deus, e introduz a plenitude da ordem celestial para fazer de nós filhos de Deus amadurecidos. Que assim sejamos.

Em consonância com o desejo de T. Austin-Sparks de que aquilo que foi recebido de graça seja dado de graça, seus escritos não possuem copirraite. Portanto, você está livre para usá-los como desejar. Contudo, nós solicitamos que, se você desejar compartilhar escritos deste site com outros, por favor ofereça-os livremente - livres de mudanças, livres de custos e livres de direitos autorais.