por T. Austin-Sparks
Capitulo 1 - Espiritualidade, a Chave para Tudo o Que é de Deus
”Pois assim está escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente. O último Adão, porém, é espírito vivificante. O primeiro homem, formado da terra, é terreno; o segundo homem é do céu" (1 Co 15:45,47).
"O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito" (João 3:6).
"Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele" (1 Co 6:17).
"Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus. Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes com temor, mas recebestes o espírito de adoção, pelo qual clamamos: Aba, Pai!" (Rm 8:14-15).
“Além disso, tínhamos os nossos pais segundo a carne, que nos corrigiam, e os respeitávamos; não havemos de estar em muito maior submissão ao Pai espiritual e, então, viveremos?” (Hb. 12:9).
"Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido” (1 Co 2:14-15 - ARC).
Um fragmento dessa última passagem será suficiente, funcionando como uma chave para nossa consideração. “O que é espiritual”. A chave para tudo o que é de Deus está relacionada ao estado espiritual. A espiritualidade é a chave e a porta que destravam tudo o que se relaciona a Deus. Sem espiritualidade, não há como atravessa-la, esta porta está fechada. A palavra “não pode” fica escrita ali como uma barreira intransitável - “não pode entender ou compreender as coisas do Espírito de Deus”. Na realidade, nossas vidas são estabelecidas em uma esfera de coisas espirituais. Deus é Espírito, portanto, a suprema Realidade, o fator supremo, o ambiente definitivo deste universo – Deus – é Espírito. O Homem, na mais profunda e verdadeira natureza de seu ser, é espírito. Ele tem uma alma e um corpo. Forças malignas, em grande poder, rodeiam o homem nesta terra, e essas são forças espirituais. Ainda mais, toda a ordem temporal das coisas está constituída sobre princípios e significados espirituais. As coisas visíveis não são nada menos que símbolos das coisas espirituais; tipos das coisas invisíveis. Deus constituiu todo este universo, em cada aspecto e detalhe, sobre uma base de princípios espirituais; coisas que simbolizam algo mais do que elas mesmas. Se Deus, Que é Espírito, faz alguma coisa, o faz com um significado, e o sentido é dado pela Sua própria mente. Aquilo toma sua maior significância a partir do próprio Deus, portanto, seu maior significado é espiritual. Tenho certeza que é desnecessário e tomaria muito tempo (embora seria de tremendo proveito além de ser interessante) seguir nessa linha, e olhar para esse visível, e tangível do universo temporal, e rastrear seu sentido espiritual, mas essa é uma linha de consideração muito simples. Nós sabemos que por toda a Bíblia as coisas da criação são usadas para representar coisas espirituais.
O sol, a lua, as estrelas, e todas as outras coisas criadas personificam algum pensamento, significado e lei espiritual, para que, ao chegarmos à revelação de Jesus Cristo pelo Espírito Santo, possamos encontrar uma contrapartida inteira, compreensiva e detalhada numa esfera espiritual, daquilo que temos na esfera temporal: uma nova criação em Cristo Jesus com sua iniciação em Deus, que disse que das trevas resplandecerá a luz, e Quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação da glória de Deus na face de Cristo (2 Co 4:6). Aqui está o ato da nova criação, o novo decreto para trazer à luz uma ordem espiritual, a qual, de maneira espiritual, reproduz todas as leis que estão por trás da criação da ordem natural. Não podemos continuar com isso agora, mas tenham-no em mente. É uma esfera muito forte e plena, pela qual podemos reconhecer realmente o que Deus busca através, em e por todas as coisas.
Se nós apenas nos voltarmos à nossa composição física pessoal, e tivermos o conhecimento suficiente de nossos próprios corpos físicos, deveríamos ser capazes de traçar mais e mais leis espirituais em quase toda parte. Sou quase tentado a me render perante tal fascinante consideração, mas deixo isso para pessoas mais hábeis. Mais aí está; Deus constituiu nossos próprios corpos sobre princípios espirituais. Somos, em nós mesmos, uma representação material de leis espirituais, e quando o Espírito Santo, pelo apóstolo, fala da Igreja como o Corpo de Cristo, Ele não está somente usando uma ilustração, Ele está dizendo que um sistema inteiro de leis espirituais que operam no corpo físico de um indivíduo, operam numa maneira espiritual no Corpo espiritual de Cristo, a Igreja. Assim como a violação de qualquer uma dessas leis ou princípios do físico traz consigo um estado de desequilíbrio que levará à desintegração e morte final. Assim, na Igreja, as mesmas leis ocorrem: viole uma delas, e você representará uma Igreja desequilibrada, se movendo para a desintegração e para fora de sua esfera das coisas vitais. Não devo me estender muito.
Estou afirmando que a chave para tudo o que é de Deus é a espiritualidade. Em 1 Co 15, o apóstolo está dizendo muito acerca do lado espiritual das coisas, e dentre essas declarações, ele diz em relação ao corpo que não é o que é espiritual que vem primeiro, mas sim aquilo que é natural, e a seguir então, temos aquilo que é espiritual. Podemos observar, aliás, que quando ele usa a palavra “natural” ele usou na verdade a palavra “almático”. Aquilo que vem primeiro é o almático, e depois, o que é espiritual, indicando que o pensamento último e final de Deus é o espiritual. O apóstolo prossegue muito claramente em mostrar que este corpo almático como tal, vai ser transformado. Mas há um embrião – o espírito é o embrião de um novo corpo, e esse espírito será vestido com um corpo espiritual. É algo que não podemos entender completamente, mas podemos ver algo de como os quarenta dias depois da ressurreição de nosso Senhor Jesus foram usados precisamente para este mesmo propósito – demonstrar e estabelecer a natureza de um homem espiritual em sua final e plena constituição, visivelmente, como também espiritualmente. Não há nenhuma duvida que nesses quarenta dias, os apóstolos foram convencidos de que Jesus estava vivo, que eles viram ao Senhor; eles foram deixados sem a menor sombra de duvida a esse respeito – nada poderia abalar essa questão. Mas que Senhor! Que diferença! - uma completa ausência de algumas coisas com as que eles estavam familiarizados. Ele estava lá, e Ele estava lá numa presença positiva – não um fantasma, não um espirito desencarnado, mas à uma perfeita Varonilidade; e no entanto, que diferente! Ele estava usando os quarenta dias para mostrar qual é o propósito de Deus para o homem, a natureza das coisas quando Deus alcançar Seu final. “Depois, o espiritual” [1 Co 15:46]. O final, último pensamento de Deus é o espiritual, e quero enfatizar que este propósito – não estou falando acerca de vapores, sombras, sustos e fantasmas, e coisas flutuando pelo ar, nem estou falando acerca de atmosferas, mas acerca de algo muito real – se me for permitido dizer concretamente – quando falo acerca de espiritualidade. É algo muito prático. O Senhor Jesus procurou certamente, mostrar isso depois de Sua ressurreição. “Filhos, têm alguma coisa de comer?” [Jo 21:5]. Ele pode fazer um fogo com carvão, pode cozinhar peixe ali, Ele pode partir a comida e distribuí-la, e pode comer com eles. Ainda assim, num instante, pode sumir de cena, dispensando tempo e geografia, Ele está num lugar e logo num outro lugar distante, mas Ele é real. Não permitam que pensemos que estamos falando acerca de espiritualidade como algo impraticável, mítico, abstrato. Iremos ver que isto é uma questão muito prática; primeiro o que é natural, e depois, como o pensamento final e o alvo das atividades de Deus, o espiritual. O final e a vontade eterna será a espiritualidade; seremos no sentido pleno, espirituais. Bem, essa é uma declaração geral.
Vamos nos aprofundar mais um pouco. Começamos, então, a reconhecer que o mundo das coisas temporais é apenas uma sombra de outro, e que não tem nenhuma qualidade permanente ou valores em si mesmo. Ele é governado pela lei da vaidade, vaidade significa simplesmente que não pode, de si mesmo, compreender seu próprio destino. Ele alcançará um ponto, e a partir dali, dará meia volta sobre si mesmo; seus esforços, seus gemidos, suas labutas, nunca chegam a uma compreensão final de Sua intenção. Nada dele, ou por meio de suas próprias capacidades, pode compreender propósitos e fins Divinos. É muito importante reconhecer isto.
Enquanto chegamos mais perto deste assunto, veremos como isso se aplica especificamente à obra cristã. Oh, quantas coisas são reunidas num Cristianismo organizado com a ideia de fazer para conseguir a efetividade! A ideia é essa, se você puder ter estas coisas, você vai conseguir resultados. Dinheiro – oh, quanto poderia ser feito se apenas tivéssemos dinheiro! Devemos ter o dinheiro! Pergunto, como era no Livro dos Atos? Foi feita alguma coisa? Com todo o dinheiro hoje, quanto é feito de perdurável, eterno, valor espiritual? Se apenas pudesse conseguir nomes e títulos nos teus programas e publicidades, você iria fazer alguma coisa! Será? Se você puder conseguir reputação, erudição, aprendizado, habilidade, força física, capacidade de negociação, a obra será efetiva! Será? Quero dizer que em nenhuma destas coisas, nem em todas elas colocadas juntas, naquilo que elas são nelas mesmas, há algum valor espiritual, e podemos ter uma quantidade muito grande de valor espiritual, sem nada disso em absoluto. Deus tem se empenhado abundantemente para provar isso. Ao longo da linha de suas presenças, Ele tem provado em abundância nossas futilidades espirituais. Ele tem demostrado Seu próprio poder através das eras, por meio de algo que não é nada em si mesmo, e tem feito coisas poderosamente frutíferas para a eternidade ao longo da linha de tomar as coisas pequenas, desprezadas, tolas, e as coisas que não são. Bem, isso é simples e obvio, e é uma contribuição a mais a este fato, de que é a espiritualidade o que conta, e é a coisa efetiva, aquilo que consegue ir além, e nada mais. O aprendizado, o dinheiro, e todas as outras coisas, podem ter seu lugar, desde que não governem, contanto que sejam subservientes ao que é espiritual e nunca sejam tidas como aquilo que irá realizar a obra: desde que nunca seja assumido que se você tiver estas coisas, uma grande obra para Deus pode ser realizada. Deus deixará evidente a tolice dessa hipótese. Uma grande extensão de coisas são empregadas pelo Cristianismo organizado para assegurar fins Divinos, mas não funciona. Bem, essa é a primeira coisa que notamos em conexão com espiritualidade.
Prosseguimos em segundo lugar reconhecendo que, para propósitos espirituais que são Divinos, eternos, supremos – temos que ser reconstituídos num nível e base espiritual. Isso, é claro, está bem o coração de João 3. Nicodemos está interessado, e preocupado acerca do Reino de Deus, querendo saber a respeito, e chegou até o Senhor Jesus durante a noite, evidentemente para falar acerca do tema. Ele tinha, como todos os israelitas, uma inteira concepção temporal do Reino, uma ideia terrena. Era algo formal, um assunto oficial. O Senhor Jesus não perde nenhum tempo com isso. Simplesmente desconsidera tudo isso, o ignora, e diz, “Importa-vos nascer de novo” [Jo 3:7]. Se um homem não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus”. Isso é elementar, mas estamos chegando a este fato, de que, a fim de realmente conhecer algo sobre as coisas de Deus, (e vejo o Reino de Deus como essa esfera na qual tudo o que se obtém é de Deus, aquilo que pertence a Deus) temos que ser constituídos segundo Deus. Nada é possível até que sejamos reconstituídos num novo principio, até que sejamos, em outras palavras, constituídos seres espirituais numa nova forma. Os próprios começos das coisas em relação a Deus são que elas são uma nova e completamente outra constituição, tão absoluta como seria reconstituir de nós uma vida para viver como peixe – ou talvez ainda mais. Temos que começar de novo. Para as primeiras coisas de Deus, isso é necessário. Sei que não estou dizendo algo que é novo em para vocês, mas realmente sinto que deve haver uma reconsideração da inteira concepção cristã, se vamos ter efetividade.
As ideias de realizar a obra de Deus, e de qual é Sua obra, estão muitas vezes longe da verdade. As ideias dos meios pelos quais Deus operaria são muitas vezes extensamente fora do âmbito da aceitação de Deus. Estamos interessados em real efetividade espiritual, não é? Então, temos que aprender o seu segredo; é atrás disso que estamos indo. Existe algo devastador, paralisante, um “não pode” repousando sobre o natural, o homem almático, no que tange as coisas de Deus; e ainda assim, quanto dessa vida almática é empregada e recorrida como base hoje no Cristianismo para assegurar fins espirituais! Se você apenas puder conseguir atmosferas de altas tensões, uma boa quantia de agitação, movimento e emoção; se apenas puder conseguir certas condições causadas por uma personalidade energética, poderosa, com impacto sobre o povo; então conseguirá resultados! E uma grande quantidade de resultados é obtida! Mas isso não é espiritual, não é permanente e eterno. Mas desafortunadamente, as consequências não são limitadas a isso. Isso complica mais e mais esta grande tragédia de pessoas terem tentado e serem desapontadas, determinando-se a nunca mais tentar novamente. O mundo está cheio com pessoas que têm tido uma experiência e nada mais. Oh! O diabo é inteligente!
Estamos dizendo que existe um abismo sem ligação entre o natural e o espiritual, e não pode haver nenhum translado; e ainda no Cristianismo de nossos dias, existe uma tremenda transferência do natural para o espiritual. Descobrimos que a esfera das coisas de Deus é simplesmente cheia de elementos naturais, e estão todas paralisando o espiritual. Deve haver uma tremenda remoção de todo este abafo e envoltório de elementos naturais – homens chegando com seus ímpetos, ideias, concepções e maneiras. Isso está matando a obra de Deus. Até que isso seja tratado no poder da Cruz de nosso Senhor Jesus e tudo seja colocado de lado, e Deus fique livre para realizar Sua própria obra pelos Seus próprios meios ao longo de Suas próprias linhas, não haverá nenhum resultado apropriado. Os meios de Deus e maneira de Deus são com base na espiritualidade, desde o inicio até o fim, o impacto de uma constituição espiritual. Sim, há um abismo sem ligação entre o natural (o almático) e o espiritual, e não pode haver nenhuma transferência. Olhe para o fato. É surpreendente que muito frequentemente, uma pessoa de uma bastante considerável perspicácia natural, aprendizado, inteligência e habilidade neste mundo, não seja ninguém nas coisas reais espirituais, embora possa ser cristão. Você não está sempre contra isso? Um homem cristão pode ser tremendamente capaz em assuntos de negócios e o mais agudo em suas realizações profissionais, cheio de inteligência e sabedoria mundanas, capaz de carregar o peso de uma imensa questão, ser a força propulsora de uma grande empresa, um homem de peso e consideração neste mundo, mas quando se trata de coisas espirituais, ele pode ser um bebê. Você fala acerca das coisas do Senhor, e essa grande mente é completamente vencida pelas coisas mais simples da vida espiritual. Você não pode ir falando por aí acerca do Senhor. Sempre fico maravilhado ao me encontrar e conversar com homens cristãos que estavam assumindo grandes responsabilidades, e tinham, sem duvida nenhuma, grandes habilidades, e quando você fala acerca de coisas espirituais, eles são incapazes de dizer coisa alguma, de fazer alguma contribuição; você está falando numa outra esfera. E ainda que eles saibam que são nascidos de novo, e eles têm estado assim por um longo tempo. Qual é o problema? Bem, há um abismo. Todos eles têm essa grandeza no lado natural, mas eles são muito pequenos no espiritual. Tudo o que eles têm de habilidade intelectual, equipamento e poder em todos os sentidos, para manejar grandes coisas naturalmente, coisas essas que não lhes servem de nada quando eles tratam de manejar as coisas de Deus; ao passo que, alguém que não tem nada disso, na esfera de coisas espirituais é um gigante, um mestre. Bem, isso é comum em nossa experiência.
Mas isso nos traz de volta para isto, que existe um abismo, e não existe nenhuma ponte por cima dele, não existe transferência de um lado para o outro. A palavra “não pode” fica alí. Aqui, a palavra não é sobre o não-regenerado, o excessivamente pecador. É o cristão que ainda é natural, vivendo na base de sua alma, ao invés de na esfera de seu espírito renovado. O homem natural “não pode”. Essa é a porta fechada nas coisas espirituais. Seja quem for em coisas naturais, em coisas espirituais é um bebê ou um tolo.
Chegamos então ao reconhecimento de que existe uma falsa e imitada espiritualidade que é puramente almática. Ela se parece com espiritualidade, e se faz passar por ela, assume ser espiritual; mas é falsa, é imitação. A encontramos no misticismo, e o misticismo pode ir por um longo caminho dissimulando aquilo que é espiritual. Estetismo muitas vezes parece espiritualidade, e tem sido confundida com ela. Existe uma vasta porção de religião que pensa e alega ser espiritual, e no entanto, é puramente estetismo, ou misticismo, algo almático; mas não é espiritual em absoluto. Existe uma percepção almática que é a falsificação da apreensão espiritual. É puramente psíquica. Tem você se encontrado com pessoas que enxergam através, e têm uma percepção das coisas de uma forma notável, e no entanto, não são pessoas espirituais? Eles têm uma percepção psíquica, suas almas são sintonizadas para coisas que não são aparentemente ordinárias. Temos ficado frequentemente impressionados e perplexos com isto. Eles podem falar do diabo, do sistema espiritual, usar a linguagem bíblica; eles podem falar acerca de coisas da Bíblia e conseguir chegar ao que está por trás da linguagem escrita, de algum jeito remoto obtendo interpretações que não são obvias. Existem certas constituições nacionais que são peculiarmente caracterizadas por isto. Acredito que os gálatas eram assim. Se você traçar a história dos gálatas, verá que esta é a peculiaridade de uma raça. O povo da Gália, de onde os gálatas vieram, eram assim. Existe algo psíquico neles, e se parece com uma percepção e entendimento espiritual. É falso. Você o pode ter em sua forma extrema; ou pode ter em formas mais moderadas. Existe uma falsa espiritualidade ao longo dessa linha, um falso conhecimento espiritual que é simplesmente uma interpretação mística. Existem pessoas com fraseologia sem estarem claros; estão envolvidos, mas tem buscado a quem? Eles estão tentando ser espirituais na base de revelação, vendo coisas que ninguém vê ou pode ver. Tenham cuidado! O inimigo simula cada verdade a fim de destrui-la. Temos que estar numa posição verdadeira, e existe uma posição falsa, uma interpretação mística. Você pode conduzir a tipologia a um extremo, pode forçá-la até um ponto onde perde seu valor, tornando-se quase um ridículo. O discernimento espiritual é falsificado, mostrando-se ao longo da linha de premonições e segunda visão; é tudo almático. A consagração é muitas vezes falsificada pelo ascetismo, uma falsa consagração. O monasticismo da idade média, e o que resta dele é uma interpretação falsa de espiritualidade, de consagração. É puramente almática, e qual é o real valor espiritual dele para qualquer um? A vida pode ser, e muitas vezes é, falsificada; euforia, mesmo histeria, ser tomado como vida espiritual. Vocês sabem como todos nós somos inclinados a isto. Há momentos em que temos um momento de euforia por uma apresentação, uma abertura esperada, e nesse momento sentimos que está tudo vivo. Vamos então dar uma chance, provar, esperar um pouco. Aquilo morre em nós. Onde está toda a vida que tínhamos experimentado? Era meramente uma euforia, algo que apelava às nossas almas e que encontrou uma resposta lá. Portanto, testem as coisas, dêem-lhes um tempo, levem-nas a uma outra atmosfera e vejam como é que vivem ali. É muito fácil cair numa falsa posição quando há uma condição favorável, você pode conseguir que muitas coisas brotarem rapidamente, parecendo ser um crescimento genuíno. Mas levem-nas para fora e elas murcharão. As coisas de Deus não fazem isso, elas sobrevivem a todas as atmosferas, elas vivem embora a morte esteja ao seu redor. Sua vida não é uma presa às condições terrenas; ela triunfa. Tudo pode ser falsificado, e existe uma falsa espiritualidade ao longo de cada linha.
Notem a diferença depois, entre o que é verdadeiramente espiritual e o que é falsamente espiritual. Não é evidente que quanto mais formalismo, ritual, ordem externa, menos é a vida espiritual real, alimento e plenitude? Você não pode ter mais formalismo, ritual e todo esse sistema de coisas do que vai encontrar na basílica de São Pedro, em Roma, mas te desafio a estar realmente vivo espiritualmente e em contato com Deus, e ser capaz de viver naquela atmosfera. É uma das coisas das que se destacam em minha experiência pessoal. Sempre tive o desejo de ver a basílica de São Pedro, fui até lá e fiquei feliz em sair do lugar. Era morte, sufocação. Mas não me dei por vencido. Voltei de novo uns anos depois, de fato estive diversas vezes. Finalmente tive que dizer: acabou, não mais disso! Não é somente morte, mas tem algo maligno, algo que entristece o Espírito de Deus em você ali. E no entanto, olhando ao seu redor, veremos pessoas se prostrando, suas "adorações”, seus “louvores”; mas tudo está morto. Esse pode ser o extremo fim das coisas, mas isso pode ser graduado e modulado; e me permitam dizer sem hesitação, que a medida do ritual externo, formalismo e esse tipo de coisa, determina a medida de espiritualidade. Quanto mais tivermos disso, menos teremos da verdadeira vida espiritual, do alimento espiritual real. Uma vida real com o Senhor é algo muito simples, tosquiado de toda a arte da religião; uns poucos filhos de Deus reunidos juntos em algo que não tem tradições eclesiásticas, nem enfeites, nem formas externas, mas apenas, simplesmente se reunindo no Nome do Senhor: ai você encontra vida, poder, plenitude. Não estou dizendo que as coisas devam ser de má qualidade para ter espiritualidade: estou dizendo que a lei de vida é a espiritualidade.
Isto funciona de outra forma. Quanto mais perto da terra ficamos, mais sentimos nossa própria importância. O homem é maior quando está mais perto da terra; e é menor quando está mais distante dela. Me lembro da minha primeira vez num avião; a dez mil pés de altura, olhei para baixo para o terreno que representava tanto desgaste para atravessar. Tudo parecia ter o tamanho de algumas polegadas, as pessoas e animais eram como brinquedos. Quanto mais perto do céu você chega, menos importante são as coisas da terra. Todos estes adereços religiosos é a importância da terra, do mundo. Quanto mais perto você chega das coisas espirituais e celestiais, menos da terra você quer, tudo se desvanece; você vê quão pequenas e mesquinhos as coisas realmente são. Vejam a Igreja a partir do céu, e tudo isto que acontece aqui embaixo é como brincar de ir à igreja; é demasiado pequeno. Existe uma grande diferença na constituição espiritual.
Resumindo: espiritualidade, corretamente compreendida, é o segredo de tudo o que pertence a Deus. Logo desde o começo de nossa vida com Deus, temos que ser reconstituídos como seres espirituais. “O que é nascido do Espírito é espirito” [Jo 3:6]. “O que é espiritual” [1 Co 2:15]. “Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus” [Rm 8:14]. Mas existe uma coisa falsa para falsificar e simular espiritualidade, e não é algo objetivo para nós, é construído a partir de nós. Nós fazemos deuses a partir de nossas imagens, nossas almas produzem seus próprios sistemas, mesmo na religião; e o Espírito produz Seu sistema. Diz a mulher ao Mestre, “Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar”. O Senhor Jesus disse, “Mulher, podes crer-me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém, adorareis o Pai... Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade” (João 4:20;24). isto quer dizer que, este Monte Gerizim e seu templo, e o templo em Jerusalém são puramente temporais, terrenos, coisas da alma do homem. Homens devem ter algo para ver, manusear, algo que possam apreciar pelas faculdades de suas almas, mas essa não é a esfera das coisas, pois Eu, o Senhor, cheguei. Aquilo é o natural, é passado. Agora, o espiritual vem – nem aqui, nem lá, não é uma questão do lugar ou qualquer coisa dessas na terra. É em espirito com o Pai.
Essa é a ordem, essa é a natureza e caráter desta dispensação.
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