por
T. Austin-Sparks
Primeiramente publicado na revista "A Witness and A Testimony", em Jan-Fev 1953, Vol. 31-1. Origem: "A Man in the Glory". (Traduzido por Marcos Betancort Bolanos)
Leitura: Hebreus 2:5-12.
Esta porção das Escrituras é uma condensação de tudo que a Bíblia, e especialmente o Novo Testamento, trata. É algo estranho a se dizer, contudo é bem verdade, que nesta última hora na dispensação do Novo Testamento, nossa maior necessidade, como povo de Deus, é saber para o que temos entrado, o que Cristo significa, e para o que nós, como o povo do Senhor, temos sido chamados.
Essa necessidade tem vários aspectos. Você concordará, tenho certeza, que um aspecto de nossa necessidade é o da certeza, da confiança, de estarmos estabelecidos, arraigados, fundamentados com uma esperança inabalável. Todos nós precisamos estar tão confirmados na fé, tão estabelecidos, que não sejamos abalados nas nossas mentes nem afetados na nossa confiança. Essa necessidade está presente conosco, e essa necessidade, penso, irá ser mais e mais sentida, visto que as coisas ficam cada vez mais difíceis – a necessidade para o povo do Senhor neste mundo é para estarmos estabelecidos e completamente assegurados. Há necessidade de força, força real, dentre o povo do Senhor, libertação da fraqueza, da debilidade, para que possam prosseguir, e realmente crescer, pois onde há incerteza, onde há fraqueza, então haverá lentidão no progresso, então haverá limitação real no desenvolvimento espiritual.
Além disso, existe a grande necessidade do entendimento, especialmente entendimento dos caminhos de Deus e tratos de Deus com o Seu povo, saber por que o Senhor lida com eles e conosco da maneira que Ele lida, obtermos o significado dos caminhos do Senhor e as obras do Senhor que são tão estranhos e muitas vezes tão difíceis para nós entendermos. Estes são aspectos da grande necessidade que todos nós sentimos.
Esta passagem da Escritura, como tenho dito, é uma declaração condensada do que vai até o mesmo coração dessa necessidade. Nos leva para a maravilha e mistério infinito da encarnação. Se nós pudéssemos compreender o significado da encarnação, Deus manifesto na carne, nós teríamos uma resposta para todas nossas questões, e todas nossas muitas necessidades seriam satisfeitas.
Observe este duplo “não”. “Porque NÃO foi aos anjos que Deus sujeitou o mundo vindouro” (versículo 5), e “Pois, na verdade, NÃO presta auxílio aos anjos, mas sim à descendência de Abraão” (2:6). “Não aos anjos”. No primeiro versículo não aos anjos, mas ao homem. O que é o homem? O segundo versículo, não aos anjos mas à descendência de Abraão. O homem – isso é humanidade; a descendência de Abraão – isso é aliança de amor, amor em aliança . Se você olhar na sua margem você provavelmente achará uma referência, levando você para o Velho Testamento, sobre a descendência de Abraão (2 Cr. 20:7; Isa. 41:8), e você achará que o contexto imediato é 'Abraão, o amigo de Deus' – da descendência de Abraão, o amigo de Deus – a aliança de amor de Deus. Essa é a direção na qual este maravilhoso mistério da encarnação está, na direção do homem, da humanidade, e na direção do homem levado para a aliança de amor de Deus.
Aqui a consequência, o resultado, o grande clímax deste paragrafo inteiro é - “Contemplamos… Jesus”. Ó, a música desse Nome – pois somos permitidos na correta conexão usarmos esse nome por si mesmo. Sei que as escolas modernas abandonam todos os outros títulos, não falam em Jesus Cristo ou o Senhor Jesus, mas estão sempre falando de 'Jesus', O tornando um dentre muitos, embora talvez um tanto melhor do que outros homens; e isso obviamente é perverso. Mas aqui e lá no Novo Testamento temos este nome usado por si mesmo, e com razão. “Contemplamos… Jesus… coroado de glória e honra”. Jesus é o nome de quem se esvaziou a Si, de quem se tornou homem, quem tomou nossa humanidade, um corpo como nosso corpo, uma alma como nossa alma. Ele tomou nossa natureza humana – Ele, Jesus, coroado de glória e honra – para levar à glória e honra nossa humanidade, nossa natureza humana. Esse é o coração do Cristianismo.
Considere a nossa humanidade: olhemos para nós mesmos, considere a você mesmo, o que nós somos como seres humanos; estes corpos, na melhor das hipóteses, na pior das hipóteses; estas almas – um problema eterno. Sim, nossa humanidade: que coisa! Aqueles de nós que temos entrado em contato com o Espírito iluminador de Deus em alguma maneira real não temos nada a dizer pela nossa humanidade. Seriamos mais inclinados a desculparmos por SERMOS absolutamente. E Ele tomou posse de nossa humanidade para levá-la para o lugar onde é coroada de glória e honra. Isso é redenção. É por isso que a passagem volta para a primeira. “Ora, visto que lhe sujeitou todas as coisas”. “De glória e de honra o coroaste” - potencialmente declarou. “Todas as coisas lhe sujeitaste debaixo dos pés”. Esse era o propósito da criação do homem, mas ele falhou, perdeu tudo, e se tornou a humanidade que nós conhecemos ser. E lá desceu do céu Aquele que tomou essa humanidade, e a levou por todas suas provações, todas suas tentações, todas suas pressões e seus estresses, por todas suas oposições, e seus antagonismos, por toda a força total que veio a recair sobre ela para sua destruição. Ele levou essa humanidade por tudo, a aperfeiçoou, a levou para a glória – nossa humanidade, sua e minha humanidade, esta coisa incômoda, e a tornou apta para suportar a presença do Deus infinitamente santo e glorioso. Isso foi de fato “trazer muitos filhos à glória”.
A Bíblia está cheia disso em figura, em retrato – a união do Divino com o humano. Você a tem na figura do Querubim, e na figura da Arca do Testemunho – a madeira, a madeira comum do deserto, revestida com o ouro. Você a tem por todos os lados. Deus está testificando – pois esta é a arca do testemunho – testificando que da glória Ele tomou posse da humanidade e vai trazê-la até o Santo dos Santos no Templo, a última imagem da arca do testemunho está nesse Santo Lugar no Templo, onde os varais sobressaiam. Está lá para sempre na presença de Deus. Sua jornada acabou, é coroado de glória e de honra – Cristo e você e eu em união na presença de Deus. Digo, isso é o coração de tudo, e se você e eu precisamos, como disse, de certeza e confiança, lembre que Deus entrou numa aliança de amor conosco para fazer isto. Queremos alguma coisa que nos dê maior e mais profunda certeza e confiança e esperança do que isto, que Deus entrou numa aliança de amor?
Cada vez que nos reunimos à Sua Mesa e participamos dos símbolos, estamos entrando no significado dessa aliança de amor, como a semente de Abraão. Que poderosa aliança há nesse Sangue! Que poderosa aliança há nesse corpo do Senhor Jesus! Fomos feitos participantes de Sua carne, dos Seus ossos, de Sua própria vida. Esta aliança de amor. Que certeza isso nos deveria dar, que força para o progresso – pois se não temos essa certeza e esperança, quão lentos seremos para continuarmos; quão difícil é manter uma posição e curso de avanço. Podemos dar uma passo em frente – e depois lá entra nos pensamentos sobre nós mesmos, alguma acusação de nosso próprio coração: o inimigo vem por causa de alguma coisa que há em nós, e descobrimos que temos dado dois passos atrás. Um pouco em frente, e então um descanso, e depois para trás onde estávamos, por causa da incerteza brotando da humanidade que somos.
A força absoluta da certeza para continuar avançando está na nossa fé segurando a humanidade que está no céu. “Contemplamos”. Veja, esta carta afinal chega lá. Estão todos aqueles que correram esta corrida da fé, e eles eram homens fracos, muitos deles. Eles não são a seleção do melhor do mundo neles mesmos. A história de suas falhas e de serem homens de semelhantes paixões às nossas não é encoberto pelo Senhor; é completamente exposto; mas eles correram a corrida. E depois diz, “Corramos com perseverança a carreira que nos está proposta, fitando os olhos em Jesus”. - “coroado de glória e honra”: a garantia de que estaremos lá coroados de glória e honra pela fé Nele. Você pode ter tão pouca fé como você queira, talvez ter menos é melhor, mas não fique aí sem nenhuma fé em você mesmo. Sua força para avançar está em tirar os olhos de você mesmo para “Jesus… coroado de glória e honra”. Será que isso transmite algo a você, que aqui está um homem tentado e provado, como nós temos sido, pelos fogos do antagonismo e mal que estavam sempre procurando abrasar Ele e arruiná-Lo? Não, Ele o fez por nós, como nós. Nossa força para avançar está em olhar fixamente.
E quanto aos caminhos de Deus para conosco, Seus estranhos caminhos, Seus caminhos às vezes aparentemente difíceis. O que dizer sobre tudo isto? Lá está a explicação - “coroado de glória e honra”, “conformados à imagem do Seu Filho”. Estamos passando pelos fogos; estamos sendo provados, testados, plenamente; estamos tendo realmente um tempo difícil nas mãos de Deus. Mas o que está fazendo? Bem, às vezes parece que os fogos estão manifestando tudo que há de mau em nós, conforme vem para a superfície. Mas olhe novamente para a provação. Essa espuma, esse entulho, está na superfície, veio para a superfície, tudo bem. Mas o que há por baixo? O ouro está embaixo. Vemos o que está na superfície; são as coisas que se veem que tomamos nota – mas Deus está fazendo algo lá no fundo. Não seria para o nosso bem sabermos tudo que Deus está fazendo lá no fundo. Nos tornaríamos, na nossa pobre humanidade, imediatamente espiritualmente orgulhosos. A última coisa para o nosso bem é isso. Mas Ele está fazendo algo lá embaixo no fundo. Ele está refinando o ouro, mesmo se estamos mais conscientes do entulho da superfície do que de qualquer coisa. Ele vai nos coroar de honra e glória, para que permaneçamos em honra diante de Deus. Isso é um mistério, mas o temos que aceitar.
Jesus tem realmente tomado nossa natureza humana e a tem conduzido até a presença de Deus, e é lá através de toda prova e dificuldade e adversidade. Está exaltada. Nossa humanidade está já exaltada na presença de Deus para a glória e honra, e Ele, estando lá, é o penhor de que, considerando que a presença de Deus seria para nossa destruição total, nós suportaremos a presença de Deus sem a destruição. Ele é o penhor disso.
Encerro com isto. Se você a perdeu, se você está em perigo de perdê-la, ou se você nunca a tem ainda adequadamente compreendido, lance mão de sua grande fé objetiva. Você pode ter se tornado tão subjetivo na sua fé, na sua doutrina, que você está inteiramente ocupado com o que está dentro de você, e isso é uma coisa devastadora. Você nunca terá nenhum encorajamento ou esperança ao longo dessa linha. Que o Senhor possa recuperar nosso equilíbrio entre a verdade objetiva e a subjetiva, e restaure para nós o pleno equilíbrio deste grande fato, este glorioso fato, sem o qual tudo o subjetivo será para a nossa ruína. Há Um na glória que, tentado em todas as coisas como nós, sem pecado, levou nossa humanidade pelos fogos mais vivos e intensos do que conhecemos a respeito. Ele está lá como nós – o penhor de que nós estaremos lá. Para mim é maravilhoso. Este é o Evangelho, esta é a substância, a essência, o coração do Cristianismo. A encarnação é o próprio cerne do Cristianismo. Ó sim, nós não iremos ter, quanto mais vivermos, uma melhor opinião de nós mesmos, começar a sermos capazes de nos congratular. Irá ser pior e pior ao longo dessa linha, mas o oposto de tudo isso é “Cristo em você, a esperança da glória” - “coroado de glória e honra”.
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