por T. Austin-Sparks
Capítulo 2 - Em Sua Carta Aos Coríntios
Nós, agora, passamos para as cartas aos coríntios, e, novamente seguindo o nosso método, buscamos encontrar aquilo que irá resumir tudo o que essas cartas contêm. Após todos os detalhes, tudo aquilo que compõe essas cartas - e é bastante - perguntamos: ‘Isto resulta em que? Qual é o resultado disso?’ E uma vez mais encontraremos que é apenas o evangelho novamente - perdoe-me colocar desta forma - é apenas uma questão do evangelho novamente a partir de um outro ângulo, um outro ponto de vista. Podemos ficar surpresos ao aprender que a palavra ‘evangelho’, ou, como seria no original, o termo ‘boas novas’, ocorre nessas duas cartas não menos do que vinte e duas vezes: de modo que não estamos apenas tomando um pequeno fragmento e atribuindo um peso indevido a ele. Precisamos de algum fundamento absolutamente sólido sobre o qual basear as nossas conclusões, e penso que vinte e duas ocorrências de uma palavra especial em tal espaço formam uma base bem sólida. Sejam sobre o que mais essas cartas possam ser, elas devem ser a respeito disto. Muito do que você lê nessas cartas podem levá-lo a pensar que não se trata disso absolutamente - parece tão ruim; porém, o que buscamos é pelo resultado da matéria.
Há uma sentença muito familiar que resume o todo das duas cartas. Ela aparece, naturalmente, no final da segunda carta. ‘A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo, seja com todos’ (2 cor. 13.13). Isto é algumas vezes chamado de ‘a ação de graças’ ou ‘a benção’. Isto é, naturalmente, o título humano para ela. Porém, ela não é apenas um apêndice de um discurso - uma forma convencional de terminar as coisas, um pensamento agradável. Nem era ela usada por Paulo como uma espécie de bom desejo ou recomendação derradeira com a qual terminar a reunião, como é normalmente usado hoje. Eu creio que existe uma benção nela, mas você tem que olhar muito mais profundamente do que apenas para essas frases. Realmente era uma oração, e uma oração na qual estava resumido o todo das duas cartas que o apóstolo escreveu. A maneira maravilhosa de Paulo em abranger muito em poucas palavras, tudo o que ele tinha escrito através dessas duas cartas é dessa forma reunida.
É, talvez, importante observar a ordem dessas três orações. A graça do Senhor Jesus, o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo. Esta não é a ordem das Pessoas Divinas. Se fosse, teria que ser mudada: ‘O amor de Deus, a graça do Senhor Jesus, e a comunhão do Espírito Santo’. Mas nós não temos necessidade de tentar colocar Deus primeiro - em tentar aperfeiçoar a Palavra de Deus e a ordem da ordem do Espírito Santo. Isto não é a ordem das Pessoas Divinas. É a ordem do processo Divino. Este é o caminho ao longo do qual Deus se move para alcançar a Sua meta, e isto é exatamente o resumo dessas duas cartas. Todo o caminho ao longo do qual Deus está se movendo rumo ao final, e esta oração de Paulo está de acordo com o princípio, a ordem, do movimento Divino. Vamos agora chegar nas palavras em si, e ver se podemos encontrar um pouco do evangelho - as ‘boas novas’ dessas duas cartas - reunidas nessas três frases.
Qual foi a graça do Senhor Jesus? Bem, se você olhar de volta nesta segunda carta, para o capítulo 8, verso 9, você a tem: ‘Vós conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, embora sendo rico, contudo se fez pobre por vossa causa, para que por meio de sua pobreza vos torneis ricos’. Há três elementos muito simples nesta declaração. O Senhor Jesus fez algo - Ele se tornou pobre; e o que Ele fez foi voluntário - porque a graça sempre carrega esta característica bem no seu início. É aquilo que é perfeitamente voluntário; não forçado, não exigido, sob obrigação, mas completamente livre. A graça de nosso Senhor Jesus significou primeiramente um ato voluntário. Isto é graça muito simplesmente, mas ela vai ao coração das coisas. Isto é o que Ele fez - Ele se tornou pobre. E, então, o motivo, do por que Ele fez: ‘para que nós, através de sua pobreza pudéssemos nos tornar ricos’. Penso que esta é uma síntese simples e maravilhosa da graça. Ele se tornou pobre - Ele fez isto sem coação - e, em assim fazendo, Sua intenção era que pudéssemos nos tornar ricos. Agora, você vê, você tem aqui no Senhor Jesus uma Pessoa e uma natureza completa e absolutamente, plena e finalmente, diferente de qualquer outro ser humano; uma natureza completamente contrária à natureza do homem, como conhecemos. A natureza humana, como sabemos, é ser rico, fazer tudo para ficar rico, e qualquer outra pessoa pode ser roubada se é para nos fazer ricos. E para isto não é necessário tomar uma pistola e colocá-la na cabeça das pessoas. Há outras formas de tirar vantagens para nós mesmos, à custa de outras pessoas, ou coisa do tipo. Não há realmente ‘graça’ no homem, como o conhecemos. Porém, o Senhor Jesus é tão diferente disto! Cristo é completamente diferente - uma natureza completamente diferente.
Agora toda a primeira carta aos coríntios está abarrotada de egoísmo. Estou presumindo que você esteja mais ou menos familiarizado com essas cartas. Eu não posso levar você através de página por página, verso por verso; mas estou dando o resultado de uma leitura mais próxima, e você pode verificar isto, se quiser. Repito: toda a primeira carta está simplesmente cheia de egoísmo - vindicação própria, de ir para a lei a fim de obter os seus próprios direitos, uma busca pelos seus próprios interesses, pelos seus próprios méritos, pelos seus próprios desejos - até mesmo à Mesa do Senhor - confiança própria, complacência própria, glória pessoal, amor próprio, seguro de si, e tudo mais. Você encontra todas essas coisas nesta primeira carta, e mais. ‘EU’ - um grande e imenso ‘EU’ permanece inscrito na primeira carta aos coríntios. Esta é a natureza, a velha natureza, que se mostra nos cristãos. Tudo o que é contrário à ‘graça do Senhor Jesus’ vem para a luz nesta carta, e o Senhor Jesus permanece em tal contraste forte, claro e terrível ao que encontramos aí. Em nosso último capítulo procuramos mostrar isto, a fim de revelar a glória das boas novas do Deus de esperança, o método Divino foi pintar um quadro de desesperança como realmente era e é para a natureza humana. Agora, a fim de alcançar o objetivo Divino, o Espírito Santo não encobre as faltas, a fraqueza - até mesmo pecados, terríveis pecados - de cristãos. A graça de Deus é qualificada pela contexto contra o que ela se coloca. E assim, embora possamos sentir: ‘Oh, que pena que esta carta foi escrita! Que exposição, que revelação, de cristãos! Que pena falar sempre disso - Por que não esconder isto? - Ah, é justamente aí que as boas novas encontram sua ocasião e valor real.
Você vê, são as boas novas de ações de graça. As boas novas aqui são encontradas bem no início da carta. Deus sabe tudo sobre essas pessoas. Ele não está simplesmente decifrando - Ele conhece o pior. Caro amigo, o Senhor conhece o pior sobre você e eu; e Ele conhece tudo. Agora, Ele conhecia tudo sobre esses coríntios, e, contudo, sob Sua mão, este apóstolo tomou a caneta e começou a sua carta com - O quê? ‘À igreja em Corinto’, e, então: ‘santificados em Cristo Jesus, chamados santos’. Agora, é isto fingimento? É isto um jogo de faz de contas? Está ele colocando óculos especiais e dizendo coisas agradáveis sobre as pessoas? Nem um pouco! Repito: Deus sabia de tudo, porém mesmo assim disse: ‘santificados em Cristo Jesus... santos’. Você diz, ‘Oh, não consigo entender tudo isto!’? Ah, mas isto é simplesmente a glória de Sua graça, porque a graça do Senhor Jesus é evidenciada aqui em chamar a tais pessoas de santas. Agora, você não chama tais pessoas de santas; você reserva esta palavra para pessoas de um tipo diferente. Dizemos, ‘Oh, Ele é santo’ - distinguindo-o, não das pessoas que não são salvas, mas entre pessoas boas. Agora, Deus chegou exatamente a essas pessoas, sabendo toda esta história negra, suja, e disse: ‘santos’; e esta outra palavra, ‘santificados em Cristo Jesus’ é apenas uma outra forma usada para ‘santos’. Significa ‘separados’ - separados em Cristo Jesus. Você vê, a primeira coisa é a posição na qual a graça do Senhor Jesus nos coloca. É uma graça posicional. Se estivermos em Cristo Jesus, todas essas coisas lamentáveis podem ser verdadeiras sobre nós, mas Deus nos vê em Cristo Jesus, e não em nós mesmos. Esta é a boa notícia, isto é o evangelho. A maravilhosa graça do Senhor Jesus! Somos vistos por Deus como separados, santificados em Cristo. É aí onde Deus começa Sua obra em nós, colocando-nos numa posição em Seu Filho onde Ele atribui a nós tudo aquilo que o Senhor Jesus é.
Agora, você pode registrar isto nesta carta: ‘Jesus Cristo, que foi feito por nós sabedoria de Deus, justiça, santificação e redenção’ (1Co 1.30). Ele foi feito por nós justiça, santificação e redenção. Temo que alguns cristãos tenha receio de se apropriar demais de sua graça posicional. Acham que será tirado algo de sua vida cristã se fizerem isso, porque eles dão uma ênfase tremenda em sua necessidade por santificação, na verdade, como condição; e ficam tão ocupados introspectivamente com esta questão do que eles são em si mesmos, tentando lidar com isso, que perdem toda a alegria de sua posição em Cristo através da graça. Precisamos manter o equilíbrio nesta questão. O começo de tudo é que a graça do Senhor Jesus vem a nós - muito embora possamos ser como os coríntios - nos coloca e olha para nós como num lugar de santidade, ‘santificados em Cristo Jesus’. Você não pode descrevê-la. A graça vai além de nossa capacidade de descrever, porém lá está a maravilha da graça do Senhor Jesus. O fato em questão é que nós realmente somente descobrimos que terríveis criaturas somos, após estar em Cristo Jesus, e após ter estado Nele por um longo tempo. Penso que quanto mais tempo estamos em Cristo, mais horríveis nos tornamos aos nossos próprios olhos. Portanto, se estamos em Cristo Jesus, o que somos em nós mesmos não importa. A nossa posição não se apóia sobre se somos realmente, literalmente, verdadeiramente perfeitos. As boas novas, antes de tudo, têm a ver com a nossa posição em Cristo.
Ah, mas isto não para aí. Ela não introduz algum tipo de sombra, ou não deve introduzir. Graças a Deus, é uma boa notícia além até mesmo disso. A graça do Senhor Jesus pode fazer o estado ser diferente - pode fazer com que o nosso estado atual mude para um novo estado. Esta é a graça do Senhor Jesus. Ela pode fazer o nosso próprio estado atual corresponda à nossa posição. A graça não apenas recebe na posição de aceitação sem mérito: a graça é um poder que trabalha para nos fazer corresponder à posição na qual somos trazidos. A graça tem muitos aspectos. Graça é aceitação, mas graça é poder para operar. ‘A minha graça te basta’ (2 Co 12.9). Esta é a palavra mais poderosa na necessidade. A graça do Senhor Jesus é, de fato, boas novas - boas notícias para os cristãos.
Após ‘a graça do Senhor Jesus’, ‘o Filho de Deus’, veja como Deus está se movendo para o Seu propósito final. Agora, a segunda carta aos coríntios está tão cheia do amor de Deus quanto a primeira está cheia da graça do Senhor Jesus. É uma carta maravilhosa do amor de Deus, e de Seu poderoso triunfo, Seu grandioso poder. O amor de Deus é o método presente de mostrar o Seu poder. Se isto não o fizer, nada mais o fará. O que Deus está fazendo nesta dispensação, Ele o faz por meio do Seu amor. Deixemos isto ficar bem estabelecido. Não por julgamento, não por condenação. O Senhor Jesus disse que Ele não veio para condenar, mas sim para salvar (Jo 12.47; cf 2.17). Sim, é o amor de Deus que é o método do Seu poder nesta dispensação. O método irá mudar, mas este é o dia do amor de Deus.
Agora, Paulo, ao final de sua primeira carta, já deu esta definição clássica e análise do amor de Deus - 1 Co 13. Não há nada comparado a isto em toda a Bíblia como uma análise - não é o seu amor, nem o meu amor; não estamos interessados nisto - mas o amor de Deus. ‘O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, ‘ e assim por diante. Aí está o amor de Deus estabelecido. Iremos perceber que não podemos resistir a ele. Nenhum homem pode resistir a isto plenamente. ‘O amor jamais falha’ - nunca desiste, é isto. Aqui está a qualidade do amor Divino. Agora, traga-o para a segunda carta aos Coríntios, e veja o poderoso triunfo, o poder, do amor de Deus. Antes de tudo, veja-o como trabalhando triunfalmente no servo do Senhor. Olhe novamente para a carta. Paulo tem dado, em diferentes lugares em suas escritas, revelações muito maravilhosas, muito gloriosas da graça de Deus em sua própria vida; mas, considerando o cenário, não penso que haja algo em algum lugar no Novo Testamento que estabeleça tão maravilhosamente o triunfo do amor de Deus em um servo de Deus, como o faz esta segunda carta aos coríntios. Se por acaso um homem tivesse razão para desistir, para lavar as suas mãos, para se desesperar, para ficar furiosamente zangado, para ser qualquer outra coisa, menos amável, Paulo teria sido este homem, em relação aos coríntios. Ele poderia ter sido bem justificado em encerrar a situação em Corinto, e dizer: ‘Fiz tudo que podia por vocês, lavo as minhas mãos, vocês são irremediáveis. Quanto mais eu os amo, mais vocês me odeiam. Tudo bem, vão adiante com isso; eu desisto de vocês’. Olhe para a segunda carta: A emanação, o transbordamento, de amor por aquelas pessoas - por essas pessoas - superando aquela situação. Que triunfo de amor, o amor de Deus, em um servo de Deus! É assim que Deus alcança os Seus objetivos finais. Oh, Deus nos dá mais amor, como Seus servos, para suportar e ser indulgente, para ter paciência, e nunca perder a esperança.
Sim, mas isto não foi deixado lá. Você pode ver isto, mesmo se está apenas começando - e eu penso que é mais do que isto - nos próprios coríntios, como ele lhes fala sobre o resultado de seu forte discurso, sua súplica, sua reprovação, sua admoestação, sua correção. Os termos que Paulo usa sobre os coríntios é a tristeza deles, seu arrependimento, e assim por diante. Valeu a pena, o amor de Deus triunfando em um povo como aquele; e você sabe que isto é o que tornou possível as coisas maravilhosas que Paulo foi capaz de escrever a eles na segunda carta. Paulo jamais poderia ter se empenhado em escrever algumas das coisas que estão nesta segunda carta se não fosse por alguma mudança nessas pessoas, na atitude e na disposição deles; se não fosse o fato de ele ter esta base de amor triunfante. Esta segunda carta tem a ver com ministério, com testemunho, e Paulo seria a última pessoa no mundo a sugerir que alguém pudesse ter um ministério e um testemunho sem conhecer o amor triunfante de Deus em sua própria vida. Paulo não era este tipo de homem. Infelizmente é possível pregar e ser um obreiro cristão sem conhecer nada da graça do Senhor Jesus em sua própria vida - o que é simplesmente uma contradição. Há muito mais sobre isso. Paulo jamais apoiaria qualquer coisa semelhante. Se ele vai falar sobre ministério e sobre testemunho no mundo, ele necessitará de uma base, a graça terá feito sua obra pelo menos em medida, para que desta forma o amor de Deus seja agora manifestado. Há agora humilhação: ‘Oh, que bendita tristeza’, ele diz, ‘que bendito arrependimento!’ Onde está o ‘EU’? Onde está o egoísmo? Alguma coisa se rompeu, algo foi embora; há algo agora da graça do Senhor Jesus, em esvaziamento próprio, em negação da vida própria. Sim, estas coisas acabaram, romperam-se. Este é o triunfo do amor Divino em tais pessoas.
Isto é evangelho, as boas novas! São boas novas, não são? O evangelho não é apenas alguma coisa para trazer o pecador ao Salvador. É isto - porém, o evangelho, as boas novas, é também isto, que pessoas, cristãos como os coríntios, podem ser transformados desta maneira por meio do amor de Deus. As boas notícias! “A glória do triunfo que se segue, em palavras que amamos muito: ‘Graças a Deus que sempre nos conduz em triunfo em Cristo” (2 Co 2.14), para celebrar Sua vitória sobre os inimigos de Cristo. Esta é a progressão de graça e amor. É um Paulo diferente, não é? - um Paulo diferente da primeira carta. Ele tem o vento a seu favor agora, ele corre a favor do vento, ele está em triunfo. Ele está falando sobre tudo ser um processo triunfal em Cristo, uma constante celebração de vitória. O que fez Paulo mudar? A mudança neles! Sim, sempre foi desta maneira com Paulo; sua vida estava atrelada ao estado dos cristãos. ‘Agora eu vivo, se estais firmes no Senhor’ (1 Te 3.8). ‘Isto é vida para mim’. ‘E o amor de Deus’. ‘Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós.’ (2 Co 4.6,7). ‘Somos pobres criaturas, coríntios: Eu sou, vocês são; mas Deus brilhou em nossos corações. Algo foi feito em nossos corações. O amor de Deus entrou. Vasos frágeis é o que somos em nós mesmos, aquele amor se manifestou - a glória do amor de Deus.’
‘A comunhão do Espírito Santo’. Algumas outras pessoas já tiveram a necessidade de conhecer o significado de comunhão mais do que os coríntios? Está Paulo tocando em um ponto que era muito sensível? Comunhão? Ele escreveu: ‘Cada um de vós diz: Eu sou de Paulo; e eu sou de Apolo, e eu sou de Cefas; e eu sou de Cristo’ (1 Co 1.12). Existe alguma irmandade nisto, alguma comunhão? Não. Quando vocês permanecem na carne, não há relacionamento, não há comunhão; vocês ficam todos em pedaços, digladiando-se uns contra os outros. E era desta forma. O que Deus deseja? A comunhão entre os cristãos; e deve ser a comunhão do Espírito Santo, isto é, uma comunhão constituída, estabelecida e enriquecida pelo Espírito Santo. Este é resultado da ‘graça do Senhor Jesus e do amor de Deus’ - unidade. Vamos claramente reconhecer que esta é a obra mais profunda do Espírito Santo. Muito foi dito anteriormente, na primeira carta de Paulo, sobre o Espírito Santo. Eles tinham tido muito sucesso com os dons; dons espirituais os havia atraído. Eles estavam fascinados pelo poder para fazer coisas, sinais, maravilhas, etc. Os corações deles buscavam muito essas coisas; esses dons do Espírito Santo, e muito mais coisas apenas exteriores, traziam muita gratificação para as suas almas.
Mas quando você vem para a suprema e mais profunda obra do Espírito Santo, você encontra unidade entre os irmãos. É necessária a obra mais profunda do Espírito Santo para fazer isto acontecer, visto que nós ainda temos uma natureza que é uma velha natureza. Nós podemos ser cristãos, contudo, cristãos coríntios. Ainda há coisas escondidas - e nem sempre em cantos escondidos - o ‘Eu’, a vida egoísta de um forma ou de outra. Visto que estas coisas estão lá, é necessário uma obra poderosa do Espírito Santo para unir indissoluvelmente até mesmo dois cristãos; mas para unir uma igreja toda como aquela (de Corinto) é algo estupendo. A comunhão do Espírito Santo é nada mais e nada menos do que isso. Algo disto parece ter acontecido em Corinto. Oh, maravilhas de maravilhas, a diferença entre essas duas cartas! Sim, isto aconteceu. É um triunfo interior sobre a natureza, e isto mostra um real progresso. Esta é a comunhão do Espírito Santo. Quando Paulo começou sua primeira carta, ele disse: ‘Quando cada um de vós diz, Eu, Eu, Eu, não sois crianças? Não necessitais de leite?’ (1 Co 3.1-4) Crianças estão sempre discordando e brigando. Assim eram os coríntios. Mas eles deixaram pra trás a fase de criança, através da ‘graça do Senhor Jesus e do amor de Deus’. As coisas mudaram; eles tinham crescido.
Leva tempo para que o Espírito Santo nos faça crescer espiritualmente desta maneira. A medida de nossa espiritualidade pode ser indicada muito rapidamente e claramente pela medida do nosso amor mútuo, da nossa comunhão. Seremos, afinal de contas, pessoas pequenas espiritualmente se formos sempre inconstantes. Somente grandes pessoas podem viver com outras grandes pessoas sem brigas. É necessária a graça do Senhor Jesus, e o amor de Deus’, para levar à comunhão do Espírito Santo’. Esta comunhão do Espírito Santo, então, é essencialmente corporativa. Talvez você tenha pensado que esta última sentença, ‘a comunhão do Espírito Santo’, significa a sua comunhão com o Espírito Santo, e do Espírito Santo com você. Mas não significa isto, absolutamente. Paulo está, talvez, trazendo à memória a antiga situação, a antiga condição. ‘O que vocês coríntios precisavam mais do que qualquer outra coisa era de comunhão; não havia comunhão. Agora vocês progrediram pelo caminho da graça do Senhor Jesus e do amor de Deus “e a comunhão do Espírito Santo” é encontrada entre vós’. Este é o significado. É corporativo, e isto é uma obra poderosa do Espírito Santo. Esta comunhão tem que estar em todos nós. Agora você, naturalmente, pensa que ela tem que acontecer na outra pessoa! Não, ela tem que acontecer em todos nós, não apenas na outra pessoa. Tem que ser em você e em mim - tem que estar em todos os envolvidos. Bem, isto é evangelho: boas novas para um povo numa condição muito má! Que boas notícias!
Deixe-me finalizar com isto. Nunca chegaremos a algum lugar apenas reconhecendo o deplorável estado, porém continuar tratando as pessoas com violência, empunhando a espada ou a marreta e esmagar as coisas, trazer as pessoas sob condenação. Nunca chegaremos a algum lugar. Se Paulo tivesse agido desta maneira com os coríntios, ele teria esmagado tudo, porém isso seria o fim. Mas o amor encontrou um caminho, e, embora houvesse constrição, não foi o fim. Algo, ‘a beleza das cinzas’, surgiu dali - porque ‘a graça do Senhor Jesus, o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo’, era o princípio sobre o qual o próprio Paulo vivia e pelo qual trabalhava. Você e eu devemos ser pessoas de boas novas. Temos boas novas para qualquer situação, embora ela seja tão ruim quanto a dos coríntios. Creia nisto! Boas novas! Boas novas! Esta deve ser a nossa atitude em relação a tudo, pela graça de Deus; sem desesperar, sem desistir. Não, boas novas! O Senhor faça de nós pessoas do evangelho, as boas novas.
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