por T. Austin-Sparks
Em duas ocasiões, quando Israel estava contemplando e entrando na Terra da Promessa, espias foram enviados na frente. O primeiro foi desastroso porque foi a decisão do povo governado por interesse próprio, e, embora a concordância de Moisés concordasse e a aquiescência do Senhor, a verdadeira motivação foi finalmente descoberta. Após uma longa e profunda disciplina, o princípio do “deleite do Senhor” estava presente e a fé triunfou. Os espias podem ir com a aprovação e a benção quando a motivação é aquela da glória do Senhor, não a do homem. Acreditamos que o salto de primeira coríntios 10 para efésios, filipenses e colossenses, tenha correspondência com aquela mudança do primeiro espia para o segundo. Que, ao contemplarmos a gloriosa terra, possamos responder do mesmo modo que o segundo espia!
Das considerações preliminaries, aqui estão algumas:
(1) O próprio Paulo estava – enquanto escrevia – ciente de que aquilo que tinha sido mostrado pelo Senhor estava muito além de sua capacidade de expressão. A própria frase “riquezas insondáveis” implica isto. Ela poderia ser mais corretamente traduzida como “indetectável”, ou “inexplorável”. Irrastreável, inexplorável, insondável. O próprio Paulo sabia estar imbuído numa tarefa impossível. Ele pediu aos crentes da Ásia para orar por ele, “para que, no abrir de sua boca, fosse lhe dada a palavra com confiança, a fim de tornar conhecido o mistério...” (Efé. 6:19). Ele se esforçava para falar de algo inexplicável, para penetrar em algo impenetrável, para compreender o incompreensível. O paradoxo de pregar o que não podia ser pregado caracteriza essas últimas cartas. Se esta era a realidade de Paulo, o que poderemos nós fazer, além de olharmos à distância!
(2) O que Paulo se propôs ou não a fazer. Paulo — nestes últimos escritos — não se propôs a escrever um tratado sobre este ou aquele assunto, tema ou doutrina. Há toda a diferença em relação a isto entre “Efésios” e “Gálatas” ou Romanos”. Nenhum tratado particular sobre a fé levou o apóstolo – como naquelas cartas — a escrever esta, a maior de todas, embora isto possa ter sido parcialmente verdade em relação a “Colossenses”. Em Efésios Paulo não está “raciocinando”, arguindo, debatendo. Ele não está estabelecendo sua “Filosofia sobre o Cristianismo”. Ele possuía um vasto e rico conhecimento sobre as idéias religiosas e filosóficas do mundo em que tinha vivido. Mas ele não está interessado em tratar disso, nem em comparar as outras religiões com o Cristianismo. O que Paulo realmente fez nesta carta endereçada a Ásia, e através da Ásia, a todos tocados pela Ásia (e inconscientemente a nós) foi fazer uma poderosa proclamação. Aqui nós temos um homem fazendo uma proclamação. Ele está simplesmente entregando uma “proclamação”. É como uma transmissão imperativa para a qual o microfone é muito pequeno e inadequado. Isto não é algo que ele tinha pensado, que era fruto do seu grande cérebro. Ele atribuiu tudo à uma “revelação” dada a ele por iniciativa de Deus. Isto que o apóstolo está escrevendo é uma apresentação vital e, num certo sentido, consumada, do longo processo da auto-revelação de Deus, que encarna a plena e final revelação de Deus e de seu eterno propósito. É por causa disto que Paulo se põe de joelhos e faz uma oração especial por seus leitores. (1:15–17). É por causa de uma lei e de um princípio fixo e inalterado que ele enunciou tão clara e enfaticamente em outra parte (1 Cor. 2:14–16) que as coisas espirituais, as coisas do Espírito, somente podem ser entendidas por pessoas espirituais. Precisamos falar sobre isto mais tarde, mas tudo o que está adiante de nós nesta carta será pouco, ou não passará de mistérios escritos, se não fizermos a mesma oração sobre esta mesma necessidade, antes de avançarmos adiante.
(3) As últimas cartas, sendo tão inclusivas em substância, naturalmente reúnem em alusão, se não em reafirmação, muitas das questões abordadas incidentemente nas cartas anteriores. Assim, em alusão, temos pontos vitais em Romanos, coríntios, Gálatas, etc. Seria necessário muito tempo e espaço para rastrearmos e pontuarmos os casos. Algumas grandes palavras serão indicativas, tais como “redenção”, “espiritual”, “filhos”, “graça”, “adoção”, “preordenados”, etc.
(4) Nosso método será diferente do usualmente empregado ao estudar estas (e outras) cartas. A fim de que os estudantes da bíblia possam obter uma rápida, fácil e simples compreensão dos livros, as Cartas são usualmente reduzidas pelos estudiosos da Bíblia a esboços conforme o conteúdo e principais temas mencionados. Este é um método muito útil e valioso. Assim, temos tais importantes esboços e análises (de Efésios) como A Igreja do Dr. Campbell Morgan’s — 1. O Chamado Celestial 2. A Conduta Terrena, cada uma dessas duas seções sendo divididas em mais três. Ou temos a Riqueza da Senhorita Ruth Paxon, Caminhada e Luta do Cristão; ou aquele pequeno livro de Watchman Nee, Sente-se, Caminhe, Fique Firme. Nós não temos a pretensão de que podemos melhorar tudo, pois este não é o método que empregamos, e desde já falamos isto. A partir do que segue, não será dada a você uma “visão de pássaro”, como usualmente chamamos a visão genérica das coisas; mas sim uma visão de águia, que enxerga vastas extensões a partir de grandes alturas. Neste sentido, “Efésios” assume de fato o aspecto de águia do querubim – mistério e celestialidade. Nosso método será – por assim dizer – pairar sobre as crescentes eminências a partir deste cenário, ou, para manter o nosso título, ficar em pé e olhar com admiração as “riquezas insondáveis de Cristo” que são apresentadas nesses escritos finais, especialmente em “efésios”.
Isto, então, é o que queremos dizer com “Espiar a Terra”. No máximo podemos apenas ter um vislumbre das grandezas que estão incorporadas nesta carta. Porém, se pudéssemos enxergá-las, livres de todos os preconceitos, tendências e influências naturais, voltaríamos com a mesma admiração e confiança que tiveram os espias da segunda investigação.
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