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Um Céu Aberto

por T. Austin-Sparks

Editado e suprido por Golden Candlestick Trust. De umas séries de mensagens dadas em Gümligen, Suiça em 1935. Origem: "Christ Our All (1935) - Chapter 4". (Traduzido por Marcos Betancort Bolanos)

“No mesmo instante, o véu do santuário rasgou-se em duas partes, de alto a baixo...” Mat. 27:46-51.

O objetivo de nossa meditação é: Jesus Cristo no céu como nossa Suficiência. Já temos visto que os recursos de nosso Senhor Jesus vieram de Seu Pai quando Ele esteve aqui nesta terra. Ele viveu voluntariamente num estado de absoluta dependência a Ele. Ele quis que assim fosse. Ele recusou-se a ter qualquer coisa Nele mesmo. Tudo que Ele precisava Ele extraiu do céu; Ele o recebeu do alto.

Quando nós estamos em união de ressurreição com Cristo, o Espírito Santo nos traz em união com Ele, O qual está no céu por nós. Isso significa: todos os recursos sobre os quais o Senhor Jesus viveu estão à nossa disposição. Estes recursos eram recursos secretos, isto é, eles eram desconhecidos para o mundo. As pessoas ao redor Dele ficavam absolutamente na escuridão quanto à fonte do Seu poder. Havia um relacionamento secreto entre Ele e Seu Pai que os impressionava. Eles viram que havia algo no fundo de Sua vida, um poder e conhecimento misterioso que não era ordinário para o homem. Ele tinha um conjunto inteiro de recursos ao Seu comando que ninguém possuía. Ele tinha um conhecimento que estava muito além do entendimento humano. E por causa de que Ele viveu uma vida secreta, uma vida no Seu Pai, Seus recursos eram misteriosos e maravilhosos para os homens.

Se nós vivemos em união celestial com Jesus Cristo pelo Espírito Santo, os mesmos recursos estão à nossa disposição. Lembremo-nos da Palavra que está na base de nossa meditação: “O Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que nos abençoou com todas as bençãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo”. Isso significa que todos os recursos que estão em Cristo estão disponíveis para nós. Mas temos que aprender a viver numa comunhão tão íntima com Ele como Ele viveu com o Seu Pai nos dias de Sua carne.

Agora olhemos para alguns destes recursos secretos e voltemos para Hebreus 9:3-4: “Mas, atrás do segundo véu, havia a parte chamada Santo dos Santos”. Temos aqui o tabernáculo como estava na terra, com seu santo lugar e seu lugar mais santo. O lugar santo representava a terra. Lá temos o candelabro, o altar de incenso, e a mesa da proposição, apontando – em tipo – para o Senhor Jesus Cristo. Agora Jesus Cristo atravessou o véu para o lugar de realidades futuras, onde tudo é Cristo, Cristo Tudo em todos. O céu está aberto desde que Cristo rasgou o véu. Para o homem natural o céu está fechado. Isto inclui não somente o céu que poderemos ir um dia, mas representa um esfera, a presente esfera de atividade de Deus, a qual podemos compartilhar em união com Ele.

Nós também, temos um céu aberto. Paulo diz: “nossa cidadania está no céu”! Se nosso caminhar nesta terra é para ser celestial, devemos ter um céu aberto, pois somos totalmente dependentes do céu para as bençãos espirituais. A porta do céu está fechada para o homem natural. Mesmo um homem como Nicodemos não pode vê-lo, e muito menos entrar.

Repitamos que o 'lugar santo' do tabernáculo representa a terra, e o 'santo dos santos' o céu. No primeiro lugar temos os tipos de coisas celestiais. No outro temos a Deus mesmo. Entre os dois estava o véu. A morte encontraria qualquer um que atravessasse esse véu para o santo dos santos, exceto pelo comando especial de Deus.

A carta aos Hebreus nos diz, além disso, que esse véu era um tipo da carne de Cristo. Existem dois lados na pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo: um lado terreno (em direção à terra) e um lado celestial (em direção a Deus). Entre o céu e a terra estava o véu, e a carne de Cristo era esse véu. Quando Jesus Cristo morreu na cruz o véu no templo foi rasgado de cima para baixo. Agora os tipos deram lugar à realidade. O que era senão sugestivo, apontando para Deus, passou, e foi lhe permitido ao homem se aproximar de Deus. A carne de nosso Senhor Jesus Cristo está falando de limitação humana que formava uma barreira entre as realidades de Deus e o homem. Se olharmos no santo lugar do tabernáculo temos características e ilustrações de coisas celestiais por causa da limitação do homem.

Todo o Velho Testamento nos dá estas lições objetivas, porque o homem por natureza não pode entrar nas realidades de coisas divinas. Deus somente poderia falar ao homem sobre coisas celestiais por meio de representações terrenas. Ele tinha que ensinar ao homem como alguém ensina a uma criança, lhe dando estas imagens e parábolas de coisas divinas. Esse é o significado do 'santo lugar'. Ninguém era permitido entrar pelo véu, o qual separava o santo lugar do santo dos santos, e os quais eram tipos da terra e céu.

Agora Israel era para transmitir pela sua vida uma ilustração, um modelo de coisas de Deus. O que aconteceu com Israel é uma parábola para nós. Portanto, a história de Israel é tão significante para nós que, à luz do Novo Testamento, somos capacitados a ver nestes tipos do Antigo Testamento como realidades divinas.

Uma vez ao ano, no dia da expiação, o véu era levantado. Após muitas preparações o sumo sacerdote era permitido entrar no 'santo dos santos'. Mas era apenas uma vez ao ano e depois era fechado novamente. Mas o dia da expiação falava de algo mais profundo nas intenções de Deus. Esse dia estava apontando para o fato de que, segundo a vontade de Deus, o véu não era para ficar para sempre, mas que haveria uma expiação através da qual o céu iria se manter aberto para sempre.

Quando Cristo morreu na cruz o véu foi rasgado. O que Deus tinha planejado desde antes dos tempos eternos, foi realizado Nele. Agora o caminho para Deus está aberto para sempre! Em Cristo o véu rasgado abriu o caminho. Ele veio na carne, como o Filho de Deus, para realizar essa obra que ninguém poderia realizar. Em Cristo ressurreto não existe mais o véu. Como Filho do Homem Ele aceitou nossa limitação humana. Como Filho do Homem Ele foi o HOMEM representativo. Mas como Filho de Deus Ele estava ligado ao céu. Em Sua pessoa Ele era o véu do tabernáculo. Ele permaneceu entre o céu e a terra. Ele permaneceu entre a limitação do homem e a plenitude de Deus, entre os tipos e as realidades. Quando Ele viveu entre os homens, Ele falava em parábolas de coisas celestiais, por causa das limitações do homem, que era incapaz de apreendê-las. Assim Ele trouce coisas celestiais em formas terrenas. Ele disse: “Se, falando de assuntos da terra, não me credes, como crereis, se vos falar dos celestiais?” O que Ele quis dizer foi: “Se coloquei coisas celestiais na forma de parábolas e tipos terrenos, e você não entendeu, como você vai entender se Eu falar contigo numa linguagem celestial!”

Agora todas estas limitações já passaram. Cristo é em verdade 'o caminho'. Ele entrou, através do véu da Sua carne, para o santuário mais profundo, o santo dos santos, e abriu o caminho. É Cristo crucificado que é o caminho para nós na imediata presença de Deus.

E quando Ele diz: “Sou a verdade”, significa: tudo que você vê são senão tipos e símbolos servindo como imagens. Não são as coisas celestiais nelas mesmas. ELE é a realidade de todas estas coisas. NELE temos a realidade. Os sacerdotes ficavam ocupados no tabernáculo, ano trás ano, mas as suas obras eram obras 'mortas', as quais nunca poderiam conduzir a uma união viva com Deus. Agora Cristo disse: “Sou a vida”. Somente em Cristo há vida. O sangue de touros e bodes, e a vida nesse sangue foi apenas uma recordação, um tipo. Ninguém senão Cristo pode dar vida. ELE é a realidade viva.

Agora vemos o céu e a terra unidos em Cristo ressurreto e ascendido. Ele é o mediador. Ele é a escada que Jacó viu no seu sonho, e sobre a qual os anjos de Deus subiam e desciam. O Senhor se referiu a isso quando falou para Natanael, dizendo: “vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem”. O que era senão um tipo em Betel se tornou uma realidade viva em Cristo. Ele está unindo o céu e a terra. Nele – nos dois lados de Sua natureza – Deus e o homem são reunidos, o céu e a terra são unidos. Ele é o caminho, o único caminho de comunicação para o céu e a terra. União com Cristo significa viver debaixo de um céu aberto, na presença de Deus, e em toda a realidade de uma nova vida.

O Espírito Santo nos é dado nesse terreno. Ele veio sobre o Senhor Jesus após o Seu batismo no Jordão. Os céus se abriram e o Espírito Santo descendeu sobre Ele. Agora Cristo ressurreto significa um céu aberto. O Espírito da Unção vem sobre nós porque O que foi crucificado é ressurreto. Ele vem até nós de um céu aberto que o Filho de Deus abriu para nós.

Mas qual era o valor da unção? É para nos trazer para uma união celestial com Deus. O Senhor Jesus disse: “quando o Espírito... vier, Ele vos guiará em toda a verdade”. E João confirma isto ao dizer: “A unção que Dele recebestes... vos ensina sobre tudo que precisais saber”. Isso é representado pelos anjos subindo e descendo. O Espírito Santo está se comunicando conosco, mas Cristo é a escada, que vai desde a terra ao céu. Onde está essa escada? Não está no mundo. A escada está estabelecida nos nossos corações, Cristo mesmo, conduzindo-nos até a mesma presença de Deus. O Espírito Santo se move em relação a Cristo para nos trazer em comunhão com Cristo, justamente como Cristo está em comunhão com o Seu Pai.

A suficiência total de Cristo é assegurada para nós nessa base. Estamos nos celestiais, porque Cristo está em nós. Se estamos ligados à Sua pessoa, as limitações somem. Há uma comunhão direta e imediata com Deus, e o Espírito Santo pode revelar para nós coisas celestiais.

Assim entendemos o que quer dizer receber tudo diretamente de Deus em Cristo. Cristo em nós significa um conhecimento interno de Deus, um relacionamento de coração com Ele. É uma vida interna de Deus, um poder interno de Deus. Mas isso é um mistério que o mundo não conhece, nem pode. Não pode entender que nosso Senhor Jesus quis aceitar exatamente a mesma base de vida com suas limitações nas quais vivemos, embora sem pecado. Contudo, em comunhão com o Seu Pai, Ele continuamente penetrava estas limitações, e vencia elas ao extrair toda Sua provisão, toda a plenitude de Seu Pai somente. Sua suficiência estava no Seu Pai.
De modo que somos chamados a viver, pelo Espírito, uma vida triunfante sobre todas nossas fraquezas, uma vida em que Cristo é tudo, e em que Sua vitória é nossa vitória. A obra da Cruz está terminada. O véu está rasgado. O caminho está aberto.
Portanto, Cristo ressurreto no céu significa para nós um céu aberto em que tudo é possível para nós em Cristo, para que possamos glorificá-Lo. Todas as coisas nos são dadas Nele. E é a unção que nos ensina todas as coisas.


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